Pintura de Raphael Kirchner
Sejam as mulheres como as rosas
ou como as aguarelas,
quando estão connosco, quando não,
quando vibram, quando alegram,
quando doem, quando vêm e quando vão,
quando sobem as ladeiras,
quando descem passarelas.
Tragam com elas os incorruptíveis
sinais da beleza, ainda que se saiba
impossível sua erupção
fora da alma feminina, do corpo da mulher,
esse vulcão que trabalha nosso desatino,
faz a nossa inelutável rendição.
Ainda que se pense em mar, em céu,
no incrível arco multicor, no ar
que impregna a flora e balança
os frutos verdes após a chuva.
E até no rodopio do ciclone,
que louva Deus bailando
sua aterradora e tresloucada dança,
nas noites austrais, nas auroras boreais,
numa explosão de luzes no setentrião.
Nada disso ou tudo isso sequer
supera uma lembrança de mulher.
Fora de seu riso e de seu colo,
não há razão de ser, nem como florescer
a magia, a poesia, o êxtase, a canção.
Chame-se então deslumbramento
a essa compulsória devoção.
E nesse diapasão lírico,
celebro as que se foram,
cuja ausência confrange o coração,
as que esperam e acenam da janela, aquelas
que virão mitigar a dor de existir,
reinventar a fúria sagrada do amor.
As que passam majestáticas
e a gente acompanha com o olhar refém.
Aquelas que apesar de entusiasmo e de desvelo
só nos dão o seu desdém.
As que não são vilãs, nem heroínas,
nem escravas, nem rainhas, nem fundamentais;
algo mais que a sina feminina
ou a maioridade que a elas se negou.
Não se diga “é bela esta mulher”
porém bonita sua própria condição.
Surpreendam sempre como o plenilúnio,
o arco-íris, o solstício de verão,
Não falte nesse comovido poema
uma voz aveludada, uma mecha de cabelo,
os opulentos seios das hollywoodianas,
as pernas de garça das nordestinas,
a imensa tristeza das chinesas de pés pequenos.
Dê-se às mulheres o leme do mundo, deixem-nas
recuperar o sentido perdido da ternura,
apontar um outro rumo, à margem
da brutalidade, da carnificina masculina,
uma trégua para repensar se vale a pena
parir e amamentar mísseis e canhões.
Dê-se a elas o sonho do homem e grande
e do menino; dê-se às mulheres-mães o direito
de intervir no conselho de guerra das nações,
o direito de escolha além da irracionalidade viril
e da imbecil mutilação dos homens tolos.
Que além de toda dor e corrupção
cinja-se o corpo da mulher
ao corpo do poema, e de ambos
não se aparte a beleza suprema.
Vão é vosso esmero, estilistas da confecção!
Esse corpo de mulher, divino e magistral,
só precisa de raio solar, folha de parreira.
Mas dê-se a elas bons frascos de perfume,
batons variegados, provocantes lingeries,
vestidos de organdi.
Dê-se a elas inclusive a ilusão
de que precisam de séquito, vestais,
de algo mais que a generosidade
de suas curvas, que a seda de suas peles.
Deixem-nas pensar que podem superar
a grandeza de sua própria criação.
Sejam bem amadas as amantes,
orquestrados com cuidado seus suspiros
inebriados, os frágeis cristais e os apelos
de sua carne insaciada.
Sejam os rompantes das mal amadas
amparados com carícias em dosséis
e o fogo que elas trazem represado
arda nos flancos, ao galope dos corcéis.
Sejam como as rosas abertas,
cintilantes, despudoradas, acesas
ou como aquelas fechadas,
grávidas de promessas e belezas.
Sejam gráceis, redentoras.
Sejam salvação.
ou como as aguarelas,
quando estão connosco, quando não,
quando vibram, quando alegram,
quando doem, quando vêm e quando vão,
quando sobem as ladeiras,
quando descem passarelas.
Tragam com elas os incorruptíveis
sinais da beleza, ainda que se saiba
impossível sua erupção
fora da alma feminina, do corpo da mulher,
esse vulcão que trabalha nosso desatino,
faz a nossa inelutável rendição.
Ainda que se pense em mar, em céu,
no incrível arco multicor, no ar
que impregna a flora e balança
os frutos verdes após a chuva.
E até no rodopio do ciclone,
que louva Deus bailando
sua aterradora e tresloucada dança,
nas noites austrais, nas auroras boreais,
numa explosão de luzes no setentrião.
Nada disso ou tudo isso sequer
supera uma lembrança de mulher.
Fora de seu riso e de seu colo,
não há razão de ser, nem como florescer
a magia, a poesia, o êxtase, a canção.
Chame-se então deslumbramento
a essa compulsória devoção.
E nesse diapasão lírico,
celebro as que se foram,
cuja ausência confrange o coração,
as que esperam e acenam da janela, aquelas
que virão mitigar a dor de existir,
reinventar a fúria sagrada do amor.
As que passam majestáticas
e a gente acompanha com o olhar refém.
