Pintura de Jacob Collins
Se tenho dois pés
para caminhar por caminhos floridos
ou serras agrestes e sinuosas
duas mãos para segurar tudo aquilo que quiser,
duas mãos para segurar tudo aquilo que quiser,
menos o tempo que passou,
mas que delas me sirvo,
mas que delas me sirvo,
para afagar, comer e escrever
um coração a bater,
um coração a bater,
num corpo que estremece, a cada lágrima que vejo
nas crianças sem sorrir, nos pobres a pedir,
nas mulheres maltratadas, nos animais abandonados,
nas crianças sem sorrir, nos pobres a pedir,
nas mulheres maltratadas, nos animais abandonados,
nos cegos que caem nos passeios por arranjar
que, de tão estreitos serem,
nem uma cadeira de rodas lá pode permanecer
se tenho uma alma que acredita
nem uma cadeira de rodas lá pode permanecer
se tenho uma alma que acredita
num Deus que criou um dia o Universo,
e o fez à sua imagem e semelhança,
dando-nos as quatro estações do ano,
para que tirássemos o proveito de sentir a música da
natureza,
as cores das flores, o sabor dos frutos,
as cores das flores, o sabor dos frutos,
a sensação do mar no nosso corpo a bailar
se tenho dois olhos e com eles vejo o bem e o mal,
o poder destrutivo, a complacência de muitos,
o povo amordaçado das palavras que não diz,
os que sobem por caminhos errados
se tenho dois olhos e com eles vejo o bem e o mal,
o poder destrutivo, a complacência de muitos,
o povo amordaçado das palavras que não diz,
os que sobem por caminhos errados
e os que descem aos infernos
por não serem seus aliados
se tenho uma boca que tanto serve para beijar
se tenho uma boca que tanto serve para beijar
como para observar num grito de revolta
aquilo de que não gosta nas gentes egoístas
que, sem conta nem medida, oprimem os seus pares
se tenho um nariz que detecta o odor
aquilo de que não gosta nas gentes egoístas
que, sem conta nem medida, oprimem os seus pares
se tenho um nariz que detecta o odor
e me diz ser bom ou mau
o produto que eu quis
faço do ouvir o que quiser
faço do ouvir o que quiser
e com ele ouço somente os sons da natureza,
a música das almas singelas,
a melodia que o vento traz em palavras amenas,
verdadeiras, livres de hipocrisias e cinismos
e com elas desenho a pauta dos sons
que a música me oferece
na junção de sentimentos e poemas
e louvo o génio bendito daqueles que,
e louvo o génio bendito daqueles que,
na grandeza serena da vida, viveram.
Nota: Escrito ao som das Quatro Estações de Vivaldi,
na tarde de Sábado, 19 de Junho de 2010