Abro os olhos lentamente. O som da chuva embala-me
ainda no sonho onde caminho.
Uma ténue luz incide no espelho ao fundo da cama.
A gata siamesa continua em cima das minhas pernas. Tento sacudi-la levemente
mas esboça um ligeiro movimento e mete a cabeça no pêlo sem me ligar nenhuma.
Chega-me um ruído abafado através da chuva, como se tambores estivessem tocando
ou pássaros passeando pelo telhado em busca de abrigo.
No tempo das monções a chuva é repentina e o tempo areja de tal forma que o ar
fica leve como se toda a poeira cósmica desaparecesse por milagre.
O dia clareia, mas continuo no encantamento da melodia da chuva e do ruído das
palmeiras de dendém, no jardim, como se quisessem embalar o meu sono de novo.
Sacudo definitivamente a gata das minhas pernas e, descalça, corro para o jardim.
Nisto, o toque da campaínha... ou será do relógio do hall dos quartos?... ressoa, e
abro os olhos.
O meu fiel Sting, ainda sonolento, olha-me estranhamente. A sacudidela dirigida
à gata acordara-o provavelmente.
O relógio dá as horas. Conto as badaladas: seis.
O silêncio é quebrado pelas batidas da chuva na clarabóia.
Faço um afago no Sting e, baixinho, digo-lhe para continuar a dormir que ainda é cedo.
Sentir as palmeiras do jardim a abanar, fora somente um sonho e fecho os olhos
de novo.
Ao longe, o batuque dos tambores continua…