terça-feira, dezembro 23, 2014

Natal, 2014.


Imagem pessoal

Presépio

Nuzinho sobre as palhas,
nuzinho – e em Dezembro!
Que pintores tão cruéis,
Menino, te pintaram!

O calor do seu corpo,
p’ra que o quer tua Mãe?
Tão cruéis os pintores!
(Tão injustos contigo,
Senhora!)

Só a vaca e a mula
com seu bafo te aquecem...

 – Quem as pôs na pintura?


Arrábida, 24 de Dezembro de 50

de, Sebastião da Gama 
in “Pelo sonho é que vamos” a páginas 25


Aos meus amigos, comentadores e visitantes que me acompanham nesta jornada bloguista o meu agradecimento por estarem comigo e o desejo de umas festas natalícias em ternura, harmonia e, acima de tudo, com saúde.
Um grande abraço a todos

 Otília Martel



domingo, novembro 23, 2014

in memoriam

[...]
Quando um homem interroga a água pura dos sentidos e ousa caminhar, serenamente, os esquecidos atalhos de todas as memórias, acontecem viagens — viagens entre o quase tudo e o quase nada.
[...]

A maioria de quem segue a poesia falada reconhece-lhe a voz.

Mas José-António Moreira era também um escritor que, na sua timidez, não fazia eco disso.
Descobri a sua escrita por acaso, há anos, no PodCast do Sons da Escrita e fiquei impressionada com a sua sensibilidade.
Partilho, homenageando-o, um dos textos que, para além de outros, mais me impressionou.

(Desligar a música do blogue para ouvir o vídeo)


Branco


Falo de uma ave que imaginei em sonhos, uma ave de uma beleza indescritível, muito além da elegância de um cisne branco, de um branco neve, como se toda a luz que nele incidisse pudesse ser reflectida para os nossos olhos aflitos.
Gosto dos cisnes! Talvez a forma esbelta não justifique tudo, talvez não seja só o branco puro que impressiona a vista. Talvez seja só a branda calma com que se movimenta, quase parado no equilíbrio perfeito sobre as águas do lago que lhe ponho à volta.
O branco é uma luz intensa, como um sol, um sol onde está escrito o destino de tudo.
No branco está a pureza do encontro, a exaltação do desejo, o caminho, os atalhos, o reencontro, o futuro e a paixão.
Sobre o branco escreve-se o amor.


Ao JAM
in memoriam (1950-2014)
Obrigada por tudo o que fizeste pela Poesia.

segunda-feira, outubro 27, 2014

o mar todo nos meus olhos

Edward Hopper

Hoje, que tenho o mar todo
nos meus olhos, subo à torre do farol
para avistar o perfil silente dos barcos
e adivinhar a indecisa linha
que separa a noite da madrugada.
A navegação costeira faz-se ao mar.
Reparo então que os pescadores
não precisam de mapas para a faina.
Têm talhado no rosto o rumo dos cardumes
 e uma rosa-dos-ventos engastada em cada mão.

de Espaço livre com barcos, 2014

a pág.s  23

sexta-feira, outubro 10, 2014

Olhos de Vida

Não tenho palavras para exprimir a comoção que provocou em mim o lançamento de Olhos de Vida, o meu segundo livro de poesia.

O evento realizou-se no magnífico espaço do Convento Corpus Christi e contou com animação musical do professor Orlando Mesquita e do Grupo de Violas e Cavaquinhos da USRM.

Momentos de eloquente declamação foram protagonizados por Alzira Santos, Cristina Pessoa e Eduardo Roseira.

A abertura do evento esteve a cargo de Teresa Gonçalves.

Prometo nas próximas postagens falar mais deste momento e de quem me acompanhou.

Começo por partilhar as palavras proferidas pela minha querida amiga Fátima Fernandes (Amita) e autora do Prefácio: 

(clicar nas imagens)

Apresentação “Olhos de Vida”

Foi através da blogosfera, inicialmente no Sapo, que comecei a ler e comentar a Menina Marota e a seguir o seu percurso poético.

