Pintura de Natalia Bazhenov
Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crê! nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.
Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.
Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.
Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro a olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.
Eu não sei se é amor. Será talvez começo...
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.
Poema de Camilo Pessanha, in "Clepsidra", pág.31
8 comentários:
O amor não se descreve... apenas se sente!
Mas esta aproximação de Camilo Pessanha... é linda!
Lindo ... lindo
CF
Quem sabe definir o amor?
uhummmm...
uma doce vibração da alma. talvez...
beijo
Sempre a "Clepsidra", sempre Pessanha, intelectual e delicado como só os poetas sabem e podem ser.
Obrigada por recordar Camilo Pessanha, sempre tão forte e claro na imagem, mas por vezes tão esquecido.
Beijinhos! :)
(E acho que, se não é Amor o que o poeta descreve, então imita bem!)
Belas palavras gostei de passar por aqui...
Poema magnífico.
Adoro a sua poesia.
Obrigado pela partilha.
Enviar um comentário