segunda-feira, outubro 30, 2006

Dedicatória de Vida...


Na encosta floresce a urze,
A giesta fita-a em tufos acastanhados
Quem se lembra hoje de como em Maio
Os bosques estavam de verde banhados?

Quem sabe ainda como é o canto do melro,
Como soava a chamada do cuco?
O que antes soou tão encantador e belo
Está já esquecido e caduco.

No bosque a grande festa da noite de Verão,
A lua cheia sobre o monte além,
Quem foi que as descreveu, que as fixou?
Tudo foi disperso, tudo debandou.

Em breve também de ti e de mim
Ninguém se lembrará e terá o que contar
Vivem já outras pessoas aqui
Não haverá a quem possamos faltar.

Pela estrela da tarde e as primeiras neblinas
Iremos então aguardar,
De bom grado no imenso jardim da Deus
Iremos florescer e murchar.


(Poema de Hermann Hesse)
e, são dele ainda as palavras:
"À medida que conquistamos a maturidade tornamo-nos mais jovens. Comigo passa-se isso mesmo...pois mantive sempre o mesmo sentimento perante a vida desde os anos de rapaz; nunca deixei de encarar a minha vida adulta e o envelhecimento como uma espécie de comédia"



Imagem Rubens de Carvalho

22 comentários:

Antonio Silva disse...

Em primeiro lugar humildemente retribuo as palavras de incentivo e carinho que a prezada amiga deixa quando visita o meu blog.
Felicito-a pela selecção de tão belo poema, poderia até ter um título mais poético Elegia à Vida.
O poeta transmite a sua relação com a Vida, como tentasse descrever a sua riqueza, beleza, mas também as arbitrariedades, os conflitos e os insucessos perante a sua caminhada.
A vida é riqueza
sorrisos, alegrias
desejos, selecções e boas companhias
é necessário o ser aderir á sua beleza.

As palavras pouco ou nada valem
sentimentos pretende-se guardar
o interior do poeta não se pode ocultar
a sua escrita, o comunicar, a partilha são elementos que o impelem.
Força ... contínua a nobreza da poesia diariamente se afirma como uma certeza.
Um grande abraço de amizade.

as velas ardem ate ao fim disse...

Gostei tanto tanto tanto que fiquei sem palavras...
Resta me agradecer te pela partilha do texto.

bjinhos

Anónimo disse...

*A serenidade não é feita nem de troça nem de narcisismo, é conhecimento supremo e amor, afirmação da realidade, atenção desperta junto à borda dos grandes fundos e de todos os abismos; é uma virtude dos santos e dos cavaleiros, é indestrutível e cresce com a idade e a aproximação da morte. É o segredo da beleza e a verdadeira substância de toda a arte.
O poeta que celebra, na dança dos seus versos, as magnificências e os terrores da vida, o músico que lhes dá os tons de duma pura presença, trazem-nos a luz; aumentam a alegria e a clareza sobre a Terra, mesmo se primeiro nos fazem passar por lágrimas e emoções dolorosas.*

*Ext. de Texto de Hermann Hesse, in *O Jogo das Contas de Vidro**

Este é sem dúvida um dos meus escritores estrangeiros preferidos; foi óptimo encontrá-lo mostrando uma vez mais a lucidez das tuas preferências.


Adenda: Tenho que louvar também aqui o texto que li hoje no Poesia Portuguesa; e porque não te desassocio das personagens que revelas através destas e de outras páginas e do altruísmo que revelas, num mundo tão sedento de cada vez mais interesses materiais, o que partilhas para além de nobreza de carácter que demonstras, revelas ainda a alma bela que possuis. Sinto-me honrado por fazer parte de pequeno numero de leitores que tens. Mereces muito mais.

Cpmtos do J. N.

Anónimo disse...

*A serenidade não é feita nem de troça nem de narcisismo, é conhecimento supremo e amor, afirmação da realidade, atenção desperta junto à borda dos grandes fundos e de todos os abismos; é uma virtude dos santos e dos cavaleiros, é indestrutível e cresce com a idade e a aproximação da morte. É o segredo da beleza e a verdadeira substância de toda a arte.
O poeta que celebra, na dança dos seus versos, as magnificências e os terrores da vida, o músico que lhes dá os tons de duma pura presença, trazem-nos a luz; aumentam a alegria e a clareza sobre a Terra, mesmo se primeiro nos fazem passar por lágrimas e emoções dolorosas.*

*Ext. de Texto de Hermann Hesse, in *O Jogo das Contas de Vidro**

Este é sem dúvida um dos meus escritores estrangeiros preferidos; foi óptimo encontrá-lo mostrando uma vez mais a lucidez das tuas preferências.


Adenda: Tenho que louvar também aqui o texto que li hoje no Poesia Portuguesa; e porque não te desassocio das personagens que revelas através destas e de outras páginas e do altruísmo que revelas, num mundo tão sedento de cada vez mais interesses materiais, o que partilhas para além de nobreza de carácter que demonstras, revelas ainda a alma bela que possuis. Sinto-me honrado por fazer parte de pequeno numero de leitores que tens. Mereces muito mais.

