quarta-feira, abril 25, 2007

Afectos...

É com alegria no coração que volto a estes caminhos.
Em parte, devendo-se à constante demonstração de afectos que recebi, de diversas formas. E de afectos se vive, quando são abraçados no mais livre prazer de manifestação.
É esse afecto que me liga a uma pessoa muito especial a
Lena Maltez que com todo o seu carinho e paciência, tudo fez para que eu voltasse a percorrer estes caminhos, fazendo-me ainda a atribuição do Award Thinking Blogger, que eu tenho toda a alegria em aceitar.

Deveria, como é prática, passar o testemunho a outros cinco blogues, mas vou quebrar essa regra, dedicando este Award a todos os que por aqui têm passado, porque são eles a verdadeira razão da existência deste Blogue, que cumprirá dois anos na próxima semana.

A TODOS o meu obrigada e o meu abraço.


Imagem de René Magritte


Todos os pássaros, todos os pássaros
Asas abriam, erguiam cantos,
De Amor cantavam.

Todos os homens, todos os homens,
De almas abertas, de olhos erguidos,
De Amor cantavam.

De Amor cantavam todos os rios,
Todas as serras, todas as flores,
Todos os bichos, todas as árvores,
Todo os pássaros, todos os pássaros,
Todos os homens, todos os homens.

De Amor cantavam...

(Sebastião da Gama in Elegia Segunda, “Campo Aberto”)

terça-feira, abril 24, 2007

Estados de alma...

Imagem daqui

Não sei se
os meus olhos
soltam as tuas palavras.

Caminho no meio delas,
acarinho-as docemente,
danço ao som da valsa
que elas me fazem ouvir.

Quero ser
menina eterna
de azul vestida,
como o mar,
de asas de condor
e aprender a voar.

Leio-te...
mas será que te entendo?

Será que vês o interior
da minha alma
que reflecte o meu coração
que te lê, mas não te vê?

Palavras...
que fazem sonhar
ou magoam
como pregos
espetados na
minha forma de amar.

Eis-me,
sensível,
tremente,
solitária
no meio
de tanta gente...

Eis-me,
de olhos abertos,
vendo,
lendo,
querendo...

Eis-me num Mundo
que não criei,
mas onde possuo
aquilo que mais amei.
Eis-me...no teu planeta azul.

in, "Menina Marota Um Desnudar de Alma", 
pá,s  18/19, Papiro Editora

terça-feira, abril 17, 2007

segunda-feira, abril 16, 2007

Os Olhos do Poeta...

O Eternamente Menina é um outro meu "refúgio" com uma característica muito pessoal e pelo qual nutro um especial carinho.

Foi com surpresa que recebi a notícia de que o Eternamente Menina tinha recebido um simbólico prémio do blogue do
Ruvasa que me deixou muito feliz e por isso quero aqui partilhar essa alegria, agradecendo desde já ao Ruvasa tal distinção.

Tem um outro pormenor mas que só mesmo no
Eternamente Menina saberão…




O poeta tem olhos de água para reflectirem todas as cores do mundo,
e as formas e as proporções exactas, mesmo das coisas que os sábios desconhecem.
Em seu olhar estão as distâncias sem mistério que há entre as estrelas,
e estão as estrelas luzindo na penumbra dos bairros da miséria,
com as silhuetas escuras dos meninos vadios esguedelhados ao vento.
Em seu olhar estão as neves eternas dos Himalaias vencidos
e as rugas maceradas das mães que perderam os filhos na luta entre as pátrias
e o movimento ululante das cidades marítimas onde se falam todas as línguas da terra
e o gesto desolado dos homens que voltam ao lar com as mãos vazias e calejadas
e a luz do deserto incandescente e trémula, e os gestos dos pólos, brancos, brancos,
e a sombra das pálpebras sobre o rosto das noivas que não noivaram
e os tesouros dos oceanos desvendados maravilhando com contos-de-fada à hora da infância
e os trapos negros das mulheres dos pescadores esvoaçando como bandeiras aflitas
e correndo pela costa de mãos jogadas pró mar amaldiçoando a tempestade:
- todas as cores, todas as formas do mundo se agitam e gritam nos olhos do poeta.
Do seu olhar, que é um farol erguido no alto de um promontório,
sai uma estrela voando nas trevas
tocando de esperança o coração dos homens de todas as latitudes.
E os dias claros, inundados de vida, perdem o brilho nos olhos do poeta
que escreve poemas de revolta com tinta de sol na noite de angústia que pesa no mundo.


Manuel da Fonseca in "Os olhos do Poeta"

É com alegria no coração que menciono o Poesia Portuguesa que também mereceu a atribuição do Award Thinking Blogger

sexta-feira, abril 13, 2007

Até Amanhã...

Pintura de Berthe Morisot



Sei agora como nasceu a alegria,
como nasce o vento entre barcos de papel,
como nasce a água ou o amor
quando a juventude não é uma lágrima.

É primeiro só um rumor de espuma
à roda do corpo que desperta,
sílaba espessa, beijo acumulado,
amanhecer de pássaros no sangue.

É subitamente um grito,
um grito apertado nos dentes,
galope de cavalos num horizonte
onde o mar é diurno e sem palavras.

Falei de tudo quanto amei.
De coisas que te dou para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias.


Eugénio de Andrade in "Até Amanhã"