segunda-feira, dezembro 30, 2013

… e 2013 está a findar.


Juntos, percorremos, nesta página virtual, vários momentos que nos alegraram ou entristeceram. É assim a vida e continuará a ser. Triste e alegre. Alegre e triste. 

Balanços de vida onde a esperança deverá ser a última a finalizar.

O saldo que se transfere para o ano que está a chegar, a muitos, é negativo.

O meu, confesso, é positivo: 2013 trouxe-me venturas que pensei nunca alcançar. E, transmuto-as, para os anos vindouros enquanto em mim tiver um sopro de vida.

Carpe diem.




Uns, com os olhos postos no passado,
Vêem o que não vêem: outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, vêem
O que não pode ver-se.

Porque tão longe ir pôr o que está perto –
A segurança nossa? Este é o dia,
Esta é a hora, este o momento, isto
É quem somos, e é tudo.

Perene flui a interminável hora
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos. Colhe
o dia, porque és ele.

Odes de Ricardo Reis,
 in "Obras Completas" de Fernando Pessoa,
Volume I, a págs. 291



domingo, dezembro 22, 2013

É quando um homem quiser...

Com um abraço de carinho, desejo a visitantes, comentadores e, amigos em geral, Boas Festas na partilha dos afectos que nos une.   



Tu que dormes a noite na calçada de relento
Numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
És meu irmão amigo
És meu irmão

E tu que dormes só no pesadelo do ciúme
Numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
E sofres o Natal da solidão sem um queixume
És meu irmão amigo
És meu irmão

Natal é em Dezembro

Mas em Maio pode ser

Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da mulher

Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
Tu que inventas bonecas e combóios de luar
E mentes ao teu filho por não os poderes comprar
És meu irmão amigo
És meu irmão

E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
Fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
És meu irmão amigo
És meu irmão

Natal é em Dezembro

Mas em Maio pode ser

Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da mulher

Poema de José Carlos Ary dos Santos


quinta-feira, dezembro 12, 2013

Dezembro

Último mês de um final que se anuncia
E voltam todos os outros envoltos nos mistérios em que se designam
E voltam as palavras e os desafios
E voltam os homens de boa e má fé
E voltam os sorrisos e as lágrimas
E voltam as promessas
(As que se cumprem e as que nunca se cumprirão)
E volta a Primavera e o Verão
E volta o sonho e a angústia
E sobe o poder e a fome continua
Voltam a verdejar as folhas que no chão caíram
E nos ramos agora despidos as flores recomeçam a florir.
Outro ciclo se inicia.

 

"Não te esqueças de mim,
dizem os homens uns aos outros,
afastando-se."
(Casimiro de Brito)

segunda-feira, novembro 25, 2013

na brisa do vento

Pintura de Dorina Costras

Sonho-me
menina em flor
na brisa do vento
num tempo de amor.

Passeio-me
para lá do horizonte
onde as flores dão frutos doces
e os ramos ondeiam como pássaros
sulcando o céu do entendimento.

Liberto-me.
Promessa alada em meu sentir.

segunda-feira, novembro 18, 2013

No silêncio da noite...

Pintura de Irina Souchelnytskyi

Escrevo-te
nas margens de um rio
por abraçar

Escrevo-te
na aragem de um tempo
por atravessar

Escrevo-te
no silêncio da palavra
por quebrar

O verso das minhas mãos
escreve-te nas entrelinhas…



segunda-feira, novembro 04, 2013

Amanhecendo


Abro os olhos lentamente. O som da chuva embala-me ainda no sonho onde caminho. 

Uma ténue luz incide no espelho ao fundo da cama. 

A gata siamesa continua em cima das minhas pernas. Tento sacudi-la levemente mas esboça um ligeiro movimento e mete a cabeça no pêlo sem me ligar nenhuma.

Chega-me um ruído abafado através da chuva, como se tambores estivessem tocando ou pássaros passeando pelo telhado em busca de abrigo.