Até que um dia, a meio de um sarau de poesia em Vermoim, ela entrou silenciosa e sentou-se, atenta, numa cadeira ao fundo da sala.

O Zé Gomes, coordenador da sessão, perto do final pediu que se identificasse.

Ao ouvirmos “Sou a Menina Marota”, todos nos voltámos para trás e sorrimos pois era sobejamente conhecida, estimada e respeitada no mundo virtual.

Assim foi iniciada uma grande amizade. E já lá vão longos anos….

Otília Martel caminha, desde mocinha, nos meandros da poesia com uma paixão imensurável.
A sua fértil inspiração levou-a à criação de vários blogues, como: Refúgio, Alma Minha, Eternamente Menina e Menina Marota (estando estes dois últimos em servidores diferentes).

Criou igualmente, sob anonimato, o blogue Poesia Portuguesa, apenas destinado à divulgação da obra de poetas portugueses desconhecidos do público.

Com a chegada do Facebook, a que aderiu, foi a fundadora do “Clube dos Poetas Vivos” para divulgação e incentivo à criação poética e que, presentemente, já conta com mais de 15.700 membros.

Lembro-me de uma citação de Eugénio de Andrade que disse: “Foi sempre pelos olhos dos nossos poetas que o português viu mais longe e mais fundo”.

Quando me convidou a fazer o prefácio deste livro “Olhos de Vida”, limitei-me a escrever o meu sentir ao ler os seus poemas e textos, pois, na minha opinião (claro!) já tudo tinha sido dito nos posfácios incluídos nesta obra, feitos por excelentes escritores e poetas, embora respeitantes ao seu 1º livro “Menina Marota, Um desnudar de Alma”.

Permitam-me a ousadia de aconselhar-vos a lê-los.

Cumpre-se-me acrescentar que, em “Olhos de Vida”, é notório o crescimento poético-literário da Otília.

Em simples palavras, ao ler a “escrevinhadora” (como ela gosta de se denominar), elevam-se-nos sentimentos de: generosidade, sensibilidade, sonho, emoção, dor pelos outros, contestação, versatilidade, sensualidade, paixão, saudade de tempos idos, introspecção, força que a move, Amor, amor e mais amor…
Tudo isto numa escrita subtil e de uma ternura imensa.

Sendo uma eterna buscadora do Belo (na essência dos outros e na sua), através da sua peculiar e encantadora escrita e sentir apurado, Otília Martel brinda-nos com mais uma excelente obra.

Termino citando Ana Hatherly:

 “Descobrindo-se, o poeta personifica, representa.
 Nos melhores momentos descobre o que nem sequer encoberto estava,
 porque o que ele faz é ver a oblíqua eloquência ou o encanto do que,
 sem ele, não seria.”

Obrigada, Otília!

Fátima Fernandes
     4.10.2014

terça-feira, setembro 30, 2014

Shirley M. Cavalcante entrevista Menina Marota (Otília Martel)

Otilia Martel - Entrevistada






por Shirley M. Cavalcante (SMC)

Os dados biográficos de Otília Martel são, enquanto escrevinhadora, a emoção que gosta de transmitir através das palavras que oferece a ler. 
É esse o seu verdadeiro cartão de visita.
Semestralmente, desde 2004 tem publicado na Revista Singularidades, Modos de Ser Inconformista.
Em 2008 edita o seu 1.º livro de poemas, Menina Marota Um Desnudar de Alma.
Ainda, em 2012, edita o segundo livro de poemas e pequenas histórias Olhos de Vida em versão digital para iBooks.
Foi representante portuguesa no Jornal Digital Mhário Lincoln do Brasil, entre muitos.
O seu nome consta em vários sites portugueses e brasileiros bem como em várias colectâneas integradas na internet.
Patrocinou vários Concursos de Poesia que deram a conhecer novos poetas entre Portugal e Brasil.
É detentora de 7 blogues maioritariamente dedicados à divulgação de poetas e poesia, entre eles Menina Marota. 

Boa Leitura!

