"Maria Judite de Carvalho, feiticeira secreta da solidão" dela escreve Urbano Tavares Rodrigues no final do Prefácio que assinou nesta tão esperada reedição de Tanta Gente, Mariana:
"…Há também na obra de Maria Judite de Carvalho desde o começo uma poética dos títulos, que aliás não é alheia a uma certa poesia da sua escrita, detectável em certas imagens que vibram na economia, que não é secura, dos eventos e dos diálogos.
"…Há também na obra de Maria Judite de Carvalho desde o começo uma poética dos títulos, que aliás não é alheia a uma certa poesia da sua escrita, detectável em certas imagens que vibram na economia, que não é secura, dos eventos e dos diálogos.
Tanta Gente Mariana é, de certo modo, um retrato interior da mulher ao mesmo tempo meiga e arisca e tão secreta que eu profundamente amei e sempre admirei."
Foi com emoção que li o Prefácio da reedição de um livro que já li apaixonadamente por diversas vezes e cada leitura é uma nova revelação para mim…
Capa da nova reedição
“… Uma noite dos meus quinze anos dei comigo a chorar. Não sei já qual foi o caminho que me conduziu às lágrimas, tudo vai tão longe, perdido na fita branca do passado. Só me recordo de que o pai me ouviu e se levantou. Sentou-se ao de leve na borda da minha cama, pôs-se a acariciar-me os cabelos, quis saber o que eu tinha.
- Estou só, pai. Não é mais nada. Dei porque estava só e isso pareceu-me… Que parvoíce, não é? Estou agora só! E tu então?
Tentei rir a tapar-me, já arrependida da franqueza, mas ele não colaborou e isso salvou-o da raiva que eu havia de lhe ter na manhã seguinte. Não se riu e a sua voz, quando veio, era muito doce, quase triste.
- Também deste por isso – disse brandamente – Também deste por isso. Há gente que vive setenta e oitenta anos, até mais, sem nunca se dar conta. Tu aos quinze… Todos estamos sozinhos, Mariana. Sozinhos e muita gente à nossa volta. Tanta gente, Mariana! E ninguém vai fazer nada por nós. Ninguém pode. Ninguém queria, se pudesse. Nem uma esperança.
- Mas tu, pai…
- Eu… As pessoas que enchem o teu mundo não são diferentes das do meu… No fundo é muito provável que algumas delas sejam as mesmas, mas aí está, se fosse possível encontrarem-se não se reconheciam nem mesmo fisicamente…
Como havemos de nos ajudar? Ninguém pode, filha, ninguém pode…
Ninguém pôde.
…" (excerto)
…" (excerto)
A reedição de Tanta Gente, Mariana já se encontra à venda.
Uma bela prenda para o Natal que se avizinha
12 comentários:
Nunca li, mas fiquei com imensa vontade de ler... Obrigada pela sugestão!
Grato beijinho
solidão quem não a conhece?
querida menina que enches o meu coração. de sonhos e mistérios. que me comoves tantas ocasiões até às lágrimas. que enches o meu mundo de nostalgia e saudades de tempos idos. és um lenitivo na minha solidão maior. nos meus dias negros. nas noites mais escuras.
a tua ausência dói-me aumenta a solidão dos meus dias.
ler-te saber-te aqui enche este aposento de sol e esperança de que afinal estou vivo.
beijo-te esses dedos que partilham as tuas dádivas como sinto o ar que respiro.
a.
vou seguir a indicação de vc e procurar esta autora que desconheço
Lindo...
Um abraço com carinho,
mariah
Mais um para juntar à lista.
O tempo é escasso e a dita é longa...
Mas vontade não falta :-)
li e tenho vários livros de crónicas da Judite, sobre Lisboa.
são uma delicia.
beijinho
Uma escolha, de facto. Tudo de bom.
oi MM!! Tudo bem com vc? Quanta saudade!!
vou pedir à titia aí de Portugal que me mande gosto sempre das suas indicações.
beijões
Naty
Uma escolha excepcional. Já o li há muito tempo. É imperdível.
Um beijo MM.
Quase todos os dias te venho ler, Menina...hoje deixo-te o meu beijo de carinho e saudade.
querida MM gostaria de saber se este livro pode ser oferecido a uma jovem de 15 anos. A minha afilhada Milena faz anos mas como não conheço a autora nem o tema faço esta pergunta.
jinhos da
Ruth
Em resposta à pergunta da Ruth e espero ir a tempo, partilho um excerto da contra capa do livro e que nos diz… "Tanta gente, Mariana é uma história de reflexão, de procura de algum sentido, de respostas que não surgem para questões eternas. É sem dúvida uma obra sobre gente real, sem máscaras, retratando assuntos que nos estão bem próximos de uma forma incrivelmente realista e melancólica. Após a leitura desta obra transformamo-nos em pessoas diferentes. «Crescemos» um pouco, mudamos mentalidades, reflectimos neste percurso existencial que todos fazemos e podemos concluir que estamos sós num mundo repleto de gente."
Acho que será um belo presente para oferecer a uma jovem de 15 anos, sim!
Um grande abraço e já agora feliz aniversário para a Milena.
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