No tempo das monções a chuva é repentina e o tempo areja de tal forma que o ar fica leve como se toda a poeira cósmica desaparecesse por milagre.  

O dia clareia, mas continuo no encantamento da melodia da chuva e do ruído das palmeiras de dendém, no jardim, como se quisessem embalar o meu sono de novo.

Sacudo definitivamente a gata das minhas pernas e, descalça, corro para o jardim.  

Nisto, o toque da campaínha... ou será do relógio do hall dos quartos?... ressoa, e abro os olhos. 

O meu fiel Sting, ainda sonolento, olha-me estranhamente. A sacudidela dirigida à gata acordara-o provavelmente.  

O relógio dá as horas. Conto as badaladas: seis.

O silêncio é quebrado pelas batidas da chuva na clarabóia.  

Faço um afago no Sting e, baixinho, digo-lhe para continuar a dormir que ainda é cedo.  

Sentir as palmeiras do jardim a abanar, fora somente um sonho e fecho os olhos de novo.


Ao longe, o batuque dos tambores continua… 


  


sexta-feira, outubro 25, 2013

Reminiscências...

Um pouco de loucura nunca fez mal a ninguém, dizia o meu avô.

Recordo bem, apesar de ser bastante pequena (também não cresci muito mais, ok, concordo, eheh), das palavras dele quando o meu pai o censurava pelas suas saudáveis loucuras.

Ele era uma pessoa extremamente positiva e alegre. Só via o lado bom dos outros e alinhava nas minhas brincadeiras, escondendo, algumas vezes, as traquinices que eu ia fazendo.

A sua imagem está viva em mim. Cada vez mais.

Não será alheio o facto de eu também já ser avó. A desejar que o tempo passe depressa para viver o meu neto em pleno e a fechar os olhos, como o meu avô fazia, a algumas traquinices próprias da idade.

Recordo a sua voz forte mas que se tornava meiga quando falava comigo. Recordo os passeios por Sintra e, acima de tudo, recordo férias passadas na aldeia que me trouxeram o amor pelos animais, pela liberdade da natureza, pelos banhos no rio, pelas tardes calmas quando lia em voz alta ou contava as suas fantásticas histórias de juventude e o seu amor pelos cavalos.

Ou quando lançávamos papagaios de papel na Praia das Maçãs…

Vieram-me à memória todos estes pensamentos enquanto olhava, pela janela, o mar no horizonte.

Tempos felizes que recordo com um carinho absoluto. Reminiscências de uma época que me parece tão próxima como se o tempo tivesse parado.

Pintura de Jimmy Lawlor

As palavras são 
como gotas de água.
Lentamente, 
vão criando
um calmo lago
de recordações
dentro de nós,
transformando-o,
velozmente,
num mar de emoções. 

quinta-feira, outubro 03, 2013

Entre o objectivo e o subjectivo

A chuva ajuda a apagar o calor da terra e os espíritos mais incendiários.

O som dela e do piano acalmam-me.

Penso nos momentos descontraídos da minha infância, na terra do pôr-do-sol, com os seus cheiros, cores e sabores tão especiais.  

Lembro os amigos que nunca mais vi. Lembro as mãos que nunca mais apertei.

E lembro o som do casco dos cavalos no mar da "minha" Ilha levantando gotas pequeninas de chuva que molhavam o cabelo e eu gargalhava feliz desafiando os outros cavaleiros para uma corrida.

Tão longe e tão perto esses momentos.
  
Decisões de vida se tomaram e me transportaram a uma realidade outra.

E nessa realidade sobrevivo a cada dia no âmago de destinos que se cruzam mesmo sem os pedir.

Olhar destinos passados, presentes e futuros, realçando o objectivo e o subjectivo que eles encerram faz-me desejar não perder as forças e manter-me à tona do desfecho final.