SMC - Escritora, Otília Martel, é um prazer contarmos com a sua participação no projeto Divulga Escritor. Parabéns pelo lançamento de seu livro “Olhos de Vida”.  O lançamento de um livro costuma mudar a rotina de um escritor, conte-nos sua experiência de como a escrita vem moldando o seu dia-a-dia? 
Otília Martel  – Em primeiro lugar quero agradecer a oportunidade que me é dada de participar no projecto Divulga Escritor. São raras as publicações (pelo menos em Portugal) que ousam divulgar autores anónimos e, muito menos, os que escrevem poesia.
Por isso, os meus parabéns por este Projecto.
Escrever para mim é, desde muito jovem, uma libertação. Uma forma de, através das palavras, olhar-me e olhar o mundo que me rodeia.
A doença de um familiar muito próximo, de quem cuidei nos últimos catorze anos, moldou o meu dia a dia e procurei na escrita um refúgio de coragem e força para a minha própria sobrevivência mental. A escrita, nomeadamente a poesia, foram o balão de oxigénio da minha existência.  

SMC - Que temas você aborda nesta obra literária?
Otília Martel  – Temas sociais, da actualidade. Um olhar pelo mundo. A simplicidade. A família. O ser humano. E o amor em todas as suas vertentes.

SMC - Como foi a escolha do título para o livro “Olhos de Vida”?
Otília Martel  – Surgiu naturalmente. Pretendia um título que englobasse a visão do mundo que me rodeia, que transparecesse, num olhar, toda a argúcia que encontramos no universo interpessoal. Escrever é uma aventura que por vezes dói e abrange sentimentos transponíveis de factos e ideias.
"...
Esta noite
voltei a ser a rapariga
que foge dos sonhos,
olhando os olhos da vida,
mas que apesar de tudo
por ela quer ser seduzida
e deixar-se embalar."
in, Olhos de Vida

SMC -  O livro é composto por poemas ilustrados, pela ilustradora, Catarina Lourenço, temos uma ilustração para cada poema? Conte-nos um pouco sobre esta experiência.
Otília Martel  – Bem… começo por explicar que “Olhos de Vida” principiou por ser um desafio que me foi proposto pelo realizador André Gaspar que queria produzir um livro digital para iPad, que incluía som, vídeo, fotografias e… ilustrações. Foi através deste desafio que conheci a Catarina Lourenço. Após ter lido os poemas que disponibilizei para aquele desafio, a Catarina presenteou-me com ilustrações que me apaixonaram ao primeiro olhar. Nem todos os poemas foram ilustrados. Fica-se com o desejo de mais ilustrações, de aliar as palavras ao “movimento” que as ilustrações nos oferecem. Deixei ao critério da ilustradora o sentir a poesia e transmiti-la pelo risco e colorido das suas imagens.
Na actual versão em papel de “Olhos de Vida”, editada pela Modocromia, só a capa é que é a cores. As ilustrações interiores não são. Na versão digital as ilustrações são a cores. A quase candura e leveza que cada uma encerra, traduzem a sensibilidade criativa da Catarina Lourenço.

SMC - Podes nos dar um exemplo?
 Otília Martel  – É difícil dar um exemplo porque a significância de cada ilustração no que concerne ao poema retratado é de uma absoluta subtileza. Assim, de repente, lembro a ilustração do poema “Entre a lama e o amor”: a leitura da ilustração casa na perfeição com a leitura do poema.

SMC - Nossos leitores estão convidados para o evento de lançamento? Conte-nos onde vai ser?
Otília Martel  – Com certeza.  Todos os que possam deslocar-se  à margem esquerda do rio Douro, junto ao Cais de Vila Nova de Gaia,  local do evento. Será um prazer recebê-los.
O lançamento de “Olhos de Vida” ocorrerá num  monumento de grande valor patrimonial e arquitectónico, o Mosteiro Corpus Christi.
A sua edificação remonta a meados do século XIV; destaca-se, para visitarem, a Capela, o Coro-Alto e o Cadeiral, bem como a Arca Tumular de Álvaro de Cernache, alferes da bandeira da Ala dos Namorados na Batalha de Aljubarrota.

