"Nunca te metas com uma miúda que já te bateu uma vez".
(Pedro, 9 anos)
(Pedro, 9 anos)
E recordei o Vitó meu amigo-inimigo, como o são todas as crianças na idade que tínhamos.
O Vitó era mais velho do que eu, talvez uns dois anos. Eu via no Vitó aquele irmão mais velho que não tinha e que muitas amigas “exibiam”, quando eram atormentadas pelos meninos que partilhavam as brincadeiras connosco.
É verdade que tinha primos, muito mais velhos que eu, que já não entravam nas brincadeiras de “bebés”, como eles diziam…
Voltando ao Vitó: Ele era um dos meninos que mais me martirizava. Ora me roubava o lanche, ora me puxava as tranças, ora me desfazia e roubava os laços que prendiam as ditas tranças.
Uma tarde de Outono, (como adoro as tardes de Outono) daquelas de antigamente, onde as folhas secas deslizavam pelos passeios, e sabia tão bem calcá-las e patinhar nas pocinhas da chuva, resolvi fazer uma surpresa à minha amiga Teresinha, que morava logo no quarteirão a seguir. A Rosalina, empregada da casa, tinha penteado os meus cabelos numa longa trança, presa por um laço azul, da cor do meu vestidinho.
Contente, agarrada à minha insubstituível boneca Mizé, lá fui pisando todo o folhedo que ia encontrando, no prazer de ouvir os sons que as folhas secas produziam.
Quando passei a casa do Vitó, só me apercebi que ele saltara o muro, como era habitual fazer para evitar a saída dos cães, e que vinha atrás de mim, quando senti que me agarrava no cabelo e o puxava bruscamente de tal forma, que me fez soltar lágrimas dos olhos, enquanto ele ria alarvemente.
Arrastou-me, não sei quantos metros pelo passeio, enquanto eu de lágrimas nos olhos, mas orgulhosa, não soltava um ai, tentando agarrar-me a qualquer coisa, que me fizesse parar.
Nisto, um grito fez-se ouvir:
- Victor Manuel, que estás a fazer? Larga já o cabelo da T… (o meu diminutivo)
De imediato ele largou-me o cabelo, já sem fita e sem trança, que todo desgrenhado caiu-me pelas costas abaixo; levantei-me, sacudi as folhas e a lama do vestido e corri a agarrar a Mizé, que entretanto me caíra das mãos e estava toda enlameada. Olhando para o Vitó, com toda a raiva que naquele momento sentia, disse-lhe muito claramente, na minha vozinha infantil:
- Vou-me vingar, juro que me vou vingar do que fizeste à minha Mizé...
E corri abraçada a ela, ferida no meu orgulho e dolorosamente sentida, por ver a minha boneca favorita, quase desfeita.
Não pensem que a história ficou por aqui. Matutei, onde o havia de ferir mais. E dois dias depois, tive uma ideia luminosa.
Era sabido por todos, que o Vitó adorava chocolates.
Aliás, roubava sempre o chocolate que alguém estivesse casualmente a comer, defronte dele.
Existia lá em casa, uma caixinha que eu estava proibida de mexer, que tinha umas tabletes de chocolate (não recordo o nome), mas que segundo os meus Pais, era para os intestinos, que fazia mal à barriga das meninas.
Peguei na caixa e resolvi nessa tarde, mostrá-la ao Vitó, consciente que ele não resistiria e ma roubaria. E foi o que aconteceu. Arrancou-a da minha mão e correu para o jardim de casa dele, soltando aquelas gargalhadas que tanto me enervavam.
Quando os cães começaram a ladrar, muito antes da sineta do portão tocar, eu nem me mexi. Esperava o resultado.
A Rosalina, de cara muito espantada disse aos meus Pais:
- Está ali a Mãe do menino Vitó, para falar com a menina. Quer saber que chocolate lhe deu, porque o menino está muito mal e até já chamaram o médico.
Bem… não vou entrar em pormenores, do que se seguiu… do raspanete que levei, das imensas desculpas que os meus Pais tiveram que pedir pela minha "ignorância", de que aquilo não era chocolate verdadeiro, mas se o Vitó não o tivesse roubado de mim, não estaria doente, etc...etc…
A partir daquele dia, o Vitó nunca mais se aproximou de mim. Algum tempo depois, viajei com os meus Pais e estive bastante tempo ausente.
