segunda-feira, abril 09, 2007

...

Uma das mensagens que recebi via email nesta quadra da Páscoa, cativou-me de tal forma, que resolvi partilhá-la aqui…

Goivos dobrados- foto de J. Andrade

"A vida é aquilo que acontece
enquanto fazemos planos para o futuro”
(John Lennon)

O moinho de café
Mói grãos e faz deles pó.
O pó que a minh'alma é
Moeu quem me deixa só.

Dizem que não és aquela
Que te julgavam aqui.
Mas se és alguém e és bela
Que mais quererão de ti?

(Excertos de Quadras Populares de Fernando Pessoa)

sábado, abril 07, 2007

Em tempo de Primavera...

É um dos blogues onde perco o meu olhar…
Imperdoavelmente, não o tenho visitado e deixei passar o seu terceiro aniversário. Falo do Outsider o blogue da
Annie Hall um verdadeiro hino à Natureza…
Aqui deixo uma das suas espantosas imagens…


Imagem de Annie Hall



Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.
Estou um pouco ébria e estou crescendo na pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A minha ebriedade é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.



(Poema de António Ramos Rosa
 in, "Facilidade do Ar", "Antologia Poética" 1990 )

sexta-feira, abril 06, 2007

Primavera

Fotografia caseira da Menina Marota


O teu amor, querida,
fez um dia de Primavera
neste começo de Outono
que é a minha vida.
E do ramo, de onde as primeiras folhas se soltavam
pálidas, sem cor,
surgiu uma flor imprevista:
o teu amor...
Teu amor chegou assim, como uma coisa que no fundo
se deseja
mas não se espera,
emocionando o coração, neste começo de Outono
como um dia de Primavera!

(Poema de J. G. de Araújo Jorge)


Ouvir o poema na voz do Luís Gaspar
(Desligar p.f. a música de fundo para ouvir o poema)



quarta-feira, abril 04, 2007

Um Poema em forma de tango...

... porque me apeteceu
Imagem Dionísio Leitão



Dou-te a minha mão
Prendes os meus dedos nos teus
E nesse entrelaçar que nos liberta
Uma dança fazemos.

Sentes este tango, que te percorre os dedos?
Entrego-te a minha boca
Nos teus lábios amordaças os meus
E nesse beijo que nos incendeia
Uma sombra abatemos.

Porque sinto o Sol a percorrer-me o corpo, sem medos?
A ti me dou, em forma de palavras
Para que nos teus sentires, despertes os meus
E nessa paixão que nos enlaça
Um poema satisfazemos.

Um poema...
Este poema mágico, que sentimos dentro de nós
As tuas palavras, com que saboreias a minha alma...

domingo, abril 01, 2007

... em Domingo de Primavera

Gosto do sossego dos domingos de Primavera.
Do amanhecer calmo. De olhar o sol nascer, para lá das altas frondes das árvores que avisto, da janela do terraço. 

Ao longe, o sino da Igreja Matriz bate as oito horas. 
A sinfonia que me chega aos ouvidos, faz-me sorrir agradecida. 
Os pássaros, como que adivinhando o meu pensamento, entoam uma melodia única aos meus ouvidos. 
É esta, a hora de todos os despertares…
Pego no Livro e releio as palavras do autor…

Pintura de Vassily Kandinsky

"Quanto mais contemplo o espectáculo do mundo, e o fluxo e refluxo da mutação das coisas, mais profundamente me compenetro da ficção ingénita de tudo, do prestígio falso da pompa de todas as realidade. E nesta contemplação, que a todos, que reflectem, uma ou outra vez terá sucedido, a marcha multicolor dos costumes e das modas, o caminho complexo dos progressos e das civilizações, a confusão grandiosa dos impérios e das culturas – tudo isso me aparece como um mito e uma ficção, sonhado entre sombras e esquecimentos. Mas não sei se a definição suprema de todos esses propósitos mortos, até quando conseguidos, deve estar na abdicação extática do Buda, que, ao compreender a vacuidade das coisas, se ergueu do seu êxtase dizendo “Já sei tudo”, ou na indiferença demasiado experiente do imperador Severo: “omnia fui, nihil expedit – fui tudo, nada vale a pena”."

(Trecho 132, pág. 152 do Livro do Desassossego, composto por Bernardo Soares – Obras de Fernando Pessoa, Assírio & Alvim)