Salvador Kidd é o meu jovem e alegre vizinho, num local cheio de ilhéus lindos e onde cada um de nós vive na sua ilha privada; o seu rosto quase infantil, adornado por uns belos olhos azuis, contrastava com o corpo enérgico e musculado, que deveria fazer a delícia de muitos olhares.
É um vizinho atento e observador, como o provou das variadíssimas vezes em que me ajudou em muitos arranjos da casa que chegou a ser o... meu sonho irrealizável.
Sentia-o triste muitas vezes, mas nada lhe perguntava e assim íamos cimentando a nossa amizade por entre as frondosas árvores da ilha.
Quando tive que me ausentar durante algum tempo, sabia que ele manteria a casa sob vigilância mesmo nada lhe tendo pedido.
Do alto do meu morro, algum tempo depois do meu regresso, reparei nas grandes mudanças existentes no seu terreno.
Quando me veio cumprimentar adivinhava-se alegria na sua voz e foi no mesmo tom que lhe perguntei:
-"Então Salvador, grandes mudanças aqui…" foi com a sua gargalhada de menino traquina, que tanto me fazia sorrir, que me respondeu na sua voz pausada e firme:
-"Sabes, conheci uma miúda fabulosa… não consigo deixar de pensar nela"
-"E já lhe disseste isso?” perguntei com um sorriso
-"Não…"
-"Então porque esperas? Força..." e deixei-o no seu trabalho, feliz, por o "meu" menino ter recuperado a alegria.
Dias mais tarde, ao regressar de novo a casa, após nova ausência, ouvi a sua voz:
-"Olá… posso levar aí a Jessica para a conheceres?"
-"Claro, com todo o gosto", respondi alegremente
Foi o começo de uma empatia e ternura por aquela que, presentemente, me trata carinhosamente por "madrinha", enquanto acompanhava, à distância, o namoro deles e assistia às suas brincadeiras juvenis na praia ou nas tardes passadas entre as duas, falando de questões muito próprias de mulheres.
As suas brincadeiras faziam-me rir e as palavras carinhosas que trocavam mesmo à minha frente, lembrou-me tempos idos em que, alguém, também carinhosamente, me tratava com a meiguice dos tempos de namoro.
Como é belo o amor… pensava quando os ouvia juntos.
Até que um dia a voz de Jessica exultava... "O Salvador pediu-me em casamento…" e exibia orgulhosa o anel, onde um S se destacava na pedra que brilhava… e contou-me todos os pormenores daquele momento mágico.
Sorri com a felicidade dela, colhendo-a um pouco para mim; afinal, nos sonhos dos outros, também podemos ser felizes.
Salvador Kidd e Jessica Broono, são personagens que vivem no mundo real, mas que sonham, vibram, confiam, partilham mundos encantados onde existe, realmente, uma dádiva única… conseguirmos tocar a sensibilidade de cada um dos intervenientes.
Grata a ambos pela amizade e disponibilidade e de me terem, igualmente, dado o privilégio de vos conhecer.