segunda-feira, agosto 13, 2012

Miss Kafka

Imagem de autor desconhecido


Miss Kafka está de volta.

Seguidora que fui dos seus dois blogues, foi com tristeza que os vi, de um dia para o outro, não serem actualizados.

Foi, portanto, com alegria que a vi retomar as palavras que me encantavam no Ab Absurdo de onde trouxe este texto:

Talvez possa começar hoje. Partir do caos e enveredar pela infinita panóplia de caminhos entrecruzados, sem nascente nem mar para desaguar. Procuro no dentro tudo o que não foi possível encontrar fora. Esquecendo a lei dos espelhos que rege a relação entre os dois...

A folha branca mostra-me ininterruptamente o quase e o aquém. Insuportavelmente incapaz de traduzir o além, apesar de tão real, tão visceral, tão presente. É sangue sem cor. É língua sem papilas gustativas. É cheiro de memórias que não se recordam, vazias e ausentes.

A palavra espartilha o pensamento, enche-o de dor. Se tivesse rosto, seria um esgar inoportuno. Hoje. Hoje que se sentam a uma distância respeitosa. Hoje, presente parado, na repetição incessante do ciclo dos dias.

A palavra não traduz o que se pensa e o que se sente. Ainda. Hoje. Só hoje.

É bom ter-te de volta, Miss Kafka

terça-feira, julho 10, 2012

Momentos




Há momentos que as palavras falham.
Sentamo-nos no meio delas
ouvindo o seu pulsar
como folha verde
no caule de uma flor.
Há momentos que o coração chora
sentindo o vibrar de vidas
que não são vidas
dentro da própria vida.
Há momentos que o isolamento
dói mais que o silêncio
da boca que fala e nada diz.

E há momentos
que têm a rara beleza
que nasce no meio do nada
como fonte de água pura
que no mar desagua

e por ele é beijada.

sábado, junho 30, 2012

O sol embriaga os meus sentidos...

Ilha do Mussulo, Luanda


…recordo África e tudo aquilo que me transmitiu ao longo dos anos: o pôr-do-sol inigualável, as praias de ondas mornas, a sua areia quente e brilhante.

As praias de Cabinda onde mergulhei sentindo-me sereia ao fantástico pôr-do-sol; a praia do Mussulo, um paraíso ao largo da cidade de Luanda; as paisagens e gentes do Kwanza onde aprendi a reconhecer cheiros e sons; a praia de Benguela onde, pela primeira vez, nadei muito perto de golfinhos bebés, vendo ao longe a divertida mamã a chamá-los com os seus sons inconfundíveis.

Tudo isto e muito mais que, quem sabe, um dia narrarei, fizeram de mim o ser que vibra com o calor, que goza o sol no seu mais puro encanto e se despede de preconceitos quando entra no mar.

Flutuo nas ondas brandas do vento
num dia inacabado, onde o Sol
se aventura nas asas de um pássaro
cortando a pique a montanha do tempo.

Porque sou uma mistura de mar de ondas bravias, do vermelho sol abrasador, do cheiro quente dos frutos da terra, dos sabores que entontecem a alma, dou-me à noite avassaladora dos meus sonhos, onde tudo é possível e adormeço nos seus braços.



Fotografia de Raquel Gramaço

sexta-feira, junho 15, 2012

Graça Pires - Poemas Escolhidos

Graça Pires é uma referência na poesia contemporânea com vários prémios ganhos que traduzem o mérito da sensibilidade da sua escrita.

Na Apresentação da sua obra Poema Escolhidos lê-se: “Estamos no ano de 2012 e este livro é um pretexto para apresentar uma selecção de poemas extraídos do conjunto dos 12 livros que publiquei até ao final do ano de 2011…”.

Admiradora há anos da sua escrita sigo com verdadeira emoção o  blogue cujo nome teve origem na obra publicada em 1996  Ortografia do olhar.

Lê-se ainda na Apresentação desta Antologia:

"… Sei que a poesia é para ser lida por aqueles que dela gostam. Mas gostava que este livro incentivasse outros a amá-la também.".

O meu agradecimento a Graça Pires por mais esta esplêndida e sensível obra que nos oferece a ler.

Quando a véspera
do mais prolongado sossego
me fere a solidão da infância,
quero um momento,
apenas um momento,
para que o excesso de luz a prumo
amotine as palavras nos meus lábios
e as confunda com a quietude
urgente da paisagem.
De pulsos iluminados
poiso a voz no fundo da tristeza,
para expor a voz de outrora:

no dia mais bonito que vier irei, sem rumo algum,
ao deus-dará, procurar um lugar para morrer
as vezes que eu quiser, até nascer sem dor.


in, Poemas Escolhidos 1990-2011, pág.146

quarta-feira, junho 06, 2012

... a saudade dói.

Em 4 dias perdi 2 Amigos.
O primeiro a partir foi o Zak, da minha filhota, depois a minha Ritinha foi fazer-lhe companhia. A saudade dói ...

... a Vida nos seus desígnios, continua. ♥♥♥♥♥