"Vale a pena apreciar…"
A palavra foi dita numa excitação tal, que fiquei francamente revoltada e exclamei num grito:
- Não é possível que esta mulher saiba o que está a dizer!
Ficámos todos ali a olhar o cenário desolador enquanto, por coincidência ou não, a palavra foi sucessivamente cortada e a jornalista, não acabou de fazer as suas considerações.
Numa outra notícia, uma outra mulher dizia tranquilamente:
- "Estamos à espera que o fogo chegue à Nacional…"
…como se estivesse esperando uma coluna de ciclistas!
Não quero acreditar que esta seja a forma mais ética, mais convicta de fazer jornalismo.
Até que ponto vai o direito de informar sem especular, sem emitir opiniões de valor, ou comentários ridículos?
Sempre tive o máximo respeito pela isenção de um jornalismo sério, feito com a convicção de que trazer a verdade da notícia ao Mundo, sem especulações e acima de tudo, com profissionalismo, era a melhor forma de dar a notícia.
Porque o Jornalista, quanto a mim, está ali para informar, não para fazer juízos de valor e, muito menos,comentários jocosos, seja a que propósito for.
Este não é um Blog de opinião.
E, muito menos político. É um Blog de sentimentos.
E porque se trata de um sentimento,que já não consigo calar dentro de mim, resolvi deitá-lo para fora do meu peito.
Não me move qualquer outro tipo de interesse, a não ser fazer sentir a minha revolta de Mulher, Cidadã e Portuguesa, por tudo aquilo que está a acontecer neste momento, no meu País!
Não posso mais calar a revolta que sinto em mim, quando vejo o meu País a arder, como se de lixo se tratasse! Não posso calar mais a revolta, quando vejo a morte, a destruição ser tratada, como se de um grande espectáculo se tratasse!
Não posso mais calar a minha revolta, que aqueles que deveriam estar a guiar os destinos de País, o abandonem às mãos de interesses sujos, enquanto gozam as férias, num paraíso qualquer!
Basta! Não posso calar mais a angústia, de ouvir as sirenes, de ver a correria de homens exaustos, de populações desesperadas, de terra queimada, perante a inoperância de um Governo que está a banhos!
Não me move qualquer interesse político, de quem quer que esteja no Governo. Se este ou aquele partido.
Não me interessa se a culpa foi ou é, de uma política florestal errada.
Não me interessa que hajam pessoas ou entidades, que estejam a tirar dividendos de todo este horror, a começar pela própria Comunicação Social, aos mentores do fogo posto. Esse assunto, guardar-se-á para mais tarde.
Interessa-me acima de tudo, saber porque não se usam todos os meios disponíveis no País, porque não é chamado o Exército a ajudar as populações, com a sua maquinaria, os seus homens, dando descanso a quem anda exausto, a quem já quase não tem forças para lutar!
O que é preciso acontecer ainda mais, para que o Governo decrete Calamidade Pública e chame a si a coordenação de um trabalho, que a não ser feito o mais rapidamente possível, irá trazer consequências desastrosas para o Povo Português?
Quantas mais pessoas terão que morrer? Será que o fogo terá que dizimar uma cidade, para se tomarem providências?
Porque não se pede ajuda externa, se não temos capacidade, para combater esta calamidade?
Não posso calar por mais tempo a minha revolta, contra a inoperância, contra a "exploração noticiosa", de alguns abutres, que estão cada vez mais há espera das suas vítimas.
Basta!
Até que ponto vai o direito de explorar as notícias e o próprio Ser Humano?
Até que ponto o "espectáculo" deve continuar?
E, porque não sou daquelas pessoas que viram as costas às suas convicções, ao seu amor pela Terra que a viu nascer, ao Povo de que faz parte também, deixo aqui o meu grito de revolta e incompreensão.