segunda-feira, outubro 23, 2006

Depoimento

Porque há poesia inesquecível...esta foi lembrada num comentário do poema que antecedeu este…
Obrigada, NT…
 
Eis que desço
as mãos
os dedos nus
Eis que empunho
o vidro
pela face
Eis que te utilizo
e te
destruo
Eis que te construo
e te
desfaço
Eis o gume novo
desta
pedra
Eis a faca aberta
na
manhã
as árvores
ocultas
nas palavras
o couro - a violência
o trilho
a lã
Eis o linho bordado
numa cama
a linha na fímbria
da toalha
o fuso - o feltro
o fundo da memória
Eis a água
dita
como vã
depostos objectos
de batalha:
a tenda
a espada
a sela
a sede
a vela
Eis que deponho
aquilo
que me ganha
e que retomo
a seda com que visto
a faca da sede
com que rasgo
o rigor da calma
o rigor das pernas
o rigor dos seios
quando minto

(Poema de Maria Teresa Horta)




Art de Alberto Vargas

quarta-feira, outubro 18, 2006

Desperta-me de noite...


Desenho a carvão de Antonio Melenas (autorizado)

Desperta-me de noite
O teu desejo
Na vaga dos teus dedos
Com que vergas
O sono em que me deito

É rede a tua língua
Em sua teia
É vicio as palavras
Com que falas

A trégua
A entrega
O disfarce

E lembras os meus ombros
Docemente
Na dobra do lençol que desfazes

Desperta-me de noite
Com o teu corpo
Tiras-me do sono
Onde resvalo

E eu pouco a pouco
Vou repelindo a noite
E tu dentro de mim
Vais descobrindo vales.

(Poema de Maria Teresa Horta)

domingo, outubro 15, 2006

…como uma roseira brava.

"Rose Girl" de Howard Schatz

Avancei cautelosa através das dunas. Tinha deixado o carro na estrada e aventurava-me por um caminho reconhecido.

Quantas vezes naquele local, de mãos dadas e corpos suados, tínhamos corrido em direcção ao mar?

Uma música suave fazia-se ouvir, trazida pelo vento.
Fechei os olhos e, de repente, senti a sua presença.

- Não acredito que te encontrei aqui. Não esqueceste este lugar?
- Como poderia esquecer?
– pensei, ainda incrédula pela sua presença.

- Ah…Conheço todos os teus pensamentos. Sabia que um dia virias aqui.
A sua voz tinha uma entoação doce enquanto os seus lábios tocavam o meu pescoço.

- Não sejas atrevido. Olha que nos podem ver…
Mas, sem me importar com o que acabava de dizer, deixava que o seu corpo tomasse conta do meu, e cada beijo enfraquecia a minha vontade de fugir dali.

O silêncio instalou-se para dar lugar às batidas dos nossos corpos, do nosso coração. Nem as gaivotas que voavam em círculos nos quiseram perturbar.

- Foges!? - A sua voz rouca era um lamento...

Numa gargalhada solto os cabelos que caem revoltos nos meus ombros.

Num gesto rápido, retiro a fina peça que me cobria o corpo e atiro-lha, deixando-me ficar de pé aguentando o seu olhar malicioso.

Quando os nossos corpos se uniram num frémito de paixão o grito da gaivota fez-se ouvir.

Como numa roseira brava, floresciam em nós desejos infindáveis e a entrega foi mútua, numa explosão de aromas e cores.


Quanto tempo por nós passou, meu amor,
perto de ti na imensidão do mar!

As rosas mais formosas desfolharam
e levou-as o vento pelo ar.

O meu roseiral de sonho e saudade
entreguei-o à doce claridade
do teu olhar que me ilumina ainda.



Quando corri para o mar, cabelos ao vento,ia vestida de rosas.

sexta-feira, outubro 13, 2006

Parece, mas não é...




Vem,
É a primeira vez que me usas.
Mete sua mão de uma vez,
Quero sentir a grossura e o comprimento
De cada um de seus dedos,
A largura da palma de suas mãos,
Quero sentir-te até o punho.

Vem força,
Ainda sou apertada.
Faça minha pele esticar toda
As suas pregas e costuras,
Para que amanhã te sintas confortável
Quando meteres de novo.

Vem
Sinta como sou suave por dentro...
Só comigo suas mãos estarão protegidas da neve lá fora.
Vem,
Sou seu Par de Luvas

Que ganhou e ainda não usou...

(Poema de Spiritus Lupus)


Imagens Google

terça-feira, outubro 10, 2006

Pela Tai

O sorriso da Tai

Dá-me lírios, lírios,
E rosas também.
Mas se não tens lírios
Nem rosas a dar-me,
Tem vontade ao menosde me dar os lírios
E também as rosas.
Basta-me a vontade,
Que tens, se a tiveres,
De me dar os lírios
E as rosas também,
E terei os lírios-
Os melhores lírios-
E as melhores rosas
Sem receber nada,
a não ser a prenda

Da tua vontade
De me dares lírios
E rosas também.



Poema de Álvaro de Campos





A Janela da tua Vida.


Pela nossa força, a tua Força...