quinta-feira, janeiro 01, 2015

Entrando em 2015...


Da janela da cozinha, olhando o mar e a Capela do Senhor da Pedra, que ao longe se avistam, com o fiel Sting deitado no parapeito mas sempre com os olhos postos em mim dou largas ao pensamento.
E faço mentalmente um balanço a todos os acontecimentos decorrentes de 2014.
Não da minha própria vida.  
Que essa é como as marés: vaza, enche; vaza, enche…
Dou comigo a pensar que, de ano para ano, a vida dos portugueses piorou substancialmente: a pobreza e a fome aumentaram; o desemprego continua drasticamente e muitas famílias voltaram para casa dos pais, por não conseguirem fazer face às despesas.
Direitos conquistados após anos de ditadura foram arrancados aos portugueses de uma forma ultrajante.  
O circo foi montado para fazer os portugueses ignorarem os verdadeiros motivos das afrontas a que foram submetidos ano após ano e das causas reais que levaram à miséria deste País.
Não quero ser pessimista. Antes pelo contrário. Quero estar preparada para toda e qualquer realidade que se abata ainda mais sobre os portugueses.
Não nos iludamos com as luzes dos foguetes pela passagem de mais um ano: nada vai melhorar.
Os próximos 3 anos que são de eleições (AR, PR e Autarquias Locais, por esta ordem) serão aproveitados para darem um “bodo” aos pobres e assim taparem o sol com a peneira, com mais embustes e atropelos à Lei. E com isso conseguirem cada vez mais poder e, já agora, fazerem “nascer” mais milionários, num País onde cada vez há mais pobreza.
É este o meu balanço do ano que terminou.
Da janela da cozinha, olhando o mar calmo, sinto que os próximos tempos vão ser tempestuosos como mar enfurecido…
Espero enganar-me!
(desligar a música de fundo para ouvir o vídeo, pf)

Apeteceu-me ouvir Beethoven saudando assim o Novo Ano.

E assim vos saúdo a todos.

Salvé...

terça-feira, dezembro 23, 2014

Natal, 2014.


Imagem pessoal

Presépio

Nuzinho sobre as palhas,
nuzinho – e em Dezembro!
Que pintores tão cruéis,
Menino, te pintaram!

O calor do seu corpo,
p’ra que o quer tua Mãe?
Tão cruéis os pintores!
(Tão injustos contigo,
Senhora!)

Só a vaca e a mula
com seu bafo te aquecem...

 – Quem as pôs na pintura?


Arrábida, 24 de Dezembro de 50

de, Sebastião da Gama 
in “Pelo sonho é que vamos” a páginas 25


Aos meus amigos, comentadores e visitantes que me acompanham nesta jornada bloguista o meu agradecimento por estarem comigo e o desejo de umas festas natalícias em ternura, harmonia e, acima de tudo, com saúde.
Um grande abraço a todos

 Otília Martel



domingo, novembro 23, 2014

in memoriam

[...]
Quando um homem interroga a água pura dos sentidos e ousa caminhar, serenamente, os esquecidos atalhos de todas as memórias, acontecem viagens — viagens entre o quase tudo e o quase nada.
[...]

A maioria de quem segue a poesia falada reconhece-lhe a voz.

Mas José-António Moreira era também um escritor que, na sua timidez, não fazia eco disso.
Descobri a sua escrita por acaso, há anos, no PodCast do Sons da Escrita e fiquei impressionada com a sua sensibilidade.
Partilho, homenageando-o, um dos textos que, para além de outros, mais me impressionou.

(Desligar a música do blogue para ouvir o vídeo)


Branco


Falo de uma ave que imaginei em sonhos, uma ave de uma beleza indescritível, muito além da elegância de um cisne branco, de um branco neve, como se toda a luz que nele incidisse pudesse ser reflectida para os nossos olhos aflitos.
Gosto dos cisnes! Talvez a forma esbelta não justifique tudo, talvez não seja só o branco puro que impressiona a vista. Talvez seja só a branda calma com que se movimenta, quase parado no equilíbrio perfeito sobre as águas do lago que lhe ponho à volta.
O branco é uma luz intensa, como um sol, um sol onde está escrito o destino de tudo.
No branco está a pureza do encontro, a exaltação do desejo, o caminho, os atalhos, o reencontro, o futuro e a paixão.
Sobre o branco escreve-se o amor.