Cpmtos do J. N.

Anónimo disse...

Esse gajo é um grande escritor, boa escolha e boa semana.

Anónimo disse...

ando para a frente e para trás a tentar ganhar tempo e inspiração, mas nada sai, apenas te digo que são sábias estas palavras. um bom feriado sofialisboa

A. Pinto Correia disse...

Escrevi algures e em tempos não muito idos, que esta é a idade da inocência.
Beijinhos O.

Elise disse...

Por vezes, não gosto de falar do tempo que passa!

Beijos amiga! :)

BlueShell disse...

perdi tudo...e me perdi de mim!

Spiritus Lupus disse...

...Não haverá a quem possamos faltar...
Mas deixaremos sempre uma recordação, um gesto de carinho, que nunca se apagará.

Bjits.

Anónimo disse...

muito bonito. :)

Bia disse...

Aimagem e o poema são lindos!
as palavras que se lhe seguem são de uma sabedoria imensa, conforme os anos passam e mais crescemos, mais percebemos que a vida é curta demais para não ser encarada "como uma espécie de comédia", faz todo o sentido.
Um beijo grande

Peter disse...

É a minha filosofia de vida, pois se não fosse, já há muito que não andaria por aqui.

É engraçado, lembro-me de ter lido essa passagem que transcreveste da prosa do Hesse.

A foto é fabulosa. É o género de fotografias de que gosto.

Bom feriado

APC disse...

Belo conjunto, como sempre!
Hermann Hesse inspira-nos em tudo quanto escreve.

Aproveito e confesso que venho cá mais vezes do que aquelas em que comento, apenas porque, injustamente, o acesso a este blog me bloqueia o PC e nem sempre consigo abrir o espaço para comentários (contudo insisto!). Mas creio que com a reinstalação do sistema, que me preparo para fazer, a coisa se resolva de vez.

E como há muito te não deixo, em primeira mão, algo que só depois irei publicar no meu blog (e sinto sempre que aqui fica em tão boas mãos:-), cá vai, porque a propósito:

"(...) Degeneramos em grotescos fantoches, atormentados pela memória das paixões que tivemos tanto medo de perseguir, e das aberrantes tentações a que não tivemos coragem de ceder. Juventude! Juventude! Nada mais há no mundo além de juventude!"

(In, O Retrato de Dorian Gray - Oscar Wilde, cap. II).

… E a juventude, é a capacidade de impedir a morte em vida.


Um beijinho!

Manuel Veiga disse...

sabias palavras. e belo poema. adorei...

Anónimo disse...

Numa única palavra. Adorei!!!!
Prometo voltar.
Bjs
Intemporal.blogs.sapo.pt

Teresa David disse...

O lobo das estepes do Hermann Hess é um dos meus livros de cabeceira de toda a vida, mas nunca tinha lido nenhum poema dele, pelo que este post foi de meu inteiro agrado.
Bjs
TD

Anónimo disse...

Uma belíssima escolha!
Beijinhos

Anónimo disse...

Hoje é dia de comentar, por isso aqui estou. Sim, tudo isso tem um quê de verdade mais eu não estou a achar piada nenhuma esta minha constante perda de fôlego quando corro, esta minha perda de cabelo ocasional, a minha galopante falta de memória e a constatação de que cada vez menos mulheres olham para mim com desejo... Raios, estou mesmo a ficar velho, OINC!

Hermann Hesse é aquele tipo que escreveu aquele coiso e que também tem alguns ensaios sobre aquela coisa... Assim de repente não me lembro mas estou a ver quem é o fulano.

Envelhecer até pode ser uma comédia mas só deve ter piada para quem nos vê envelhecer. Fiquei deprimido...
Eu quero continuar a passar horas em frente ao computador sem que depois me começe a doer a cebeça e toda a gente me diga que estou a precisar de óculos porque a idade não perdoa.
Sim, é isso que eu quero, eu não estou a ficar velho!
Pelo menos, muito.
Obrigado.

Anónimo disse...

Lindo. A imagem é de sonho.
Bjs

Mitsou disse...

Vim passar um bocadinho da tarde contigo, amiga. As saudades encaminahram-me os passos e o sorriso abriu-se mesmo antes de chegar. Talvez seja a tal maturidade que nos serena as emoções e fortalece os afectos. Será, sim, mas também a certeza de que em ti encontro sempre uma doce ternura.

Bem hajas por seres como és.

Um beijinho muito doce.

Maria Clarinda disse...

...""À medida que conquistamos a maturidade tornamo-nos mais jovens. Comigo passa-se isso mesmo...pois mantive sempre o mesmo sentimento perante a vida desde os anos de rapaz; nunca deixei de encarar a minha vida adulta e o envelhecimento como uma espécie de comédia"...
Palavras para quê?