A data do texto remonta a 20 de Abril de 2004 e resolvi partilhá-lo.
Uns, naturalmente. Outros, mais teatrais: os que assumem diversas personagens e
passeiam-se, camuflados na própria sombra, preferindo o anonimato dos papéis
obscuros.
Todos dentro do mesmo palco, interpretando um papel que colhe de cada
personagem aquilo que cada um gostaria de ser ou fazer fora do palco.
Há anos vi um filme que me marcou imenso. A envolvência do drama e dos
personagens de “Les uns et les autres”, de Claude Lelouch em torno de um palco
de recordações perpetua-se na minha memória e sinto algumas cenas dilatarem-me
o coração.
Mas o palco de que vos falo não tem, sem sombra de dúvida, os personagens
cativantes que aquele tinha. Antes pelo contrário.
Querendo parecer o que se não é, ou, o que se é, mas não o querendo admitir,
toda a cena deste palco permite aos personagens interpretarem o papel que mais
se adequa ao seu carácter e afins.
Palmas para todos eles…
Para os sensíveis. Para os lunáticos. Para os fanáticos. Para os poetas. Para
os deputados. Para os excêntricos. Para os filósofos. Para os grandes
mentirosos (mentir bem, é uma arte, que está na moda…). Para os alfaiates. Para os funcionários públicos. Para os independentes.
Palmas para os amorosos: os correspondidos e os que não são.
Palmas para os carteiristas: que escondem a cara e esticam a mão.
Para os orgulhosos: daquilo que são e do que não são.
Palmas ainda, para aqueles que não querendo grande relevância, se refugiam ao
fundo do palco, tímida e tranquilamente, cedendo aos outros, as luzes, os
beijos e as flores… e as palavras de circunstância.
Ouvem-se risos, aplausos e, gritos, também.
Cai o pano. Tranquilamente.
Nota: O próximo acto seguirá dentro de alguns instantes. Ou, quem sabe,
dentro de alguns anos.