segunda-feira, março 18, 2024

Nuno Júdice - (29 de Abril 1949 - 17 de Março de 2024)




AUSÊNCIA


Quero dizer-te uma coisa simples: a tua
ausência dói-me. Refiro-me a essa dor que não
magoa, que se limita à alma; mas que não deixa,
por isso, de deixar alguns sinais — um peso
nos olhos, no lugar da tua imagem, e
um vazio nas mãos, como se as tuas mãos lhes
tivessem roubado o tacto. São estas as formas
do amor, podia dizer-te; e acrescentar que
as coisas simples também podem ser complicadas,
quando nos damos conta da diferença entre o sonho e a realidade.
porém, é o sonho que me traz a tua memória; e a
realidade aproxima-me de ti, agora que
os dias correm mais depressa, e as palavras
ficam presas numa refração de instantes,
quando a tua voz me chama de dentro de
mim — e me faz responder-te uma coisa simples,
como dizer que a tua ausência me dói. 


Nuno Júdice, in "Pedro, Lembrando Ines"  a págs. 18



As Letras ficaram mais pobres. Muito mais! 

Eu, sua fã incondicional de tantos anos, sinto-me vazia com esta perda. 

Adeus, meu Poeta e Professor! 

4 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Sofreu horrores com aquela maldita doença e agora está a repousar.
Bjs, boa semana

Charlie disse...

De cada vez que alguém como ele parte, morre uma parte de nós também.
E perguntamos o que é que fica-
Fica a cicatriz que o tempo vai preenchendo com outros bocados que tira por cada um que como Judice parte.
Até não sobrar mais nada do que nós mesmos reduzidos ao que somos sem eles...

Graça Pires disse...

Um poeta que parte é uma ferida na luz. Sou fã de Nuno Júdice. Ele ficará para sempre no meu coração.
Gostei de a ver aparecer aqui.
Uma boa semana e uma Páscoa abençoada.
Um beijo.

Aviator disse...

Uma exposição brilhante! Sua postagem é esclarecedora, bem elaborada e é um prazer ler. Obrigado por compartilhar sua valiosa perspectiva. Mergulhe em análises detalhadas do Aviador em nosso blog especializado.