Não é minha opção relembrar aniversários de morte. Gosto de
festejar a vida mesmo que até nem haja muito para ser festejada.
Novembro foi o mês do desaparecimento físico de Fernando Pessoa que deixou vivos, e bem vivos, os personagens que a sua mente prodigiosa criou.
Algum dia o próprio imaginaria o impacto que a sua poesia tem na conjectura da vida e das pessoas?
Quando estou triste, busco Pessoa. Quando estou alegre, busco Pessoa. Quando estou preocupada, busco Pessoa... e encontro sempre uma palavra que me conforta.
Por vezes penso que o seu conforto era ele próprio e todos os heterónimos que inventou, até aqueles que nem são tão conhecidos...
Que escreveria ele, hoje, se fosse vivo? Que escreveria do País, das pessoas e das circunstâncias subjacentes a todos os acontecimentos nacionais e internacionais?
Novembro foi o mês do desaparecimento físico de Fernando Pessoa que deixou vivos, e bem vivos, os personagens que a sua mente prodigiosa criou.
Algum dia o próprio imaginaria o impacto que a sua poesia tem na conjectura da vida e das pessoas?
Quando estou triste, busco Pessoa. Quando estou alegre, busco Pessoa. Quando estou preocupada, busco Pessoa... e encontro sempre uma palavra que me conforta.
Por vezes penso que o seu conforto era ele próprio e todos os heterónimos que inventou, até aqueles que nem são tão conhecidos...
Que escreveria ele, hoje, se fosse vivo? Que escreveria do País, das pessoas e das circunstâncias subjacentes a todos os acontecimentos nacionais e internacionais?
"O que há em mim é sobretudo cansaço"
O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...
Álvaro de Campos, in "Obras Completas" Fernando Pessoa,
Vol. I, págs 417/418.
O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...
Álvaro de Campos, in "Obras Completas" Fernando Pessoa,
Vol. I, págs 417/418.