segunda-feira, novembro 25, 2013

na brisa do vento

Pintura de Dorina Costras

Sonho-me
menina em flor
na brisa do vento
num tempo de amor.

Passeio-me
para lá do horizonte
onde as flores dão frutos doces
e os ramos ondeiam como pássaros
sulcando o céu do entendimento.

Liberto-me.
Promessa alada em meu sentir.

segunda-feira, novembro 18, 2013

No silêncio da noite...

Pintura de Irina Souchelnytskyi

Escrevo-te
nas margens de um rio
por abraçar

Escrevo-te
na aragem de um tempo
por atravessar

Escrevo-te
no silêncio da palavra
por quebrar

O verso das minhas mãos
escreve-te nas entrelinhas…



segunda-feira, novembro 04, 2013

Amanhecendo


Abro os olhos lentamente. O som da chuva embala-me ainda no sonho onde caminho. 

Uma ténue luz incide no espelho ao fundo da cama. 

A gata siamesa continua em cima das minhas pernas. Tento sacudi-la levemente mas esboça um ligeiro movimento e mete a cabeça no pêlo sem me ligar nenhuma.

Chega-me um ruído abafado através da chuva, como se tambores estivessem tocando ou pássaros passeando pelo telhado em busca de abrigo.

No tempo das monções a chuva é repentina e o tempo areja de tal forma que o ar fica leve como se toda a poeira cósmica desaparecesse por milagre.  

O dia clareia, mas continuo no encantamento da melodia da chuva e do ruído das palmeiras de dendém, no jardim, como se quisessem embalar o meu sono de novo.

Sacudo definitivamente a gata das minhas pernas e, descalça, corro para o jardim.  

Nisto, o toque da campaínha... ou será do relógio do hall dos quartos?... ressoa, e abro os olhos. 

O meu fiel Sting, ainda sonolento, olha-me estranhamente. A sacudidela dirigida à gata acordara-o provavelmente.  

O relógio dá as horas. Conto as badaladas: seis.

O silêncio é quebrado pelas batidas da chuva na clarabóia.  

Faço um afago no Sting e, baixinho, digo-lhe para continuar a dormir que ainda é cedo.  

Sentir as palmeiras do jardim a abanar, fora somente um sonho e fecho os olhos de novo.


Ao longe, o batuque dos tambores continua… 


  


sexta-feira, outubro 25, 2013

Reminiscências...

Um pouco de loucura nunca fez mal a ninguém, dizia o meu avô.

Recordo bem, apesar de ser bastante pequena (também não cresci muito mais, ok, concordo, eheh), das palavras dele quando o meu pai o censurava pelas suas saudáveis loucuras.

Ele era uma pessoa extremamente positiva e alegre. Só via o lado bom dos outros e alinhava nas minhas brincadeiras, escondendo, algumas vezes, as traquinices que eu ia fazendo.

A sua imagem está viva em mim. Cada vez mais.

Não será alheio o facto de eu também já ser avó. A desejar que o tempo passe depressa para viver o meu neto em pleno e a fechar os olhos, como o meu avô fazia, a algumas traquinices próprias da idade.

Recordo a sua voz forte mas que se tornava meiga quando falava comigo. Recordo os passeios por Sintra e, acima de tudo, recordo férias passadas na aldeia que me trouxeram o amor pelos animais, pela liberdade da natureza, pelos banhos no rio, pelas tardes calmas quando lia em voz alta ou contava as suas fantásticas histórias de juventude e o seu amor pelos cavalos.

Ou quando lançávamos papagaios de papel na Praia das Maçãs…

Vieram-me à memória todos estes pensamentos enquanto olhava, pela janela, o mar no horizonte.

Tempos felizes que recordo com um carinho absoluto. Reminiscências de uma época que me parece tão próxima como se o tempo tivesse parado.

Pintura de Jimmy Lawlor

As palavras são 
como gotas de água.
Lentamente, 
vão criando
um calmo lago
de recordações
dentro de nós,
transformando-o,
velozmente,
num mar de emoções. 

quinta-feira, outubro 03, 2013

Entre o objectivo e o subjectivo

A chuva ajuda a apagar o calor da terra e os espíritos mais incendiários.

O som dela e do piano acalmam-me.

Penso nos momentos descontraídos da minha infância, na terra do pôr-do-sol, com os seus cheiros, cores e sabores tão especiais.  

Lembro os amigos que nunca mais vi. Lembro as mãos que nunca mais apertei.

E lembro o som do casco dos cavalos no mar da "minha" Ilha levantando gotas pequeninas de chuva que molhavam o cabelo e eu gargalhava feliz desafiando os outros cavaleiros para uma corrida.

Tão longe e tão perto esses momentos.
  
Decisões de vida se tomaram e me transportaram a uma realidade outra.

E nessa realidade sobrevivo a cada dia no âmago de destinos que se cruzam mesmo sem os pedir.

Olhar destinos passados, presentes e futuros, realçando o objectivo e o subjectivo que eles encerram faz-me desejar não perder as forças e manter-me à tona do desfecho final.

 (desligar a música de fundo para ouvir o vídeo, p. f.)