Ao JAM
in memoriam (1950-2014)
Obrigada por tudo o que fizeste pela Poesia.

segunda-feira, outubro 27, 2014

o mar todo nos meus olhos

Edward Hopper

Hoje, que tenho o mar todo
nos meus olhos, subo à torre do farol
para avistar o perfil silente dos barcos
e adivinhar a indecisa linha
que separa a noite da madrugada.
A navegação costeira faz-se ao mar.
Reparo então que os pescadores
não precisam de mapas para a faina.
Têm talhado no rosto o rumo dos cardumes
 e uma rosa-dos-ventos engastada em cada mão.

de Espaço livre com barcos, 2014

a pág.s  23

sexta-feira, outubro 10, 2014

Olhos de Vida

Não tenho palavras para exprimir a comoção que provocou em mim o lançamento de Olhos de Vida, o meu segundo livro de poesia.

O evento realizou-se no magnífico espaço do Convento Corpus Christi e contou com animação musical do professor Orlando Mesquita e do Grupo de Violas e Cavaquinhos da USRM.

Momentos de eloquente declamação foram protagonizados por Alzira Santos, Cristina Pessoa e Eduardo Roseira.

A abertura do evento esteve a cargo de Teresa Gonçalves.

Prometo nas próximas postagens falar mais deste momento e de quem me acompanhou.

Começo por partilhar as palavras proferidas pela minha querida amiga Fátima Fernandes (Amita) e autora do Prefácio: 

(clicar nas imagens)

Apresentação “Olhos de Vida”

Foi através da blogosfera, inicialmente no Sapo, que comecei a ler e comentar a Menina Marota e a seguir o seu percurso poético.

Até que um dia, a meio de um sarau de poesia em Vermoim, ela entrou silenciosa e sentou-se, atenta, numa cadeira ao fundo da sala.

O Zé Gomes, coordenador da sessão, perto do final pediu que se identificasse.

Ao ouvirmos “Sou a Menina Marota”, todos nos voltámos para trás e sorrimos pois era sobejamente conhecida, estimada e respeitada no mundo virtual.

Assim foi iniciada uma grande amizade. E já lá vão longos anos….

Otília Martel caminha, desde mocinha, nos meandros da poesia com uma paixão imensurável.
A sua fértil inspiração levou-a à criação de vários blogues, como: Refúgio, Alma Minha, Eternamente Menina e Menina Marota (estando estes dois últimos em servidores diferentes).

Criou igualmente, sob anonimato, o blogue Poesia Portuguesa, apenas destinado à divulgação da obra de poetas portugueses desconhecidos do público.

Com a chegada do Facebook, a que aderiu, foi a fundadora do “Clube dos Poetas Vivos” para divulgação e incentivo à criação poética e que, presentemente, já conta com mais de 15.700 membros.

Lembro-me de uma citação de Eugénio de Andrade que disse: “Foi sempre pelos olhos dos nossos poetas que o português viu mais longe e mais fundo”.

Quando me convidou a fazer o prefácio deste livro “Olhos de Vida”, limitei-me a escrever o meu sentir ao ler os seus poemas e textos, pois, na minha opinião (claro!) já tudo tinha sido dito nos posfácios incluídos nesta obra, feitos por excelentes escritores e poetas, embora respeitantes ao seu 1º livro “Menina Marota, Um desnudar de Alma”.

Permitam-me a ousadia de aconselhar-vos a lê-los.

Cumpre-se-me acrescentar que, em “Olhos de Vida”, é notório o crescimento poético-literário da Otília.

Em simples palavras, ao ler a “escrevinhadora” (como ela gosta de se denominar), elevam-se-nos sentimentos de: generosidade, sensibilidade, sonho, emoção, dor pelos outros, contestação, versatilidade, sensualidade, paixão, saudade de tempos idos, introspecção, força que a move, Amor, amor e mais amor…
Tudo isto numa escrita subtil e de uma ternura imensa.

Sendo uma eterna buscadora do Belo (na essência dos outros e na sua), através da sua peculiar e encantadora escrita e sentir apurado, Otília Martel brinda-nos com mais uma excelente obra.

Termino citando Ana Hatherly:

 “Descobrindo-se, o poeta personifica, representa.
 Nos melhores momentos descobre o que nem sequer encoberto estava,
 porque o que ele faz é ver a oblíqua eloquência ou o encanto do que,
 sem ele, não seria.”

Obrigada, Otília!

Fátima Fernandes
     4.10.2014