segunda-feira, setembro 26, 2011

In Memoriam

Como Ognid o conheci.


Despeço-me com tristeza do Dionísio Leitão.
Até Sempre.




Fotografia tirada e gentilmente oferecida pelo Ognid...



No mistério do Sem-Fim,
equilibra-se um planeta.

E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;

no canteiro, uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,

entre o planeta e o Sem-Fim,
a asa de uma borboleta.

(Poema de Cecília Meireles)




...e, a quem dedico este poema por toda a sua sensibilidade artística



(Este post é de 1 de Agosto de 2005 e coloco-o em reposição com o meu obrigada.) 

quarta-feira, setembro 14, 2011

Entre mundos... Navia e Ana...

Pintura de Freydoon Rassouli



 "…Neste século onde se fazem tantos acordos de paz, pactos de estabilidade, Associações de protecção a isto e aquilo e a mais qualquer coisa, atendimento por telefone de protecção às vítimas, voz amiga, SOS criança, é possível deixar uma pessoa em estado de agonia. Na realidade, nos momentos de maior dor psicológica, parece que não existe ninguém. Existem estatísticas sobre o assunto mas não há memória de alguma vez terem ajudado alguém num determinado momento. A dor vem pela noite quando o silêncio é maior e ninguém quer ser perturbado. A dor não passa com antibióticos, nem com uma chamada telefónica, nem a horas marcadas. Talvez a confiança ajude mas num século onde a vida foi programada até aos sessenta e cinco anos, a depressão é vista como uma fraqueza humana e falta de lucidez.
Talvez os potenciais suicidas não confiem muito nos recursos às tecnologias existentes para pedidos de ajuda e as estatísticas vejam-se atrapalhadas a descobrirem os critérios das causas. Os efeitos são óbvios. Pelo menos a segurança social não precisa de pagar a baixa por doença. Há sempre vantagens, apesar do peso significativo em termos económicos: o desperdício do dinheiro investido na educação, a perda de um trabalhador activo e de um contribuinte. É necessário refazer a contagem para identificar o que sai mais benéfico – a prevenção ou a morte.
…"
(excerto, Capítulo XIII - Ana)



Tenho de ir.
O meu amor espera-me.

De passo em passo
Enquanto o pé se ergue
Enquanto o pé se firma
Encontrei-te

Passos sem rasto
Vens também?

de, Teresa Durães in Navia pág.s 80/81 e 163
   

terça-feira, setembro 13, 2011

Obviamente…


Imagem oferecida por uma Amiga


- És tão obvia! E sorriu com aqueles grandes olhos esverdeados, maliciosos, meios trocistas, que mantinham a vivacidade de outros tempos.
Dei uma sonora gargalhada como há muito não me saía do peito.
Ela riu também.
- Continuas na mesma! Essa tua alegria interior nasceu contigo.
Sorri.
Há anos que nos conhecíamos. E apesar de não ter sido fácil ganharmos a confiança uma da outra, talvez por sermos tão diferentes, a nossa Amizade perdurou no tempo e na distância.
A sua profissão levava-a por caminho duros, dissera-me um dia.
Médica por paixão, cansou-se dos hospitais, dos consultórios privados e partira com uma associação humanitária regressando duas a três vezes por ano para "recarregar baterias" e voltava a partir de novo.
O tempo, o sofrimento dos outros, estavam marcados no seu rosto mas mantendo a beleza que a caracterizava.
Não tinha filhos nem familiares próximos. O casamento há muito que acabara, por isso, quando partiu, levou no seu coração aquilo que mais prezava: os Amigos e a sua Vida.
Não gostava de compromissos; o único que tinha, como o afirmara muitas vezes, era com a Vida e com os Amigos: "manter-se viva e conservar a amizade dos amigos era o seu compromisso", dizia-me tantas vezes.
Olhei o seu rosto que, como o de qualquer um de nós, acusava o passar dos anos e, igualmente, tempos duros que a sua profissão a tinham feito passar em países desconhecidos mantendo contudo o seu sorriso infrangível.
Quis saber tudo o que no decorrer desta sua última ausência me tinha acontecido e que, nos emails que trocávamos, eu não dissera.
Sorriu quando me explicou porque motivo fechara o perfil do Facebook onde entrara a meu convite mas que “um dia destes me fazia uma visita” se calhar colocando até muitas das fotos que se encontravam nos cartões de memória da sua máquina fotográfica.
- Seria interessante ou achas que ninguém se interessaria? Pergunta-me num tom de voz em que a dúvida se notava.
-Claro que sim; a diversidade de pensamentos, comportamentos e opiniões dos utentes do FB é muita, tal como na vida real. Não te esqueça que o FB espelha muito da multiplicidade existente entre todos os géneros de pessoas que o compõem. Só temos que canalizar essa variedade - respondo-lhe sorrindo.
Falar dos acontecimentos de mais de dois anos de ausência na Pátria que a viu nascer e do que ocorrera, entretanto, a ambas, levou-nos por conversas mais íntimas onde o sorriso morreu muitas vezes no olhar.
A situação actual do País, vista lá fora com preocupação por muitos, segundo as suas palavras, entristece-a. Coabitara a luta dos Pais por um País de melhores condições e via, com tristeza, que muitos dos seus sonhos não se confirmavam.
Quando nos abraçámos os nossos olhos sorriam.
Não houve tristeza na despedida porque a Amizade que nos une é tão óbvia que perdurará para além do tempo e da distância.