 (desligar a música de fundo para ouvir o vídeo, p. f.)




quarta-feira, agosto 28, 2013

No suspiro da noite

Pintura de Marci Mcdonald    


Floresces-me no poema
retido no céu-da-boca
água de nascente  
molhando os bicos do monte
inebriados pelos caminhos
que conduzem à seiva da rosa.

Quarto crescente de
uma lua de estrelas,
em ramos entrelaçados,
faiscando na fogueira
de todos os sentidos.

No suspiro da noite,
que explode
na relva húmida,
o fruto acereja
na árvore exuberante de vida
e nos seus braços se recolhe
como flor esperando o dia.



segunda-feira, agosto 26, 2013

Dias de Verão

Pintura de Dorina Costras


O cheiro a rosmaninho
 - ou será a tília? -
demora-se nas ondas do cabelo.

Juras e promessas
no fundo do rio rumorejam.

De boca em boca, a palavra sibilina
rompe afã o seu destino.

Na voragem, sem fim, do clamor,
já o crepúsculo o encanto rompeu
e perfumou de jasmim os caminhos.

Nada foi em vão. O ontem perdeu-se
no gélido olhar do silêncio.

O hoje renasce em flor de emoção
no sopro da brisa que os pássaros dançam

nas velas do tempo em dias de Verão.


terça-feira, agosto 20, 2013

Sentires

Igor Zenin

Amo-te 
desde o primeiro minuto
quando todos me diziam que o futuro era meu
e não teu.

Quando
(sempre soube)
o meu amor por ti
nascia ali
naquele intransponível momento
que a Mulher sente
que a Vida é embrião e amor.

Amo-te
Nada poderia separar-nos.  
Nada!

E o meu amor por ti,
cresceu, conquistou mundos,
mesmo os que, contra nós,  
eram.

Depois, meu amor… 
tantos meses, tantas horas,
tanto sofrimento…
 (oh, nem podes imaginar!)
abraçando o meu querer 
contra tudo e contra todos,  
minha vida és tu e sempre serás.

Hoje
embalo o sangue do teu sangue
nos meus braços.

Neste dia 
que foi luta,
dor, suor e grito
és meu sangue e carne.

Nasceste!




Dedicado ao dia de aniversário da minha Filha.
19 de Agosto.


sábado, agosto 17, 2013

Le Poème

É com muita alegria que partilho a tradução feita por Cécile Lombard.
A selecção do poema para tradução coube a Nina Matos tal como a escolha da imagem que o ilustra, para figurar no Poésie Portugaise.

Grata a ambas por este privilégio 
 Hai Trinh Xuan



Le Poème

Tous les poèmes sont amour.

Temps éthéré chanté à chaque soleil naissant
dans les nuances lilas des champs où j'écris.

Tous les poèmes sont sourire.
Sans rimes, sans douleur, dans l'imperceptible feuille
volante dans l'enthousiasme le plus profond et exalté.

Tous les poèmes sont peur.
Du langage des corps et des syllabes qui dominent
les mots usés par le temps.

Tous les poèmes sont révolte.
Dans l'essence synergique de l'indéchiffrable
pouvoir entre la question et la raison.

Même si les poèmes sont l'antithèse les uns des autres
ils relient les océans, en volant en une seconde,
dans la plus belle mélodie sous l'air inquiet 
des âmes qui valsent dans les nuits éternelles de la poésie.

Je suis. Tu es.
Le Poème.


♥ ♥ ♥ ♥ ♥


O Poema


Todos os poemas são amor.
Tempo etéreo cantado em cada sol nascente 
nos matizes lilases dos campos onde escrevo.

Todos os poemas são sorrisos.
Sem rimas, sem dor, na imperecível folha
solta no mais profundo e exaltado enlevo. 

Todos os poemas são medo.
Da linguagem dos corpos e das sílabas
que dominam as palavras gastas pelo tempo.

Todos os poemas são revolta.
No âmago sinergético do indecifrável poder
entre a questão e a razão. 

