segunda-feira, julho 13, 2009

A um ausente...

 Imagem de Ragnes Sigmond


Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o acto sem continuação, o acto em si,
o acto que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
por que o fizeste, por que te foste.


A um ausente" Carlos Drummond de Andrade

13 comentários:

Paula Raposo disse...

Um excelente poema de um grande Poeta!! Beijos.

Joana Albuquerque disse...

Não conhecia este poema mas amei!! A imagem é muito gira.
beijocas pra ti e muito boa semana
Joana

carlosferreira14@sapo.pt disse...

Bonito poema este de Drummond de Andrade, que no mundo dos afectos terá. com certeza, abrangente significado.
A imagem que o ilustra é grande beleza, na sua etérea simplicidade

Carlos Ferreira

Teresa Durães disse...

gosto de Andrade como gostei deste poema!

Anónimo disse...

Um mágnifico poema de um grande poeta!

Uma mensagem a alguém... da qual pudemos tirar várias conclusões.

Adorei!

Beijo meu.

Anónimo disse...

poema tocante.
ty

Ana Tapadas disse...

Beijinho

Graça Pires disse...

É sempre um gosto enorme ler Carlos Drummond de Andrade. Obrigada por este momento MM.
Um beijo.

© Maria Manuel disse...

do inconformismo perante a partida, a separação;
a dor da saudade num poema sentido.

Elvira Carvalho disse...

Não conhecia este poema, apesar de conhecer muitos do autor. Mas como sempre Drummond encanta.
Obrigada pela partilha.
Um abraço

VERA FREIRE disse...

TENHO ACOMPANHADO SEU BLOG E ME ENTRELAÇADO EM SUAS POESIAS...
QUE BOM VER CARLOS DRUMOND DE ANDRADE,MEU POETA MAIOR, AQUI EM SUA PÁGINA.
ESSA POESIA TRADUZ TUDO QUE SINTO NESSE MOMENTO...
OBRIGADA,
BEIJOS TERNOS,
VERA

Anónimo disse...

TENHO ME ENTRALAÇADO EM SUAS POESIAS.
QUE BOM TER ENCONTRADO DRUMMOND, MEU POETA MAIOR, EM SUA PÁGINA.
ESSE POEMA ME TOCOU MUITO, É O QUE QUESTIONO NESSE MOMENTO DE MINHA VIDA...
OBRIGADA POR AJUDAR A CONFORTAR MINHA ALMA NOS MOMENTOS EM QUE BUSCO SEU BLOG.
BEIJOS TERNOS.
VERA

Anónimo disse...

FÁTIMA, VOCÊ JA LEU 'MEMÓRIA' DE DRUMMOND? É lindo!
BEIJOS TERNOS
VERA FREIRE