Hoje quis falar dela.





(Texto de 17.11.2010 "Minhas Notas Facebook")


sexta-feira, setembro 09, 2011

Um Homem... Um Político... Um Verdadeiro Ser Humano...


 Imagem de Pedro Moreira



O Coronel Mário Pinto Simões foi um dos Presidentes da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia.

Homem de princípios rígidos, militar por vocação, não mudou o seu estilo de vida pelo facto de ter subido ao mais alto cargo do Concelho.

Homem de trato fácil, apesar da sua aparente rudeza, transmitia uma simplicidade de costumes que até comovia.

Lembro-me dele com um enorme respeito, maior respeito ainda, nos dias de hoje, pelas atitudes públicas que tomava.

Possuía um usadíssimo Renault 5 quando entrou em funções. Com ele terminou o seu mandato.

Mas o que mais me impressionava, naquela altura e, ainda hoje me impressiona, foi a sua atitude enquanto no exercício de Presidente de Câmara.

Ele conduzia o seu próprio carro nas deslocações diárias; ao almoço deslocava-se a casa nas mesmas condições, o mesmo se passando à saída. Foi assim durante todo o mandato presidencial.

Só admitia motorista e carro da autarquia quando, efectivamente, saía em serviço oficial.

Um dia intrigada com o seu comportamento, interroguei-o sobre o assunto e ele muito simplesmente me disse:

- "Que moral posso ter em mandar um motorista a casa buscar-me para vir para o meu "trabalho" quando os demais funcionários, que ganham muito menos que eu, vêm pelos seus próprios meios?

Apesar de já contar com a resposta, porque assim imaginei ser, surpreendeu-me o ar calmo e tolerante dele.

Quando já no final do cumprimento do seu mandato, foi surpreendido com algumas falsas declarações que dele fizeram para o prejudicar, apesar de ter oportunidade para contratar um gabinete jurídico de renome, foi comigo que falou para preparar a sua defesa.

Sentado num dos sofás da sala da minha anterior casa, expôs-me com toda a honestidade, os acontecimentos que tinham gerado a tal confusão.

Não dormi nessa noite na preparação do documento que no dia seguinte lhe entreguei e que bastou para se defender e sair de cabeça bem levantada no final do seu mandato.

Políticos como este, creio, já não existem.

Hoje em dia, a despesa pública é cada vez mais aumentada com superficialidades e luxos a que os políticos se dão ares… e depois exigem que seja o mais pequeno a entregar os seus magros recursos, para os sustentar.

Se cada um se privasse do carro ou dos carros e respectivos motoristas com que se "passeiam" bem como, as suas famílias tantas vezes, e só mesmo em actos oficiais os utilizassem, isso sim, seria uma pequena amostra do respeito que tinham por aqueles que os elegeram e que neste momento, muitos, atravessam situações dramáticas.

Isto não falando de outras benesses luxuosas que se permitem ter.

E o Povo continua a pagar os seus "vícios".






(texto de 25.05.2010 originalmente nas "Minhas Notas" do Facebook)