Mesmo que os poemas sejam antítese uns dos outros
ligam oceanos, voando num segundo,
na mais bela melodia sob o toque inquieto das almas 
valsando nas eternas noites da poesia.

Eu sou. Tu és.
O Poema. 



Otilia Martel
(Menina Marota)

Traduction de © Cécile Lombard

sexta-feira, agosto 02, 2013

O Poema.

José Luís Ávila Herrera


Todos os poemas são amor.
Tempo etéreo cantado em cada sol nascente 
nos matizes lilases dos campos onde escrevo.

Todos os poemas são sorrisos.
Sem rimas, sem dor, na imperecível folha
solta no mais profundo e exaltado enlevo. 

Todos os poemas são medo.
Da linguagem dos corpos e das sílabas
que dominam as palavras gastas pelo tempo.

Todos os poemas são revolta.
No âmago sinergético do indecifrável poder
entre a questão e a razão. 

Mesmo que os poemas sejam antítese uns dos outros
ligam oceanos, voando num segundo,
na mais bela melodia sob o toque inquieto das almas 
valsando nas eternas noites da poesia.

Eu sou. Tu és.
O Poema. 

domingo, julho 21, 2013

La route de la vie

Já aqui tinha referido em postagem anterior da enorme alegria que sinto ao saber que partilham as minhas palavras e redobrada alegria quando essas mesmas palavras são traduzidas e disso me dão conhecimento.

Nina Matos seleccionou o poema e a imagem para o ilustrar; Cécile Lombard fez a tradução.

A minha sincera gratidão a ambas pela disponibilidade da partilha nesta página.



  La route de la vie

Je descends au fleuve le plus profond de mon ressentir.
Je me baigne dans l'eau des larmes
que j'ai transformées en étoiles

Pieds nus
sur la pierre froide
chaleur de baiser
qui me réchauffe les veines.

Flocons de neige que le sol fait fondre
dans la musique qui touche mon cœur.

J'ose
affronter les tempêtes.
Multitude de sentiments
qui se nichent
dans ma pensée.

Je me libère.
Je suis la route de la vie.

*

Rota da Vida

Desço ao rio mais profundo do meu sentir.
Banho-me na água das lágrimas
que transformei em estrelas.

Pés descalços
na pedra fria
calor de beijo
que aquece minhas veias.

Flocos de neve
que o sol derrete
na música que toca
meu coração.

Ouso
enfrentar tempestades.
Multidão de sentimentos
que se aninham
no meu pensamento.

Liberto-me.
Sigo a rota da vida.


Otilia Martel
(Menina Marota)

traduction de Cécile Lombard

terça-feira, julho 16, 2013

Jazz na noite...

Nostálgica
Profunda
Evocadora
Noite aluarada 
de prata refulgente.
Sobre o silêncio 
caem lentamente
orvalhadas de luz 
que a noite chora.

Sonhos em flor e 
ideais antigos
passam por mim 
neste alvejar sereno.

Sonata vibrante
orquestrando em êxtase
horizontes infinitos
onde me quedo e amo.

 


(desligar a música de fundo para ouvir o vídeo, p. f.)

domingo, julho 14, 2013

O magnetismo da música

Um domingo calmo apesar de cinzento e meio frio.
O Verão zangou-se das queixas sobre o calor (ou terá sido dos políticos?) e resolveu voar para outras paragens.
A música devolve-me a energia que sinto frenética no corpo e deixo-me embalar.
Há nos seus sons um prelúdio que se eleva num movimento ritmado a que não consigo escapar.    
Vários minutos de magnetismo que resolvi partilhar .



 (desligar a música de fundo para ouvir o vídeo, p. f.)


Na dança da vida
a música toca a melodia
que sentimos na alma.  

quarta-feira, julho 10, 2013

Música da natureza

(Clicar na foto para ver em tamanho natural)
Steve Winter

Sorri minha alma no leve toque dos sentidos
que, como um rio, corre nas minhas veias,
em sensações arrebatadas pelo afago do vento
que na extensa planície meu olhar incendeia.