Quando regressei e me cruzei com o Vitó na rua, ele mudou de passeio e sorriu-me timidamente…
Sorri também, feliz… A Mizé e eu estávamos vingadas! Afinal, ele tinha aprendido a lição…
O Vitó era mais velho do que eu, talvez uns dois anos. Eu via no Vitó aquele irmão mais velho que não tinha e que muitas amigas “exibiam”, quando eram atormentadas pelos meninos que partilhavam as brincadeiras connosco.
É verdade que tinha primos, muito mais velhos que eu, que já não entravam nas brincadeiras de “bebés”, como eles diziam…
Voltando ao Vitó: Ele era um dos meninos que mais me martirizava. Ora me roubava o lanche, ora me puxava as tranças, ora me desfazia e roubava os laços que prendiam as ditas tranças.
Uma tarde de Outono, (como adoro as tardes de Outono) daquelas de antigamente, onde as folhas secas deslizavam pelos passeios, e sabia tão bem calcá-las e patinhar nas pocinhas da chuva, resolvi fazer uma surpresa à minha amiga Teresinha, que morava logo no quarteirão a seguir. A Rosalina, empregada da casa, tinha penteado os meus cabelos numa longa trança, presa por um laço azul, da cor do meu vestidinho.
Contente, agarrada à minha insubstituível boneca Mizé, lá fui pisando todo o folhedo que ia encontrando, no prazer de ouvir os sons que as folhas secas produziam.
Quando passei a casa do Vitó, só me apercebi que ele saltara o muro, como era habitual fazer para evitar a saída dos cães, e que vinha atrás de mim, quando senti que me agarrava no cabelo e o puxava bruscamente de tal forma, que me fez soltar lágrimas dos olhos, enquanto ele ria alarvemente.
Arrastou-me, não sei quantos metros pelo passeio, enquanto eu de lágrimas nos olhos, mas orgulhosa, não soltava um ai, tentando agarrar-me a qualquer coisa, que me fizesse parar.
Nisto, um grito fez-se ouvir:
- Victor Manuel, que estás a fazer? Larga já o cabelo da T… (o meu diminutivo)
De imediato ele largou-me o cabelo, já sem fita e sem trança, que todo desgrenhado caiu-me pelas costas abaixo; levantei-me, sacudi as folhas e a lama do vestido e corri a agarrar a Mizé, que entretanto me caíra das mãos e estava toda enlameada. Olhando para o Vitó, com toda a raiva que naquele momento sentia, disse-lhe muito claramente, na minha vozinha infantil:
- Vou-me vingar, juro que me vou vingar do que fizeste à minha Mizé...
E corri abraçada a ela, ferida no meu orgulho e dolorosamente sentida, por ver a minha boneca favorita, quase desfeita.
Não pensem que a história ficou por aqui. Matutei, onde o havia de ferir mais. E dois dias depois, tive uma ideia luminosa.
Era sabido por todos, que o Vitó adorava chocolates.
Aliás, roubava sempre o chocolate que alguém estivesse casualmente a comer, defronte dele.
Existia lá em casa, uma caixinha que eu estava proibida de mexer, que tinha umas tabletes de chocolate (não recordo o nome), mas que segundo os meus Pais, era para os intestinos, que fazia mal à barriga das meninas.
Peguei na caixa e resolvi nessa tarde, mostrá-la ao Vitó, consciente que ele não resistiria e ma roubaria. E foi o que aconteceu. Arrancou-a da minha mão e correu para o jardim de casa dele, soltando aquelas gargalhadas que tanto me enervavam.
Quando os cães começaram a ladrar, muito antes da sineta do portão tocar, eu nem me mexi. Esperava o resultado.
A Rosalina, de cara muito espantada disse aos meus Pais:
- Está ali a Mãe do menino Vitó, para falar com a menina. Quer saber que chocolate lhe deu, porque o menino está muito mal e até já chamaram o médico.
Bem… não vou entrar em pormenores, do que se seguiu… do raspanete que levei, das imensas desculpas que os meus Pais tiveram que pedir pela minha "ignorância", de que aquilo não era chocolate verdadeiro, mas se o Vitó não o tivesse roubado de mim, não estaria doente, etc...etc…
A partir daquele dia, o Vitó nunca mais se aproximou de mim. Algum tempo depois, viajei com os meus Pais e estive bastante tempo ausente.
Quando regressei e me cruzei com o Vitó na rua, ele mudou de passeio e sorriu-me timidamente…
Sorri também, feliz… A Mizé e eu estávamos vingadas! Afinal, ele tinha aprendido a lição…
50 comentários:
Sabia que escreves bem poesia e deleito-me em lê-la. Por ela, sou fiel visita dos teus blogs.
Tenho tido, também, ocasião de ler prosa tua- muita dela que mais não é que poesia não rimada, que aprecio com o mesmo encantamento.