SMC -  Escritora Otília, onde podemos comprar o seu livro?
Otília Martel  – O livro poderá ser adquirido através do site da editora http://editoramodocromia.blogspot.pt/, pelo email da editora modocromia.editora@gmail.com ou ainda pedidos à autora através do email OMartel@sapo.pt
E ainda nas Livraria Barata, Bertrand, Porto Editora, Livraria Dargil, distribuído por Crivo das Letras.  

 SMC - Semestralmente, você escreve para a Revista Singularidades, que temas você aborda em sua coluna? 
Otília Martel  – Maioritariamente, poesia. A Revista Singularidades é editada em papel há vários anos e aborda vários temas: desde história social, ecologia e até a temas tão controversos como a violência na sua generalidade. É vendida em cidades como Lisboa, Porto, Faro, Paris, Bruxelas, etc.

SMC- Como você se vê no mercado literário em Portugal?
Otília Martel  – Uma gota no oceano de um mercado de difícil acesso. 
A poesia apesar de ser uma vertente literária muito citada (até por políticos), a sua divulgação está circunscrita a autores já consagrados e com facilidades de acesso às redes de comunicação social e jornalística.

SMC - Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista, agradecemos sua participação no projeto Divulga Escritor, muito bom conhecer melhor a Escritora Otília Martel, que mensagem você deixa para nossos leitores?
Otília Martel - De Esperança, o título do poema que vos deixo e que consta do meu primeiro livro de poesia “Menina Marota, Um Desnudar de Alma”

Desenha em ti
cores vivas
de felicidade
mesmo que adiada
mesmo que não consentida
não deixes que o negro
tome conta de ti.

Exala o perfume

das flores
o aroma dos frutos
e pinta a Vida
de mil cores
mil pensamentos
felizes
audazes
coloridos.

quarta-feira, setembro 17, 2014

Convite


A vossa presença será um alento para a minha alma. Desde já agradeço a quem possa comparecer.

(clicar na imagem para a aumentar)

sexta-feira, setembro 05, 2014

Seis anos depois...

...ouso apresentar  o  meu segundo livro de poemas com ilustrações de Catarina Lourenço e  chancela de Modocromia Edições

Olhos de Vida, poemas e pequenas histórias onde solto a minha alma de amarras e embarco nas palavras que ondulam o meu ser.   

A apresentação do livro está a cargo da minha querida amiga e poeta Fátima Fernandes, mais conhecida como Amita na Blogosfera.  

O Espaço Corpus Christi, no Cais de Gaia, foi o local escolhido para a apresentação de Olhos de Vida e irá surpreender pela sua magnitude e beleza.

O evento ocorrerá no próximo 4 de Outubro, pelas 17 horas e será abrilhantado pelo Grupo de Violas e Cavaquinhos da Universidade Sénior Rotary de Matosinhos e, ainda, pela voz e viola de Orlando Mesquita.

E ainda os declamadores:

Alzira Santos
Cristina Pessoa
Eduardo Roseira
Teresa Gonçalves

No final será servido um Porto d'Honra 





Espero que aceitem entrar comigo nesta aventura.
Obrigada 

segunda-feira, agosto 11, 2014

Destas manhãs...

Pintura de Helen Cottle 


Olho distraídamente os ponteiros luminosos. Sete horas!
Levanto-me de um salto acordando o Sting que, ensonado, me olha inquiridor.
Gosto destas manhãs quase outonais. A frescura que entra pelos poros. O cantar dos pássaros acordando o dia. A tonalidade do arvoredo que distingo para lá das janelas.
O aroma das flores ainda adormecidas que sinto embalar-me os sentidos.
Apetece-me escrever.
Não o que me vai na alma mas o que a natureza produz em mim.
Apetece-me os pés na areia fria da praia que percorro tantas vezes.
O cheiro suave da maresia confunde-se com o da terra ainda húmida da orvalhada da noite.
Há um memorando nos meus pensamentos que corre vertiginosamente dentro do meu olhar.
A melodia da manhã faz eco na paisagem onde vultos se destacam nos seus passos apressados.
Um bando de pombas em direcção ao levante segue a rota do seu destino.
Sinto-me no centro do mundo onde nada e tudo acontece. Uma paz invade-me.
Encontro-me comigo neste vaivém quase imaculado de um tempo que derrama no meu corpo todos os momentos sofridos.
Vôo
Em direcção ao mar.


segunda-feira, julho 21, 2014

Serenamente.

