terça-feira, agosto 04, 2015

ESPAÇO PARA CANTAR




Nesta aldeia
de mares imperecíveis
e sábios tristes
íntegro um pássaro do alto
entendeu por bem
atiçar o fulgor dos timbres
regressar ao cais
soltar os barcos
e partir
nas cordas vocais 
de uma guitarra

Nesta aldeia
refúgio
à flor das águas

ainda há espaço para cantar
 

Eufrázio Filipe (Mar Arável)

quarta-feira, junho 03, 2015

Momentos

Arthur Braginsky

Não é o tempo magoado 
da tua ausência

Não é o vento percorrendo 
o meu corpo solitário

Não são as palavras que sibilam baixinho
no meu pensamento

Não é o cheiro de maresia
nos meus cabelos revoltos

Não é o orvalho que sinto escorrer
pelo rosto embaciando-me o olhar.

É o tempo das manhãs claras.
Da gargalhada solta.
Das tuas mãos nas minhas.
Da tua voz sussurrante na minha boca.
Da magia que me empurra para ti.

São estes momentos que me fazem falta.



quarta-feira, maio 13, 2015

Convite


Com ilustrações de Catarina Lourenço "Olhos de Vida" é uma reflexão íntima sobre algumas das circunstâncias que germinam à nossa volta: o amor, a amizade, os problemas sociais, a doença, a fome, o petróleo (que nos conduz à guerra), a saudade, a dor, o erotismo, enfim... todos os cambiantes que, de uma forma ou outra, o ser humano passa e ultrapassa, sem dúvida, nas suas vidas.
Com chancela da Modocromia, será apresentado em Lisboa no espaço cedido gentilmente pela Inês Ramos.

 Espero por vós, dia 23 de Maio pelas 17 horas, na Rua Professor Sousa da Câmara, 156, em Campolide.

Apresentação a cargo de Zica Caldeira Cabral 


A todos o meu agradecimento.

sábado, abril 04, 2015

Páscoa 2015

Não sei se algum dia encararei a Páscoa com os mesmos olhos de anos anteriores.

Educada num ambiente cristão a Páscoa para mim tinha um significado associado a todas as coisas que, provavelmente, as crianças vêem nela. Não somente a parte religiosa mas aquela parte pagã de festa e guloseimas.

A Páscoa era associada à Ressurreição que desde a catequese me tinham ensinado apesar de, confesso, muitas vezes a ter contestado em jovem, mas isso são outros assuntos.

Hoje a Páscoa tem um outro significado e sempre a associarei à morte física de alguém com quem comunguei os últimos anos de vida.

Faz um ano que o JP (meu marido) faleceu. Precisamente no Domingo de Páscoa.

Se não foi fácil falar da doença, muito menos o é da morte. Mas ela aconteceu. E eu pouco a pouco fui-me capacitando disso. Páscoa para mim já não é a morte de Cristo e a sua Ressurreição. Páscoa para mim é o desaparecimento físico da pessoa a quem jurei um dia, num acto solene, cuidar dela até que a morte nos separasse.

Nos meus sentimentos, parece que foi ontem. Mas já passou um ano. E, a vida, nem parece que continuou, mas continuou.

Que a vida vos proporcione, em cada Páscoa, um continuar da Felicidade que todos desejam.


segunda-feira, março 09, 2015

Na claridade dos dias



Na claridade dos dias
sou
mão que toca a palavra
vento que ascende a paixão
em encontros vocálicos.

Na claridade dos dias
sou
pássaro em gaiola aberta
ternura em corpo ausente
sol entre nuvens

Na claridade dos dias
sou
coração em movimento.