(...) Chamam-lhe tribo, uma tribo, não sei bem qual é a definição de tribo, mas adoro esse nome. Dá-me a sensação de liberdade, de Gente livre, de gente que gosta de viver, que sente a vida, que se sente.
Se no Português há uma palavra que não tem tradução, “Saudade”, no Inglês há uma outra que traduz sentimento, mas é enorme de alma, não de tamanho, Feeling.
As tribos são Feelings que transmitem saudades, claro de quem está e de quem esteve, sentimentos, conhecimentos e vivências.
A tribo que vos falo vive isolada, ao contrário do que possa parecer, dos seus movimentos, sempre diferentes, fora de rotinas.
As parecenças com os índios são enormes: qual é a primeira visão que se tem quando se fala num índio?
As suas pinturas, claro, os seus rituais de guerra, de paz, religiosos e espirituais.
A tribo do mar também se pinta, também tem a natureza como pano de fundo e como religião, galopam ondas sem fim, dropam movimentos de liberdade.
Não há selhas nem selas, só o dorso, não há esporas, só agilidade.
A espera também está presente, chamam-lhe mais paciência, esperam as ondas no seu SPOT, ou de outros lugares esperando o sete perfeito.
Há quem espere uma onda uma vida, há outros que a seguem pelo mundo, pelos oceanos, a vida inteira.
Seria estúpido se dissesse que muitos não as encontram, seria mesmo muito estúpido.
Esta é a minha maneira de ver, porque a onda perfeita está dentro de nós, é o que sentimos quando na ultima braçada fechamos os olhos e nos encontramos no LIP, quando os abrimos já pertencemos a uma outra realidade, o nosso corpo já não nos pertence, o nosso pensamento está suspenso, há um silêncio à nossa volta, só se sente o rasgar da água, a nossa visão perde-se por nós, não há cheiros, mas há um paladar, um sabor, sabe a mar, sabe a sal, sabe bem.
As tribos são vadias, vagueiam como as vagas.
Voltando atrás, à ultima braçada, quando fechamos os olhos, estamos no LIP, sentimos a força da onda, sentimos a prancha a ser tomada, o bottom a deslizar, por uma incrível força, quando pouco ou nada há a fazer, de um só pulo, em conjugação com os braços, que se jogam ao equilíbrio, os pés tomam o seu lugar no Deck, o corpo ganha forma, nas costas um Swell maravilhoso. Ondas, vagas, vadias, ondas que se tomam mas nunca se conquistam. São como o vento, como as tribos, livres, de tudo e de nada, mas o Drop, naquela onda, fica sempre aquela imagem e o seu sabor.
O ponto de equilíbrio que se descobre é igual ao nosso ponto de equilíbrio espiritual. Uma imagem Una e única, claro, aquele leque de água, aquele Tail Slide, que deixa na crista da onda no seu Lip, deitam mil gotas de sal que se evaporam no ar.
Aquela dança, aquele bailado, os riscos que deixa à sua passagem, riscos de espuma, pintados, numa tela em constante mutação, em perfeitos rabiscos que mudam de cor, como se fosse uma partitura de música, música para uma sinfonia cheia de cor, imagens e silêncios, aqueles silêncios que fazem os grandes momentos.
Naquele espaço, onde tudo vagueia, onde as tribos procuram rituais de prazer, onde os elementos se seduzem, vive a nossa profundeza, a nossa pureza, vive a fronteira entre o caos e a organização, onde a destreza da nossa mente vence a letargia do conformismo. (...)