Não sabia era dessa tua aptidão para contista. Referes com admirável maestria uma estória da tua meninice, usando uma admirável técnica de conto, escorreita, leve e cheia de interesse .
Os meus parabéns pela prenda com que agora brindaste os teus fieis leitores.
O "chocolate" que o Vitó comeu era um remédio para a prisão de ventre e chamava-se (não sei se ainda é comercializado) BROOLAX.
Não foi só o Vitó que o comeu LOL
Um belo exemplo da maldade das crianças ... nem o diabo quer nada com elas ....
A estória que nos contas é um delirio... coisas de miudos quem já não passou por algo semelhante? belos tempos! e muitas. muitas saudades...
(já respondi ao teu desafio...)
beijo grande!
É ou não é um conto exemplar este? e exemplarmente escrito!
[obrigada pela partilha...]
Abraço,
Carla
tu escreves mui bem
amei teu blog
parabens
tens um sabor primoroso em tuas frases
parece algo mágico
mto bom
Histórias de meninos, por vezes cruéis!
O Vitó aprendeu a lição...
Quantos adultos não precisariam dum tratamento semelhante????
Lololol
Bjinho
Delicioso isto. Há tantas coisas deliciosas da nossa meninice que nos soube tão bem, e traz-nos lembranças saudosas e belas que nunca se apagarão. Eu nunca tive menina que me batesse, também nunca fui de magoar as meninas embora me metesse com algumas! Belo post este menina Marota! Beijinho.
Encantadora, deliciosa este marco da tua infância...eu, também tive alguns Vitós pelo meu caminho de infância, mas como tu...eles nunca ficaram a rir!
Jinhos grandes
Olá
é por isso que eu lamento não ter mais disponibilidade, as coisas que eu perco por não poder vir aqui tanto quanto desejaria.. Magnifico este teu post.. Bjhs e boa semana
Uma doçura de história!
Há um Cara e uma Coroa à tua espera.
Vais visitá-los ?
Sempre, sem esquecer?
A coisa promete.
Belo texto. Adoro contos.
E realmente a letra do meu blog é um pouco difícil, já pensei em mudar, mas gosto muito daquela letra. Mas de vc entrar lá sempre, vc se acostuma.
E pode linksr sim. Vou linkas vc tbm.
bjos
As palavras esgotam-se com tanta beleza da história; tempos da inocência que deixam o caminho limpo para atravessar o destino...
http://www.youtube.com/v/9HpTIUfaNG8
Um beijo meu!
O tempo em que as vinganças não eram algo de (muito) mau :)
Vale a pena ter histórias assim para contar uns anos depois. E sobretudo aquelas que englobam os Amigos da idade da inocência.
Encantador, este episódio! Como quase todas as meninas também tive alguns rapazinhos (sobretudo primos e vizinhos) que me arreliavam. E os que torturavam as minhas bonecas eram aqueles que mais "perdida" me deixavam. Um beijinho :)
Que bom recordar a infância, mesmo com todas as traquinices pelo meio... Um beijo.
Ahahaha....linda, a maneira como descreves a história...parecida a todas as que passámos na infância.Revi-me a lê-la...adorei o final...MArota! :-D
Beijos
Ol� :-)
Fiquei feliz que a frase do Pedro tenha servido de ep�grafe a este outrora/agora t�o po�tico e t�o verdadeiro!
Infelizmente eu em crian�a era tipo morcona :-(( E o que � pior e para meus pecados, de certa forma, ainda o sou. Da� eu ter achado a frase do Pedro t�o inteligente.
xi-cora�o
J�lia
Ai esta música...vim cá encher o espirito de ar ;-) e acabei de dar o teu link do blog a outra amiga...a Silvia, rapariga fixe. Tá no meu blog o seu link.
Mais beijos, vou acabar de ouvir a tua musica
ahahahah
estive a ler estas memórias de menina e o que ri!!
existe sempre um Vitó nas nossas vidas e umas asneirolas para contar mais o raspanete que se levou de seguida!
adorei!
boa noite!
Desconfio que a Marota acabou por casar com o Vitó ....
Conheço muito bem e aprecio-as imenso, as qualidades poéticas que tardas sempre em publicar, agora esta forma de expressão leve, divertida, mas ao mesmo tempo com a tua já caracteristica sensibilidade, deixou-me de facto encantado. Simples, encantador, sem grandes rebuscos, com uma candura que até um coração empedernido como o meu se enterneceu, este conto merecia estar naqueles locais, que tu andas a negar a ti própria e que seria o reconhecimento publico da tua grande capacidade literária.
