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Quando um homem interroga a água pura dos sentidos e ousa caminhar,
serenamente, os esquecidos atalhos de todas as memórias, acontecem viagens —
viagens entre o quase tudo e o quase nada.
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A maioria de quem segue a poesia falada reconhece-lhe a voz.
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A maioria de quem segue a poesia falada reconhece-lhe a voz.
Mas José-António Moreira era também um escritor que, na sua timidez,
não fazia eco disso.
Descobri a sua escrita por acaso, há anos, no PodCast do Sons da Escrita e
fiquei impressionada com a sua sensibilidade.
Partilho, homenageando-o, um dos textos que, para além de
outros, mais me impressionou.
(Desligar a música do blogue para ouvir o vídeo)
Branco
Falo de uma ave que imaginei em sonhos, uma ave de uma
beleza indescritível, muito além da elegância de um cisne branco, de um branco
neve, como se toda a luz que nele incidisse pudesse ser reflectida para os
nossos olhos aflitos.
Gosto dos cisnes! Talvez a forma esbelta não justifique tudo, talvez não seja
só o branco puro que impressiona a vista. Talvez seja só a branda calma com que
se movimenta, quase parado no equilíbrio perfeito sobre as águas do lago que
lhe ponho à volta.
O branco é uma luz intensa, como um sol, um sol onde está escrito o destino de
tudo.
No branco está a pureza do encontro, a exaltação do desejo, o caminho, os
atalhos, o reencontro, o futuro e a paixão.
Sobre o branco escreve-se o amor.
Ao JAM
in memoriam (1950-2014)
Obrigada por tudo o que fizeste pela Poesia.