Imagem de Marcin Nawrocki
I
Atravessa esta paisagem o meu sonho dum porto infinito
E a cor das flores é transparente de as velas de grandes navios
Que largam do cais arrastando nas águas por sombra
Os vultos ao sol daquelas árvores antigas...
O porto que sonho é sombrio e pálido
E esta paisagem é cheia de sol deste lado...
Mas no meu espírito o sol deste dia é porto sombrio
E os navios que saem do porto são árvores ao sol...
Liberto em duplo, abandonei-me da paisagem abaixo...
O vulto do cais é a estrada nítida e calma
Que se levanta e se ergue como um muro,
E os navios passam por dentro dos troncos das árvores
Com uma horizontalidade vertical,
E deixam cair amarras na água pelas folhas uma a uma dentro...
Não sei quem me sonho...
Súbito toda a água do mar do porto é transparente
E vejo no fundo, como uma estampa enorme que lá estivesse desdobrada,
Esta paisagem toda, renque de árvores, estrada a arder em aquele porto,
E a sombra duma nau mais antiga que o porto passa
Entre o meu sonho do porto e o meu ver essa paisagem
E chega ao pé de mim, e entra por mim dentro,
E passa para o outro lado da minha alma...
(...)
E a cor das flores é transparente de as velas de grandes navios
Que largam do cais arrastando nas águas por sombra
Os vultos ao sol daquelas árvores antigas...
O porto que sonho é sombrio e pálido
E esta paisagem é cheia de sol deste lado...
Mas no meu espírito o sol deste dia é porto sombrio
E os navios que saem do porto são árvores ao sol...
Liberto em duplo, abandonei-me da paisagem abaixo...
O vulto do cais é a estrada nítida e calma
Que se levanta e se ergue como um muro,
E os navios passam por dentro dos troncos das árvores
Com uma horizontalidade vertical,
E deixam cair amarras na água pelas folhas uma a uma dentro...
Não sei quem me sonho...
Súbito toda a água do mar do porto é transparente
E vejo no fundo, como uma estampa enorme que lá estivesse desdobrada,
Esta paisagem toda, renque de árvores, estrada a arder em aquele porto,
E a sombra duma nau mais antiga que o porto passa
Entre o meu sonho do porto e o meu ver essa paisagem
E chega ao pé de mim, e entra por mim dentro,
E passa para o outro lado da minha alma...
(...)
(Fernando Pessoa, in "Cancioneiro",
Obras Completas, I Vol. Pág.67)
9 comentários:
Atribui ao seu blogue o prémio-selo - just perfect!"your blog is just perfect to learn something every day", através do meu blogue «Partilha de silêncios».
bjs
Parabéns!!... É merecido este prémio. Este poema é lindíssimo.
Bjos.
TU és um raio de sol!!!
Que espanto de blog.
Vim aqui ter por leitura do blog Poemar-te.
Voltarei, certamente, muitas vezes.
Cordiais saudações.
Lindo, obrigada pela partilha.Jhs
Olá,
tem me visitado, e eu, rude e desleixado com a minha poesia, não tinha reparado,enfim...
Agradeço a visita de tão ilustre Poetisa, confesso que não tinha associado a a Menina Marota à Otília Martel, um eterno distraído.)
Pessoa é enorme, é do tamanho do que sente enquanto eu, ainda sou do tamanho do que vejo;)
Agradeço-lhe a visita, e o deleitar-me com a sua poesia.
Cumprimentos
beijo, Pessoana...
Vale sempre a pena passar por aqui...
bjs
partir / chegar.
sempre a poesia.
grande abraço
jorge
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