Será que o Vitó te irá ler ??
Cpmtos do
JN
Uma história de meninos e menisa. Todos diferentes, totos iguais... todos frescos.
adoro histórias de infência e esta não foge à regra.
Ah e de fcto o teu blogues está muito cor de mar
beijo
Lembro-me bem de haver esse laxante.
Mas o Vitó, mereceu a lição e a caganeirita que apanhou...
E, pelos vistos, aprendeu...
Excelente crónica dos bons tempos de infância. Estou a sorrir.
Espero que o Vitó, agora Vítor, já não maltrate ninguém. Por vezes, começam assim...
Um abraço.
A Zaida, que está aqui ao meu lado, fez o mesmo com "chicletes"...
Uma história muito gira, que bem conheço...
Beijinhos
António
Vingança, lição, espero que tenhas também aprendido a lição, pois se não foi em vão.
adorei a tua vingança e a tua história ...
acho que todas nós tivemos na infância um miúdo parvo a atormantar-nos ... eu lembro-me de um que cada vez que se cruzava comigo me mordia no braço ... e eu ficava parva sem fazer nada ... que era para não desatar a chorar ... nunca me vinguei dele...
beijinhos
... coitado do rapaz, que lhe deste a volta aos intestinos! e a Mizé? casou e teve filhos?
Sorrisos & abraços.
Bonito conto e bem esgalhado.
Um abraço.
Uma bela estória dos tempos de meninice,belos tempos..
Fiquei a sorrir e a fazer umretorno ao meu tempo de infãncia.
Bjs Zita
Engraçado, como a passagem pela infância.
Ola,
Sou o Vitó e não gostei nada desta estória!!
Essa miuda era uma espertalhona ... Digam-me onde a posso encontrar, tenho umas contas a ajustar.
ahahaahh... Mas que bela história. essa tua infância.
Sorrio saudosamente... também estive rodeada de " Vitós"... e que faziam traquinices á única prima que tinham (eu).
Agora, verteram lágrimas de emoção... Por ti. Foste uma cronista magnifica.
Beijos minha querida,
Maria
Aahahahahaaaaa.
Ai menina marota.
Mas que delícia de conto.
Foi o que se pode chamar de doce vingança...
Beijo
Bom fim de semana
Carlos
Adorei ler-te...
Bonito!
Enternecedor!
A minha boneca chamava-se e ainda se chama Annick.
Está muito velhinha, mas continua a fazer parte da decoração cá de casa.
Também vou ao aqui
Beijinhos, Otília
Bonito!
Enternecedor!
A minha boneca chamava-se e ainda se chama Annick.
Está muito velhinha, mas continua a fazer parte da decoração cá de casa.
Também vou ao aqui
Beijinhos, Otília
Bonito!
Enternecedor!
A minha boneca chamava-se e ainda se chama Annick.
Está muito velhinha, mas continua a fazer parte da decoração cá de casa.
Também vou ao aqui
Beijinhos, Otília
40 comentários e mais um.
O seu bom gosto encanta. Fosket e Andrew Lloyd Webber. Que bom gosto !!!
Bem haja.
Z.
Adorei estas diabruras de crianças num texto muito bem escrito.
Com carinho, um bjo
Última Hora: o Semanário Tal & Qual noticia mais um blogue processado....
uma historia tão simples mas muito bem contada. perfeita e de uma inocência que me lembrou os meus tempos de menino. todos os meninos são assim
Eh, Eh!
Gostei imenso desta história... A inocência das crianças é fantastica e quando relembramos momentos destes é excelente.
Beijinhos e votos de um bom fim de semana.
Para quem tem lembranças, é uma delicia lemrar...gostei muito de ler...
Bjca doce
47º Comentário.
Atentamente estas memórias fizeram a revisão do meu passado de criança... e como não foram nada bons os meus tempos de "Vitó".
A Qualidade deste espaço merece elogio (vou inscrevê-lo no meu blogue)
Bem haja
Tenho um puto com 9 anos e percebo.
O teu delicioso texto fez-me recuar no tempo: retrato fiel da minha infância!
Gostei muito!!!
E gostei de me teres encontrado!
Magnífica história!
No meio de tanta marotice, conseguiste comover-me com essa memória de infância com gosto de chocolate! :-)
E sim, não há como tardes de Outono...
Um beijo, T. :-)
Um conto bem escrito e muito imagetico. :)
TU ESCREVES TÃO BEM!!!!!!! LINDOOOOOOOO ADOREI TER DESCOBERTO ESTE SITE É MARAVILHOSO
KISSSS
Enviar um comentário