Bebo este café que as tuas mãos
me oferecem. Sabor de todas as mães ainda grávidas,
leite de lava vegetal, esplendor negro
no fruto branco do olhar.
Hoje é um dia igual a dias tão iguais,
café nos lábios, sol lavado, uma leitura,
jornal e poema. Oposição clara dos olhos à celebração
do corpo. Tomo este café
num tempo de obscuras certezas, de claríssimas dúvidas,
o tronco inclinado para o dia,
a voz merecendo-se, o peito em busca de respostas.
Uma palavra jovem, imediata, livre,
reúne todos os meus ossos. A língua desce
os degraus do açúcar. Sorvo a sorvo,
identifico-me, saúdo-te.
À mesa do amor.
Poema de Joaquim Pessoa in À Mesa do Amor (1994)
Ilustrações de Isabel Mendes Ferreira
Ilustrações de Isabel Mendes Ferreira
Imagem de Alaya Gadeh