Sorri meu corpo na ternura do momento em que
se funde o pensamento na beleza que me rodeia.
No calor da pele abraçada pelo sol, a natureza
vibra, na cumplicidade do sentimento que me enleia.

Não temo o amor, nem a morte, se ambos
vierem devagarinho levando-me em sonhos
de carícias e a lua se esconder no meu olhar.

Sob as pétalas da noite desliza o orvalho
em cascata de rios como lágrimas de amor
que cantam melancolias na música da natureza.



 Otília Martel
(Menina Marota)

in, Olhos de Vida, pág. 29,
publicação em Livro Digital para iPad
Ilustrações de Catarina Lourenço
disponível em  Livraria Liberdade e  Itunes 

sexta-feira, julho 05, 2013

Palavras de Cristal

Chegou hoje, pelo correio, a tão esperada Colectânea de Poesia, a cujo lançamento faltei, por motivos alheios à minha vontade e que se prendem com assuntos familiares, mas que me impediu, de certa forma, da convivência e abraçar amigos e poetas.

E começa assim, logo em abertura…

“A poesia é o real absoluto…
… Quanto mais poético, mais verdadeiro.”
Novalis

… continuando  nas palavras de Tiago Galvão-Teles, que deu voz ao Prefácio:
 (…)
“Palavras de Cristal” é uma colectânea de poesia de uma versatilidade incalculável. Não há dois autores iguais. Cada um cresce em nós de uma maneira diferente.
(…)
“Afinal a poesia é a mais profunda forma de escrita que existe”.



Momentos


Há momentos que as palavras falham.  
Sentamo-nos no meio delas 
ouvindo o seu pulsar 
como folha verde
no caule de uma flor.


Há momentos que o coração chora 
sentindo o vibrar de vidas 
que não são vidas 
dentro da própria vida.


Há momentos que o isolamento 
dói mais que o silêncio 
da boca que fala e nada diz.

E há momentos 
que têm a rara beleza 
que nasce no meio do nada 
como fonte de água pura 
que no mar desagua 
e por ele é beijada.


Otília Martel
(Menina Marota)

in, Palavras de Cristal, Colectânea de Poesia,
Vol. I, pág. 323

terça-feira, julho 02, 2013

Sophia...

Cumprem-se hoje nove anos do falecimento de Sophia de Mello Breyner Andresen, que nasceu no Porto em 6 de Novembro de 1919 vindo a falecer em Lisboa em 2 de Julho de 2004 e é, sem dúvida alguma, uma das maiores e mais eloquentes vozes da poesia portuguesa contemporânea.

Foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Prémio Camões, em 1999.

O seu espírito continua vivo na obra que nos deixou, um espólio imensurável, marcado por valores como a justiça, a sua grande aproximação com o mar e, sobretudo, os valores que recebeu da sua infância e juventude onde se ressaltam valores sociais muito profundos.

A morte não se festeja, é um facto.  Mas celebremos o seu amor pela escrita que perdurará nos tempos como um património imaculado da Língua Portuguesa.

Sophia de Mello Breyner  Andresen 

Quando

Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta
Continuará o jardim, o céu e o mar,
E como hoje igualmente hão-de bailar
As quatro estações à minha porta.

Outros em Abril passarão no pomar
Em que eu tantas vezes passei,
Haverá longos poentes sobre o mar,
Outros amarão as coisas que eu amei.

Será o mesmo brilho, a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta,
E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu não estivesse morta.

Sophia de Mello Breyner Andresen

domingo, junho 30, 2013

Pina

 "(...)
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer
Porque metade de mim é plateia
E a outra metade é canção.
(...)"

Metade, de Oswaldo Montenegro.