Aquelas que apesar de entusiasmo e de desvelo
só nos dão o seu desdém.
As que não são vilãs, nem heroínas,
nem escravas, nem rainhas, nem fundamentais;
algo mais que a sina feminina
ou a maioridade que a elas se negou.
Não se diga “é bela esta mulher”
porém bonita sua própria condição.
Surpreendam sempre como o plenilúnio,
o arco-íris, o solstício de verão,
Não falte nesse comovido poema
uma voz aveludada, uma mecha de cabelo,
os opulentos seios das hollywoodianas,
as pernas de garça das nordestinas,
a imensa tristeza das chinesas de pés pequenos.
Dê-se às mulheres o leme do mundo, deixem-nas
recuperar o sentido perdido da ternura,
apontar um outro rumo, à margem
da brutalidade, da carnificina masculina,
uma trégua para repensar se vale a pena
parir e amamentar mísseis e canhões.
Dê-se a elas o sonho do homem e grande
e do menino; dê-se às mulheres-mães o direito
de intervir no conselho de guerra das nações,
o direito de escolha além da irracionalidade viril
e da imbecil mutilação dos homens tolos.
Que além de toda dor e corrupção
cinja-se o corpo da mulher
ao corpo do poema, e de ambos
não se aparte a beleza suprema.
Vão é vosso esmero, estilistas da confecção!
Esse corpo de mulher, divino e magistral,
só precisa de raio solar, folha de parreira.
Mas dê-se a elas bons frascos de perfume,
batons variegados, provocantes lingeries,
vestidos de organdi.
Dê-se a elas inclusive a ilusão
de que precisam de séquito, vestais,
de algo mais que a generosidade
de suas curvas, que a seda de suas peles.
Deixem-nas pensar que podem superar
a grandeza de sua própria criação.
Sejam bem amadas as amantes,
orquestrados com cuidado seus suspiros
inebriados, os frágeis cristais e os apelos
de sua carne insaciada.
Sejam os rompantes das mal amadas
amparados com carícias em dosséis
e o fogo que elas trazem represado
arda nos flancos, ao galope dos corcéis.
Sejam como as rosas abertas,
cintilantes, despudoradas, acesas
ou como aquelas fechadas,
grávidas de promessas e belezas.
Sejam gráceis, redentoras.
Sejam salvação.
(Redentoras, poema de Erorci Santana
in “Maravilta e Outros Cantares”)
18 comentários:
li sim srª
gosto de certas formas de falar.
soa-me bem como o dizes
bjº
C.
Bemmm grande poema!!!!!
thanks girl
kiss hugs kiss
rosario (second life)
adorei o poema. Ha tanto tempo que nao vinha aqui e que nao recebia nada teu que vim aqui a correr.....
Agora vou actualizar-me nas tuas palavras, devagarinho e vou pondo mais cometarios.
beijinhos
Zica
Lindo poema, mas para mim não há um mes da MULHER! TODOS são dela!
Bjs
Querida Menina Marota
O mês de Maio é mesmo um mês especial e as palavras poemadas que connosco partilhas dão disso mesmo conta.
Gostava que recolhesses para ti a rosa lilás que coloquei na Oficina.
Um beijinho.
Querida amiga,
Linda esta homenagem às mulheres.
para mim também Maio é um mês especial.
obrigada
Querida amiga,
Linda esta homenagem às mulheres.
para mim também Maio é um mês especial.
obrigada
Maio é nome de mulher!
Encanto de poema! Imenso!
Beijo
E'tás triplamente de parabéns: p'lo poème, p'la image e p'la musique.
Alan
*Facebook*
Um poema belíssimo, uma declaração de amor às mulheres.
E Feliz Dias das Mães pra ti.
Uma bela escolha para homenageares todas as mulheres e sendo hoje o Dia da Mãe deixo-te um beijo muito especial por seres a pessoa maravilhosa que és.
JA
Porque também minha mãe
me ofereceu o mês de Maio também
e porque hoje me dou eu, em mãe
e porque um poema destes é redenção
fica um abraço do coração!
E o poema...o poema é linda canção!!
Obrigada pela partilha com afeição!
Bem hajam as Mulheres portugueses
e de todo o Mundo!
As mulheres são "como as rosas"...
Nem todas... mas o importante é o poema, a força que transmite, o brilho das palavras...
"E até no rodopio do ciclone que louva Deus bailando..."
Quando a musa está presente, algo soa a sublime...
Sempre em "forma" este blogue. Pena tenho de, de vez em vez, estar em silêncio. A poesia (e qualquer palavra é poema) carece de música. Mas não importa; enquanto a leio vou compondo melodias.
Luís Pinto
Que sejam as mulheres
de corpo inteiro
para continuarem a ser
as flores
de todos os jardins
Querida Menina
Um mundo sem as mulheres seria algo impensável...
Um beijo
Daniel
um dos melhores poemas que li sobre as mulheres, amiga!!!!
um grande beijinho
jorge
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