Não sei quando lhe perdi o caminho de casa.
Sei que ao reencontrá-lo as suas palavras brotaram como pétalas baloiçando na suave brisa do mar.
Ei-la na magia que a sua poesia nos oferece...
Pintura de Arthur Rackham
ah a cor da noite
de todos os animais
solitários. lenta aparição.
corações feridos na travessia
dos prados quietos.
sombras inclinadas ângulos
rarefeitos na treva.
o céu a tragar a treva
os ramais sem rumo.
cães acossados na nudez do lugar
atravessam a geografia do deserto
inteiro. em nebulosa romaria.
por dentro das grutas insones
pesam as pálpebras líquidas
despenhadas na ausência.
há os amantes no silêncio claro da lua.
nas peles desnudas tacteiam
um instante. um fim de solidão.
há mãos que derivam na escrita
nas sílabas crepusculares
intentando réstias de memória.
ah as vozes invisíveis
antigas no medo límpio.