Recordando Pina Bausch, coreógrafa e dançarina, no dia do aniversário do seu desaparecimento (30 de Junho de 2009)


 


 (desligar a música de fundo, p.f. para ouvir o vídeo)

sexta-feira, junho 21, 2013

Ternura

Àquela hora o sono tomava conta de mim sem sonho que acordasse o próprio sono.
Porque não penso. Não quero pensar.
Deixo-me embalar pelo sono e lá permaneço imóvel porque já nada tenho a esperar.
A ternura não me assusta. Ou assusta, nem sei. Muitas vezes comove-me quando a sinto infinita e verdadeira, mas sim, assusto-me como pássaro ferido em que o mais leve ruído do vento o intimida e o faz levantar voo.
Não quero pensar.
Só quero estar.
Aqui, quieta, no meu canto.
Não deixar que nada me abale, me toque, destrua a minha alma.
E permanecer fiel a mim. Só a mim. E penso:
Não estás só. Nunca estarás. Tens o pó das estrelas e a música que acompanha a tua alma.
Ah... e as palavras que escreves e te libertam.




(desligar a música de fundo, p.f. para ouvir o vídeo)

quarta-feira, junho 12, 2013

Silence et Tendresse

É sempre com alegria que tenho conhecimento quando alguém partilha as minhas palavras. Mas essa alegria é redobrada quando os nossos poemas são traduzidos e disso nos dão conhecimento.
Agradeço a Nina Matos que seleccionou os poemas e Cécile Lombard que traduziu.

A minha sincera gratidão a ambas.

Ghislaine Segal


Entre nous
Il y a des mots
Dessinés sur
Le silence de la nuit.

Entre nous
Il y a des désirs
Et des caresses
Dans chaque mot
Qui n'est pas
Prononcé.

Entre nous
Il y a des murs de silences
Renversés
A chaque marée
Qui se devine.

Entre nous
Nous demeurons.

*
Entre nós
Há palavras
Desenhadas no
Silêncio da noite.

Entre nós
Há desejos
E carícias
Em cada palavra
Que se não
Pronuncia.

Entre nós
Há muros de silêncios
Derrubados
Em cada maré
Que se adivinha.

Entre nós
Permanecemos.

Otilia Martel

(Menina Marota)

traduction ©Cécile Lombard

quinta-feira, junho 06, 2013

Dádiva

Sandra Bierman 
Ao meu neto Luca
Gosto do teu olhar de leite.
Do sorriso rasgado que abre as portas do coração.
Dos sons que emites a dormir
quando sonhas com estrelas.

Gosto de te ter nos meus braços.
Afagar-te docemente e murmurar
tudo o que um dia vais descobrir por ti.

Gosto do teu cheiro suave e
do cabelo ralo que há-de crescer.

E quando não estou contigo
o pensamento voa e tu estás comigo
assim… aqui! .




(Escrito a 22 de Maio de 2013 dia em que perfez 3 meses de Vida.)

domingo, junho 02, 2013

Momento

Este é o momento que o vento
toca as marés e as gaivotas
mergulham nas ondas.
(excerto)


(Desligar p. f. a música de fundo para ouvir o vídeo. Obg.)