Anna Pavlova, photographer

Dia após dia
Serenamente
Embalo-me
nas águas calmas
da minha alma
Mergulho
no espírito da maré
Renasço
na ondulação do vento.

domingo, julho 06, 2014

A memória de ti...

MM e JP


A memória de ti calma e antiga
Habita os meus caminhos solitários
Enquanto o acaso vão me oferece os vários
Rostos da hora inimiga

Nem terror nem lágrimas nem tempo
Me separarão de ti
Que moras para além do vento.



Sophia de Mello Breyner Andresen,

  in “Mar Novo” 
(Assírio & Alvim)



JP 
(17/04/1955-20/04/2014)

sexta-feira, maio 30, 2014

Para além do Horizonte

Diz-me do horizonte que
não estás perdido
na flor que colheste
no olhar que deitaste na
mão que estendeste

Diz-me que a solidão
não é vida para ser vivida
que o medo não é para ser sentido
que a dor não te rebela o coração.

Diz-me que o sol
brilha no teu olhar
que a tua pele sente a sensação
no pulsar das flores em botão.

Diz-me que na tua alma de criança
brilha a lembrança de mil cores
em gargalhadas sentidas  na descoberta de amores
que florescem em marés de esperança.

Diz-me que para além do horizonte
ainda existes 
Diz-me...

 Responderei:
Que não te prometo
o céu
a terra
e a lua

Eu te prometo
o perfume de uma flor
a espuma do mar
num beijo quente
que te quero dar

Eu te prometo
o carinho
a doçura
dos meus olhos
para te olhar.

Eu te prometo
que nada posso prometer
a não ser o meu amor
que, para sempre,
te há-de pertencer.


Ao JP  (17/04/1955-20/04/2014)

                                 (Desligar a música do blogue para ouvir o vídeo)

quarta-feira, abril 09, 2014

Alheia à engrenagem

Ilha do Pico, cortesia de Abílio Henriques



Exponho-me na versão insensata de qualquer episódio.
Misturo as datas dos factos primordiais,
dos ritos de passagem,
do solstício, da lua nova.
Morro e nasço.
Desdobro atitudes,
evocando arautos de estranhas profecias,
alheia à engrenagem
montada por artífices de paradoxos e de teias. 

De Conjugar afectos, 1977

quarta-feira, março 05, 2014

Borboletas

Fechei o livro lentamente.  

Há muito que não lia o autor. E gosto verdadeiramente do que escreve, mas a vida é assim… às vezes de quem mais gostamos é que estamos deveras afastados.

O poema tocou-me, confesso. Trouxe-me memórias escondidas de sentimentos que imaginava esfumados. E borboletas soltam-se em desejos ignorados.


Ultimamente não tenho pensado em sentimentos ocultos, daqueles que queremos fingir não existirem, mas que estão lá na profundeza do ser.

Como aquele sentimento inexplicável de borboletas no estômago.

Com o livro ainda a meu lado, fecho os olhos. As borboletas esvoaçavam em meu redor, tocando-me calmamente o cabelo, o rosto, o corpo faminto de recônditos desejos, mãos invisíveis percorrem-me o corpo, fazendo-me sorrir.

Dentro do sonho o meu sorriso é outro. Como que iluminado por pensamentos que não escondo porque se manifestam no rosto visível, nas mãos que me tocam, nos lábios que me saboreiam a pele e na sensação quente que me percorre as veias. 

Adormeço no sonho.



