Já não tenho palavras
as últimas morreram no verão passado.
E num funeral cheio de sinais
sinais de uma pontuação por conseguir
as palavras, no silêncio, encontraram o seu lugar.
A terra, o chão, que tanto pisei com avidez
e num cemitério desconhecido, distante dos olhares
lá estava eu com um sofrimento imaculado
a fazer o destino, numa despedida sofrida.
Tudo agora é memória
guardada no ventre da imaginação
faltam-me as palavras que escreviam a lucidez
faltam-me as outras, que escreviam esperança
faltam-me, sem que perceba, essa sensação
com que vibrava ao ler os teus passos
as tuas tormentas ou as brincadeiras perdidas
falta-me quase tudo, que tudo é o meu fim
que enterrou a alma dessa magia em desassossego.
Já não tenho palavras
roupagem do meu caminhar
agora sou, provavelmente, memória
que no tempo, aos poucos, também morrerá!
Poema de Paulo Afonso Ramos,
Poema de Paulo Afonso Ramos,
in "Passos espalhados pelo chão", pág. 74
(Clicar na imagem para aumentar)
Agradeço ao autor Paulo Afonso Ramos a dedicatória a folhas cinco de "Passos espalhados pelo chão", cuja imagem me permiti partilhar.
Obrigada.
7 comentários:
presente no teu fascinio!
Gostei muito de ler.
Abraço
Excelente poema do Paulo A. Ramos!
Obrigada, Menina Marota :)
Abraço grande!
dolentes as palavras!
até nos cemitérios há fogo (fátuo), como bem saberás rss
beijo
Triste e terno
Gostei...mas é bom quie a memória não morra.
Tretas
Conheço Paulo Afonso Ramos há muito pouco tempo, mas, pelo bocadinho que já li dele...estou a gostar mais, mais e mais!
Autor de poemas fortes de imagens por vezes amargas mas apaziguadoras da alma! Gosto imenso!
Beijinhos para os dois :)
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