sábado, maio 25, 2013

Crónicas de vida

Pintura de Zhaoming Wu


Acordei sobressaltada.
Através do estore amarelo a luz do dia já entrava, um pouco difusa, clareando o quarto.
Pela porta de vidro, aberta, que dá para o terraço, o frio matinal fazia-se sentir.
Estremeço…
Pego na ponta do lençol e limpo o rosto suado enquanto cruzo as pernas nuas em cima da cama, fecho os olhos e assim fico olhando para dentro de mim.
É neste momento que ela me sorri e sinto os seus olhos risonhos, malandros, a olharem para mim.
Há quanto tempo não te vejo? Tiraram-te de mim!
Fazes-me falta…
Quanta saudade da tua ousadia, das tuas palavras azougadas (sem falsos pudores), falando de sentimentos e paixões, com a clareza de uma criança.
Eras um estímulo para as palavras que bailam conjugando os sentimentos em todos os tempos.
Mais que ouvir, sinto a sua gargalhada, que me abala, provocando uma onda de convulsão e tento defender-me.  
Não olhes assim para mim!  
Não vês que já não habitas em mim?  
Já não te escudas nesse nome com que me envolveste e cirandaste pelos caminhos alados da palavra, fomentaste sonhos e ilusões, esqueceste-te da minha condição de mulher mãe, dona de casa, enfermeira, motorista, sei lá que mais, escondida de olhares subtis, tímida e defensora de valores e da família, até já sou avó, vê lá tu!  
Não abanes a cabeça!  
O tempo dos fóruns e dos blogues onde te encontravas como peixe na água, onde te exprimias com tanta paixão, já não existem.  
Já não podes abrir a tua alma como fonte jorrando água límpida.  
Tudo isso desapareceu: olha em teu redor. Não existes. O teu nome não existe.  
Existe somente a lembrança do que eras! Ou do que foste!  
Não grites!  
Porque estás a gritar?!  
Que som é esse? Horrível…
Abro os olhos. O quarto encontra-se na penumbra do amanhecer.
Desligo o despertador e volto à realidade. O JP tem exames médicos marcados para hoje, bem cedo, no hospital.
Salto da cama e paro… 
Que sonho estranho!
Semicerro os olhos e os olhos dela vêm de encontro aos meus, como que a dizer-me que afinal “ela” não morreu.  
A Menina Marota existe em mim e sempre existirá.

Sorrio… 

Vamos lá tirar o JP da cama dele… 


(16 de Maio de 2013)

domingo, maio 12, 2013

Marque na sua agenda...

Já é oficial!
22 de Junho pelas 16:00 horas no Real Palácio - Lisboa



A vossa presença será preciosa para todos nós.

quarta-feira, maio 01, 2013

Em dia de aniversário...


A letra da canção diz que “…10 anos é muito tempo…”.

Hoje ao acordar veio-me à memória que este blogue faz hoje 8 anos.
Nasceu no tempo em que a Blogosfera estava no auge e a guerra dos servidores do Sapo e da Blogger, também.
Como não gosto de ser apanhada no meio de lutas que não sejam minhas, mudei de "casa" levando comigo o carinho, a alegria, as palavras e os amigos.
Ah… que belos tempos de partilha foram aqueles. 
E na dança das palavras que encetávamos conjugava-se a simpatia, as amizades desenvolvidas, o humor, a alegria de cada post e, sobretudo, a partilha.
Foi há oito anos que resolvi deixar para trás o meu primeiro blogue (no Sapo), iniciado em Dezembro de 2004, para desenvolver um novo blogue. 
Na véspera tinha feito o post experimental que acabou por ser descoberto e comentado.
O dia da inauguração (com corte de fita e tudo eheheh) foi num Domingo, faz hoje precisamente oito anos.
A todos aqueles que me acompanhavam e que continuam a acompanhar-me na actualidade o meu obrigada por estes anos de amizade, partilha e ternura.
Têm sido muitos importantes para mim. Mais do que possam imaginar.
Bem hajam!

Imagem Google

  PS: O tal Blogue do Sapo deixado para trás, acabei, anos mais tarde, de o remodelar e encontra-se activo... 

segunda-feira, abril 29, 2013

Tarde Poética...

Na mesa,  da esquerda para a direita, Libânia Madureira, Teresa Gonçalves,
Otília Martel (Menina Marota),
Ruben Marks e Manuela Barroso
(estes 2 últimos não visíveis)
À viola Carlos Andrade

Foi uma tarde poética com todos os ingredientes que fazem bem à alma a que o Grupo Asas de Poesia proporcionou este Sábado.
Do riso às lágrimas, da música às palavras, do convívio sereno e do sorriso rasgado, tudo se conjugou para uma tarde memorável.
A todos os que intervieram no evento, organizadores, declamadores, músicos, amigos que nos honraram com a presença e o público em geral, o meu agradecimento pelo carinho e pelos momentos que me proporcionaram.
Bem hajam.
Um abraço


(Desligar p. f. a música de fundo para ouvir o vídeo. Obg.)
 
