segunda-feira, outubro 09, 2006

Para a construção da cidade necessária


Imagem de Chico Matos in Olhares


tu
que acreditas
que a bruma
vai rasgar-se em dia aberto
tu
que acreditas
que o vento
vai quebrar-se em mar de calma

porque te ficas sentado
à janela da quimera
porque não vens para a rua
provocar a primavera

vem
vem desenhar o futuro
na morte deste presente
vem
vem mostrar a madrugada
e vem dá-la a toda a gente

tu
que adivinhas
que as nuvens
vão desfazer-se em azul
tu
que adivinhas
que a noite
vai resolver-se em luar

porque te deixas dormir
na cama da tradição
porque não fazes do sonho
o grito duma canção

vem
vem transformar o amor
até hoje inexistente
vem
vem construir a cidade
e vem dá-la a toda a gente.



Poema de Vieira da Silva

sexta-feira, outubro 06, 2006

Tenho cantado esperanças…

Óleo de William Bouguereau



Tenho cantado esperanças…
Tenho falado d’ amores…
Das saudades e dos sonhos
Com que embalo as minhas dores…

E eu cuidei que era poesia
Todo esse louco sonhar…
Cuidei saber o que é vida
Só porque sei delirar…

Eram fantasmas que a noite
Trouxe, e o dia levou…
À luz da estranha alvorada
Hoje minha alma acordou!

Esquece aqueles cantos…
Só agora sei falar!
Perdoa-me esses delírios…
Só agora soube amar



Poema"Maria" de Antero de Quental

quarta-feira, outubro 04, 2006

Anjos Caninos...

Tinha um texto preparado para o dia de hoje. Há muito que vos queria apresentar a Rita, uma linda “menina” de oito anos que me caiu em casa e que nunca mais me quis deixar…
Mas ao abrir a caixa do correio (obrigada Ema…) mudei de ideias. 

E tive que partilhar este momento…
(Farofa no dia 1 de Junho de 2006, já recuperado do abandono)

Existem pessoas que não gostam de cães,
Estas, com certeza,
Nunca tiveram em sua vida
Um amigo de quatro patas
Ou, se tiveram,
Nunca olharam dentro daqueles olhos
Para perceber quem estava ali.

Um cão é um anjo
Que vem ao mundo ensinar amor.
Quem mais pode dar amor incondicional,
Amizade sem pedir nada em troca,
Afeição sem esperar retorno,
Proteção sem ganhar nada,
Fidelidade vinte e quatro horas por dia?
Ah, não me venham com essa
De que os pais fazem isso,
Porque os pais são humanos
E quando os agredimos
Eles ficam irritados e se afastam...
Um cão não se afasta
Mesmo quando você o agride,
Ele retorna cabisbaixo
Pedindo desculpas por algo que talvez não fez
Lambendo suas mãos a suplicar perdão.



(Farofa foi recolhido na rua em Outubro de 2005, neste estado... )



Alguns anjos não possuem asas,
Possuem quatro patas, um corpo peludo,
Nariz de bolinha, orelhas de atenção,
Olhar de aflição e carência.
Apesar dessa aparência,
São tão anjos quanto os outros (aqueles com asas)
E se dedicam aos seus humanos tanto quanto
Qualquer anjo costuma dedicar-se.
Às vezes um humano veste a capa de anjo
E sai pelas ruas a catar alguns anjos abandonados
à própria sorte,
E lhes cura as feridas, alimenta, abriga
em Só para ter a sensação de haver ajudado um anjo...
Deus quando nos fez humanos
Sabia que precisaríamos de guardiões materiais
Que nos tirasse do corpo as aflições dos sentidos
E nos permitissem sobreviver a cada dia
Com quase nada
Além do olhar e da lambida de um cão...
Que bom seria se todos os humanos
Pudessem ver a humanidade perfeita de um cão!

(De Autor Desconhecido)





segunda-feira, outubro 02, 2006

Do Poema

Thodore Chassriau daqui


O problema não é
meter o mundo no poema; alimentá-lo
de luz, planetas vegetação. Nem
tão- pouco
enriquecê-lo, ornamentá-lo
com palavras delicadas, abertas
ao amor e à morte, ao sol, ao vício,
aos corpos nus dos amantes -

o problema é torná-lo habitável, indispensável
a quem seja mais pobre, a quem esteja
mais só
do que as palavras
acompanhadas
no poema.


(Poema de Casimiro de Brito in Canto Adolescente, 1961)

sábado, setembro 30, 2006

Bom fim de semana...

Hoje de manhã recebi através do correio esta imagem cujo texto que a acompanhava, era o seguinte:
Meu Deus inspira-me e dá-me a alegria de escrever poesia. Estou tão desinspirada…
Não vou referir o nome e recordei um poema que escrevi há muito tempo. Fui em busca dele...
Aqui o deixo, porque todos nós temos dias desinspirados…
Imagem de autor desconhecido

Quis deixar
uma letra pequenina,
onde coubesse
o sol e o vento,
o humor e a alegria,
letra minha
que não fosse solidão
mas um pouco de
cheiro a maresia.
Mas a névoa
não deixa ver a letra
desinspirada
pelo abandono
de multidões
que nos deram tudo
e deixaram-nos
o nada.
Hoje
vagabunda
neste espaço
caminho lado a lado
sem letras.
Fechada, neste
tinteiro transparente,
esperando
que alguém
lhe tire a tampa
e que as palavras se soltem
diluindo
o vazio
que na mente
se instalou.
Palavras
voltem aqui
a este espaço
que conheceu
diálogos quentes,
música de ambiente,
mas que um vendaval
limpou e,
triste aqui
estou,
onde nem
a alegria entrou.
Senta-te aqui comigo,
dita-me palavras
murmuradas ao ouvido
da saudade
de ti,
de mim,
de todos,
aqueles
que nunca estiveram
fechados num
tinteiro transparente
mas que iluminavam este sítio
e a minha mente!

(27/07/2004)
Numa noite completamente desinspirada...


(P.S. - Em virtude do “acidente” com o meu template, muitos dos endereços aqui linkados desapareceram.
Aos poucos estou a tentar reconstruir tudo o que falta. Quem se sentir “desaparecido” é favor de se queixar. As minhas desculpas pelo sucedido.)