BORBOLETAS

Noites sem sexo são perfeitas, também: janelas entreabertas,
sombras que passam na rua através das horas, relâmpagos
que não chegam a iluminar as paredes do quarto. Românticos
que se encontram depois de viver vidas paralelas, cansados

– mas enlaçados antes que chegue a hora de partir, sem saberem
se amanhã há outro sono igual, ou uma escolha para fazer.
Os dois sabem que são doidos, estendem os dedos na escuridão
entre as luas. Os dois sabem que mais adiante podem arder
de repente no meio do Verão, consumidos pelos segredos

e pela indiferença. Noites sem sexo são perfeitas, também;
e raras, e condenadas e incompletas. Borboletas no estômago,
batendo asas contra todas as paredes do corpo – não deixando
que ele adormeça, inquieto e insatisfeito, voltado para dentro

e para o passado. Românticos que se encontram quando nenhum
deles esperava outra oportunidade, outro caminho. Nunca estamos
preparados, diz um. Nunca estamos, repete o outro, quando
a primeira borboleta sossega depois de um beijo em dívida.

Poema de Francisco José Viegas, in "Se me Comovesse o Amor", 

pág. 36, Edição Quasi

domingo, fevereiro 23, 2014

Um poema em forma de tango

"Tango Flamenco" óleo de Andrei Protsouk


Dou-te a minha mão
Prendes os meus dedos nos teus
E nesse entrelaçar que nos liberta
Uma dança fazemos.

Sentes este tango que te percorre os dedos?
Entrego-te a minha boca
Nos teus lábios amordaças os meus
E nesse beijo que nos incendeia
Uma sombra abatemos.

Porque sinto o Sol a percorrer-me o corpo, sem medos?
A ti me dou em forma de palavras
Para que nos teus sentires, despertes os meus
E nessa paixão que nos enlaça
Um poema satisfazemos.

Um poema...

Este poema mágico que sentimos dentro de nós

As tuas palavras com que saboreias a minha alma.

sexta-feira, fevereiro 07, 2014

No silêncio da noite

Dança comigo
o desejo do teu corpo
o beijo rebelde
em teus lábios quentes.

Dança comigo
a loucura do momento
o sorriso do orgasmo final.

No silêncio da noite
dança comigo.

E sussurra-me
palavras de amor…




Desligar, por favor a música de fundo do blogue para ouvir o vídeo.
Obrigada

sexta-feira, janeiro 31, 2014

De repente



E se, de repente,
o sol ajoelhasse a teus pés 
e prometesse
não mais
deixar de raiar?

E se, de repente,
a fúria do mar acalmasse 
e prometesse
não mais
provocar destruição?

E se, de repente,
o coração dos homens florisse 
e prometesse
não mais
provocar dor nos outros homens?

E se, de repente,
não mais
fosse preciso prometer
porque no mundo só o bem
ia prevalecer?

não mais,
guerras, fome, destruição,
a acontecer!

Assim… de repente!

quarta-feira, janeiro 08, 2014

Ousadia

Vazia
minha alma
de pensamentos amorfos.

Cheio
meu coração
de sentimentos felizes.

Quedo-me
levitando na imaginação
da ousadia do sonho.

Amanheço
nos teus olhos como borboleta
nas pétalas de uma flor.

Anoiteço, sorrindo.



Ao meu neto Luca que fará 1 aninho no próximo mês

   (desligar a música de fundo para ouvir o vídeo, p. f.)

quinta-feira, janeiro 02, 2014

Ei-lo:


2014!

Festejado por muitos, ignorado por aqueles para quem tudo continuará igual, ele chegou, em estrondo e festejos.

Confesso que o festejei em cima de uma cadeira, erguendo bem alto a taça dos meus desejos, com o meu neto Luca ao colo da mãe, sorridente e espantado, com tanto banzé. 

Que posso dizer que já não tenha sido dito ano após ano?

O melhor de tudo o que é possível é o que vos desejo!




Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só a metade
E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
Sempre a sonhar
E vendo,
Acordado
O logro da aventura
És Homem, não te esqueças!
Só é a tua loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.


Poema de Miguel Torga in, “Diário XIII”



 Feliz Ano Novo




PS: ... desejo ainda que em 2014 o euromilhões fique muitas vezes em Portugal para que faça feliz muitas famílias portuguesas, em especial... a ti, a ti, a ti, a ti... que me lêem. :)