Pequeno excerto da Sessão Poética


quinta-feira, abril 25, 2013

O calendário marca...


25 de Abril de 1974
25 de Abril de 2013

O calendário marca este dia. Na memória de muitos perdura o 25 de Abril em que o Povo saiu à rua para proclamar o seu direito à Liberdade
Muito já se falou sobre este dia e o que nos trouxe.
Muito já se falou dos homens que o fizeram e o que quiseram.
Recordo a integridade de Salgueiro Maia. Recordo-o.
Recordo outros nomes e vi em que se transformaram e vi no que transformaram, afinal, o País.
E neste lapso de tempo vi o “poder” crescer, a corrupção aumentar, a demagogia a imperar, o consumismo exagerado a proliferar, a mentira e a traição ao Povo que, afinal, unido, não vence.
Já não há cravos. Murcharam.


Poema

A minha vida é o mar o Abril a rua
O meu interior é uma atenção voltada para fora
O meu viver escuta
A frase que de coisa em coisa silabada
Grava no espaço e no tempo a sua escrita

Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro
Sabendo que o real o mostrará

Não tenho explicações
Olho e confronto
E por método é nu meu pensamento

O quadrado da janela
O brilho verde de Vésper
O arco de oiro de Agosto
O arco de ceifeira sobre o campo
A indecisa mão do pedinte
São minha biografia e tornam-se o meu rosto

Por isso não me peçam cartão de identidade
Pois nenhum outro senão o mundo tenho
Não me peçam opiniões nem entrevistas

Não me perguntem datas nem moradas
De tudo quanto vejo me acrescento
E a hora da minha morte aflora lentamente
Cada dia preparada

 Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen in "Geografia"

terça-feira, abril 16, 2013

Convite

 
A convite do Grupo Asas de Poesia e tendo como companheiro de jornada Ruben Marks tenho o grato prazer de estar presente no próximo dia 27 (sábado) pelas 16 horas, na Biblioteca Municipal Dr. José Vieira de Carvalho, na Maia.
A vossa presença será muito querida. Contamos com ela.
Obrigada ♥ 

domingo, março 24, 2013

...imenso como o mar


"Aprendi com a primavera a me deixar cortar. E a voltar sempre inteira."  


Desenho de Mácia Teixeira

Recordei esta frase de Cecília Meireles (que tanto diz de mim) ouvindo o som da chuva enquanto o vento fustigava os pés de orquídea dos vasos da minha varanda. Ao longe, as ondas de espuma branca, entravam-me olhos dentro.    

E na linha do horizonte o azul do céu confunde-se com o mar. 

Saboreio o quente do café que percorre as minhas veias com uma sensação de conforto perante o frio do vidro onde estou encostada.

Mil imagens passam perante os meus olhos e, muitas delas, fazem-me sorrir.   

Continuo a beber o café e as ondas do mar levam meu pensamento para bem longe e volto a tempos imemoráveis, tempos que se perderam, mas que me fizeram crescer. E amadurecer.

Sorrio. Ainda, interiormente, sou a menina que acreditava nos sonhos. 

Olho a paisagem como se fosse um espelho de mim: vagueio naquela praia, subo a escadaria da minha capela favorita, onde o som das gaivotas e o ruído do mar se confunde com o silêncio, enterro os pés na areia molhada e respiro a natureza.

Tanta lembrança! Tantos sonhos! 

E, entre a menina que outrora fui e a mulher que sou, há um sentimento novo que me preenche por completo e me faz desejar, cada vez mais, viver.

O prazer de sentir nos meus braços o meu neto Luca! 

O meu coração, todo o meu ser, enche-se de amor. Um amor novo mas imenso como o mar.