Senhores jurados sou um poeta
um multipétalo uivo um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto.
Sou um vestíbulo do impossível um lápis
de armazenado espanto e por fim
com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim.
Sou em código o azul de todos
(curtido coiro de cicatrizes)
uma avaria cantante
na maquineta dos felizes.
Senhores banqueiros sois a cidade
o vosso enfarte serei
não há cidade sem o parque
do sono que vos roubei.
Senhores professores que pusestes
a prémio minha rara edição
de raptar-me em crianças que salvo
do incêndio da vossa lição.
Senhores tiranos que do baralho
de em pó volverdes sois os reis
sou um poeta jogo-me aos dados
ganho as paisagens que não vereis.
Senhores heróis até aos dentes
puro exercício de ninguém
minha cobardia é esperar-vos
umas estrofes mais além.
Senhores três quatro cinco e sete
que medo vos pôs por ordem?
que pavor fechou o leque
da vossa diferença enquanto homem?
Senhores juízes que não molhais
a pena na tinta da natureza
não apedrejeis meu pássaro
sem que ele cante minha defesa.
Sou um instantâneo das coisas
apanhadas em delito de perdão
a raiz quadrada da flor
que espalmais em apertos de mão.
Sou uma impudência a mesa posta
de um verso onde o possa escrever
Ó subalimentados do sonho!
a poesia é para comer.
Poema de Natália Correia
(Desligar p.f. a música de fundo para ouvir o poema)
14 comentários:
Obrigada pela partilha deste momento fantástico de poesia intensa e de uma beleza imensa. As palavras de Natália na voz da própria ganham ainda mais força e levam-nos por aí fora nos braços da poesia.
Beijo grande e desculpa a minha ausência ...
Que bom ouvir a Natália.
Agradeço-te este previlégio.
Aproveito para te dar os parabéns pelos dois anos de existência.
Beijo grande
Teresa
Lindo!
Parabéns pelo blogue e pelo espírito de partilha.
http://pensamentossubmersos.blogspot.com/
Espectacular!:)
Beijos
Natália Correia, curvo-me perante ela: uma Mulher de M muito grande!
Sem mais palavras para comentar tão digno post, depois de ouvir a sua voz, parto em silêncio.
Deixo-te um beijo comovido
Cmptos do JN
MMarota, sorry, enganei-me!
Bem me parecia que eras mais 'antiga' que je...ehehehe ;-)
Qt ao teu post, vou-me repetir...que maçada! ;-) pintura Linda!!!
e de Poesia, já sabes, não percebo quasi nada mas de Natália Correia gosto e prontoSSS!Ehehe...Natália Correia é um caso à parte ;-)
BeijOca Grande de resto bom domingo Amiga **********
Ah grande Natália, imensa como o mar profundo, que ela tanto amou e cantou,quão intensa é a sua poesia!
Vou à procura da foto dum painel de azulejos com o seu retrato e um poema, que captei na Praia da Vitória, quando lá estive em Agosto do ano passado.
Um beijinho muito amigo, Otília.
António
E muitos parabéns ao Luís Gaspar!
Os seus programas têm muita qualidade.
António
Obrigada MM
Recordar a voz da Natália, arrepiou-me de emoção.
Fez-me reviver as recordações distantes de quando a ouvia no Botequim, altas horas da noite.
Este poema fantástico só podia ser dela!
Um beijinho
Helena
Excelente! Excelente! Beijos.
"a raiz quadrada da flor"
Muito bom!
gosto muito de Natália Correia
bom dia
Quye delícia, voltar a ouvir a voz e as palavras de Natália Correia.
Obrigado por isso.
Beijinhos
Tem graça que antes de ver este teu post postei uma história sobre a Natália onde falo entre outras coisas neste final do poema "da poesia ser para comer". Ouvi-a dizê-lo várias vezes no Botequim, logo é bom recordar aqui a sua voz potente e afirmativa.
Bjs
TD
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