Pintura de Eric Drooker
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário.
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
(Poema de Eugénio de Andrade in "Antologia Breve", págs 16/17)
25 comentários:
Que podemos dizer deste poema do Eugénio, senão que já tantas vezes o lemos e sentimos que o sabemos de cor dentro de nós.
Um beijo MM.
Muito bonito...tudo de bom
Este poema do Eugénio de Andrade é uma realidade e é fantástico como se transmite tanta emoção...beijos de bom fim de semana para ti.
A genialidade de Eugénio de Andrade a "falar" de forma enternecedora e fabulosa.
As minhas palavras também "estão gastas", que hei-de dizer perante tanto encanto e beleza em palavras doces deste poema que fascina...!
Bem-Haja, amiga!
Beijinhos de imenso respeito.
Excelente escolha. Perfeita!
Cordialmente e com simpatia
pena
Olá, minha querida amiga!
Passei apenas para te dizer que te deixei no meu "Suaves Murmúrios", um selo (BLOG DE OURO) com muito carinho e dedicação. Gostaria que o fosses lá buscar por aquilo que ele representa.
Muitos beijinhos iluminados pelo brilho que emana das tuas palavras.
Fanny
Lindo demais...
Visitando seu espaço...gostei muito!
bjo,
Branca.
as despedidas são sempre tristes e este poema se Eugénio de Andrade deixa-me sem palavras. a música liga muito bem. nostálgico este teu post!!
beijos
João
Onde estou eu???
Bom FDS
Um dos muitos poemas de Eugénio de Andrade que me marcaram.
Obrigada por partilhares comigo, obrigada pelo momento lindo.
O desenho lindo!
Beijos grandes
TENHO ESTADO AUSENTE...
Os problemas com a m/sobrinha têm sido a causa do meu afastamento.
Ela tem estado muito mal, no início da semana teve uma paragem cardíaca e teve que ser operada, com apenas 26 anos!!!
Agora está um autêntico vegetal, ligada a tudo que é máquina...
Mas, hoje decidi visitar alguns dos blogues amigos e cá estou.
Aquando da minha viagem à Índia (estava lá há 2 meses atrás) houve tempo para aventuras, turismo e Solidariedade, como podes constactar no meu ultimo post.
Bom fim de semana.
Este poema é um dos meus "eleitos" diz tanto...
preciso é saber ouvir...
quando os teus olhos... agora tudo está gasto...
resta o Adeus. que ás vezes não se dá. mas já aconteceu. e as pessoas permanecem juntas depois de já não se verem a cores...
assim me sinto muitas vezes.
Obrigada pela partilha é sempre muito bom ver-te aqui.
(um dia vamos tomar um café, que me dizes?)
este poema faz-me sentir triste apesar de tanto gostar de o ler
um beijo
Lindo "adeus". O poeta toca-nos com delicada intensidade os afetos.
Obrigada pela leitura, Menina Marota.
Beijos,
H.F.
Um fantástico poema sobre um adeus inevitável.
nada resiste aos desgaste do tempo. nem as palavras...
no entanto, há poemas (in)temporais. muito belos.
beijo
vai lá dar uma forcinha
http://intervalos.blogspot.com/2009/01/convite.html
vai lá dar uma forcinha
http://intervalos.blogspot.com/2009/01/convite.html
abração
Menina
De Eugenio de Andrade nada posso dizer que não tenha sido dito e muito melhor do que eu diria...
A ti agradeço o ter relido um poema tão significativo!!!
Boa Semana
Beijos
Ana
Obrigado pela partilha.
Beijoca
Minha linda, continuas, sem descansar, a revelar o que de melhor temos e tivemos em portugal. Obrigada!
convido-te a passares aqui e responderes a esta corrente caso queiras:
http://lettersfromelise.blogspot.com/2009/01/desatando-os-ns-da-corrente.html
beijos grandes
Oi Menininha que lindas palavras.. amei.. passando pra desejar uma terça feira cheia de carinho e amor..."Não ser ninguém a não ser você mesmo,
num mundo que faz todo o possível, noite e dia,
para transformá-lo em outra pessoa, significa travar a
batalha mais dura que um ser humano pode enfrentar;
e jamais parar de lutar."
(E.E. Cummings)
Beijos.......
Eugénio de Andrade
sempre
sempre
adoro este poema!
Tive o privilégio, há uns anos, de ouvir o poeta, ele próprio, a ler a sua poesia.
Poucas coisas me arrepiam e comovem até às lágrimas - coração marcado por dores da vida :) - mas nesse momento houve lágrimas.
Um dos mais belos poemas de amor de sempre.
Abraço*
Que bonito ...
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