Estirada numa das cadeiras do terraço depois de todas as lides primárias domésticas serem tratadas, tais como... as plantas, os peixes, o passeio matinal, os pássaros, as roupas, etc, etc... descansei na frescura que, a esta hora, ainda desfruto num dos lados da casa e, de olhos semicerrados, olhei para dentro de mim.
Olhei... não com o olhar que miramos quem passa, ou reparamos nas folhas que se agitam, para lá da verdura que a vista alcança, mas com aquele olhar refinado que vê para além de todas as coisas.
Gosto de olhar para dentro de mim, de vez em quando, descobrir coisas esquecidas...como aquela vez que mergulhei vestida em pleno Outubro nas "Cascatas do Tahiti", quando passeávamos através do Cabril, no Gerês, para ganhar uma aposta e perdi uma das minhas sapatilhas preferidas. Mas valeu a pena...e fez sorrir a minha alma.
Há muito que não olhava bem o meu interior e, verifico agora, que poucas alterações sofreu, não obstante o "tempo" de chuva e sol, alternado por nevoeiros densos e constantes, abalassem a minha estrutura física.
Continuo a "rapariguinha franca e ousada" que não se deixava intimidar por circunstâncias adversas; o elo de ligação ao mundo exterior continua inviolável e inquebrável.
Sorrio...
Sorrio, porque sou frágil em tantas coisas, parece que, por vezes, tudo se quebra à minha volta, como um espelho para onde se atirou uma grande pedra e se desfaz em mil pedaços.
Mas não é assim... o meu lado frágil e sensível continua aliado ao outro, talvez herdado de gerações anteriores, forte, saudável, lutador, rindo-se das suas próprias fraquezas e com uma ânsia tremenda, de ver e sentir, o lado positivo da Vida.
E é neste instante que olho para lá de mim, para a força do mar, o verde esperança da vegetação que abarca o meu olhar, como um pulmão onde o ar se vai renovando a cada ciclo que a minha memória vai buscar nos recônditos do meu Ser e recordo como um dia me impressionaram as palavras de Oscar Wilde:
"As pessoas cujo desejo é unicamente a auto-realização, nunca sabem para onde se dirigem. Não podem saber. Numa das acepções da palavra, é obviamente necessário, como o oráculo grego afirmava, conhecermo-nos a nós próprios. É a primeira realização do conhecimento. Mas reconhecer que a alma de um homem é incognoscível é a maior proeza da sabedoria. O derradeiro mistério somos nós próprios. Depois de termos pesado o Sol e medido os passos da Lua e delineado minuciosamente os sete céus, estrela a estrela, restamos ainda nós próprios. Quem poderá calcular a órbita da sua própria alma?"
" in "De Profundis"
Hoje, olhei para dentro da minha alma.
Já olharam para dentro da vossa?
Um abraço
Texto escrito na Quinta-feira, de 13 de Agosto de 2009
15 comentários:
Querida Menina
Olhar para dentro da alma. Algo que se faz, mas que é condionado pelo superego, pelo ego e pelo id, para ir ao Freud. Poucos se iluminam, mais das vezes as dúvidas mantêm-se, pois mistérios são mistérios, e resta-nos a vidinha, que vamos procurando valha alguma coisa :)
Um beijo
Daniel
Quantas vezes. E fico angustiada com o tanto que há para fazer e eu sem tempo...
Um beijo.
Minha cara Menina,
As vezes que olho para dentro de mim tento encontrar o rapazinho alegre e bem disposto que fui... creio que ainda sou.
Por vezes vejo um homem que gostava de ser mas não fui. Outras vejo o homem que sou e não me vejo de outra maneira.
O que faço, isso sim, é todos os dias quando acordo, forço-me a deixar o Mr Hyde que está dentro de mim e tento relevar o Dr. Jekhyl.
A beleza... essa encontro-a em palavras e sentimentos que vou aplacando ou revelando a pouco e pouco enquanto a vida decorre.
Hoje sou um homem mais paciente e contente com a vida.
Bj
Olho para dentro de mim com bastanet frequência.É um exercício fundamental para crescermos ( embora eu já não espere crscer mais).
Bom fds
“… sou frágil em tantas coisas, parece que, por vezes, tudo se quebra à minha volta …
Mas não é assim … o meu lado frágil continua aliado ao outro … forte, saudável, rindo-se
das suas próprias fraquezas e com uma ânsia tremenda, de ver, e sentir, o lado positivo da vida …”
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Verdadeira lição esta, de coragem perante a adversidade, de afirmação duma vincada personalidade que se esconde sob delicada aparência duma mulher que consegue sorrir ante
as vicissitudes da vida e resistir ao sabor amargo dos desgostos que, porventura, a atormentam. . .
Citando Alfred Montapert:
“O autodomínio é a qualidade que distingue os mais aptos para sobreviverem.”
Carlos Ferreira
Foi bom vir aqui e ler-te. A tua sinceridade fez-me bem. Tenho alguma dificuldade em ser 1ª pessoa na prosa, mas o teu texto fala de mim...desconhecia tanta semelhança interior!
Beijo
Tenho muita dificuldade em auto-analisar-me...
Sempre que mergulho em mim sinto que estou a afogar-me num mar muito revolto!
Gostei de te conhecer...
Abraço
É a nossa fragilidade que nos faz fortes. A introspecção deixa-nos sempre a certeza de que podemos aguentar tanta coisa...
Um beijo, MM
É necessário dedicarmos algum tempo a explorar e conhecer o "inner self"...Há muitas coisas que fazem mal ao corpo mas bem à alma :-)
Minha querida Menina, obrigada pela mensagem lá em casa.
Fico feliz porque ao menos de vez em quando, o nosso encontro é possível.
Venho dizer-te que cada vez mais, talvez pelo contar dos anos, vão sendo mais constantes e profundos os olhares para dentro de mim, a ver se me conheço e me encontro...e vou-o conseguindo!
Bjs.
Maria Mamede
Olhar para dentro da alma?
Como se faz?
abre-se um buraco com uma broca?
E depois? Morre-se ou tapasse o buraco?
gosto do teu sorriso. assim desarmante...
é o que chamaria por a "alma ao sol..."
beijos
Passei por aqui de novo. É que dá ser um Blog surfer encartado. LOL
gostei de te ler, inspiras os outros a esse exercício de introspecção que é importante e saudável, porque o que somos, a partir de determinada altura, depende muito das escolhas que fazemos. e isso implica uma razoável dose de auto-conhecimento.
penso que todos, uns mais do que outros, têm em si um misto de fragilidades e de coragem e esta revela-se nos momentos de sobrevivência, nossa e daqueles que nos são queridos.
nunca nos conhecemos totalmente, mas reconhecermos em nós os nossos principais traços de personalidade, os nossos principais defeitos, receios, virtudes e sonhos é importante, para, a partir daí, evoluirmos, numa reaaaaaaalação saudável connosco e com os outros.
Sabes querida lidar como eu lido com os desafortunados da sorte através da CICV faz-nos pensar nas pessoas e nos porquês das coisas. O AC acreditava na bondade e na esperança de um mundo melhor talvez por isso ele gostasse tanto de ti, porque sempre teve a capacidade de ver para além daquilo que qualquer ser normal não via, a pessoa extraordinária que és. Admiro-te muito por essa força interior que tens para superares tantos infortunios porque já passaste!!! És uma mulher coragem e eu valorizo muito esse aspecto. Dê-me Deus forças para eu assim ser também.
kissssssssssssss querida Menina do meu coração desta tua amiga de sempre
Anita
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