terça-feira, agosto 15, 2006

Um poema...

Imagem de Gregory Mancuso



E apesar de tudo,
ainda sou a mesma!
Livre e esguia,
filha eterna de quanta rebeldia
me sagrou.
Mãe-África!
Mãe forte da floresta e do deserto,
ainda sou,
a irmã-mulher
de tudo o que em ti vibra
puro e incerto!...

- A dos coqueiros,
de cabeleiras verdes
e corpos arrojados
sobre o azul...
A do dendém
nascendo dos abraços
das palmeiras...
A do sol bom,
mordendo
o chão das Ingombotas...
A das acácias rubras,
salpicando de sangue as avenidas,
longas e floridas...

Sim! ainda sou a mesma.
- A do amor transbordando
pelos carregadores do cais
suados e confusos,
pelos bairros imundos e dormentes
(Rua 11...Rua 11...)
pelos negros meninos
de barriga inchada
e olhos fundos...

Sem dores nem alegrias,
de tronco nu e musculoso,
a raça escreve a prumo,
a força destes dias...

E eu revendo ainda
e sempre, nela,
aquela
longa historia inconsequente...

Terra!
Minha, eternamente...
Terra das acácias,
dos dongos,
dos cólios baloiçando,
mansamente... mansamente!...
Terra!
Ainda sou a mesma!
Ainda sou
a que num canto novo,
pura e livre,
me levanto,
ao aceno do teu Povo!...

(Poema "Presença Africana" de Alda Lara in "Poemas")

24 comentários:

Era uma vez um Girassol disse...

Boa escolha este poema de Alda Lara! Gosto muito mesmo.
A foto é linda!
Beijinho

Teresa David disse...

A minha melhor amiga viveu em Africa mts anos, e fez com que percebesse a magia daquelas terras, e particularmente a liberdade de existir por lá, descalço e com pouca roupa, o que leva a uma nudez de convivência sã identica, logo este poema remete-me para as histórias ouvidas ao longo do tempo de convivência com ela.
Bjs e até ao Porto se não fôr antes
Teresa David

Pitanga Doce disse...

A foto, a música, o poema, tudo lindo.
beijos pitanga

José Félix disse...

calulu

no travo acre da kissângua
sonho as coxas quentes de luanda

sossego com o jindungo, a jinguba
e um calulu de peixe nadando
na cor melindrosa do óleo-de-palma.

adormeço com o sabor da quitaba.


José Félix

Silvestre Raposo disse...

Mais uma vez o meu encantamento no teu trabalho. Parabens
Bjt

Carla disse...

Lindo poema, fez-me lembrar a minha terra natal... Angola.
Beijos

MAH-TRETAS disse...

Belo, revivi um passado já um pouco distante em terras de Angola.

AH

antonior disse...

Olá!

Estou de volta.

Já tinha saudades destes espaços e foi gratificante vir visitar-te. Como sempre belas imagens a ilustrar palavras magníficas, a comunicar uma sensibilidade que toca.

Um abraço

eli disse...

Alda Lara - o prazer de a reler aqui, depois das férias.

Beijinhos - bom fds

Crepúsculo Maria da Graça Oliveira Gomes disse...

Querida, que lindo o teu poema, embora de ti espere sempre coisas fantásticas a fasquia em ti tá alta, em relação ao que escreves, gosto tanto de te ler. Beijinhos amigo

Miguel disse...

Parabéns pela escolha poetica!

Os votos de um BOM FDS!

Bjks da Matilde

Isabel Filipe disse...

Que MARAVILHA ... não conhecia...
claro que me diz muito

bom fim de semana
bjs

bravo disse...

Cada vez tenho mais vontade de ir a África (estive na Tunísia mas não é a essa que me refiro). E depois de ler este poema, então...

Nilson Barcelli disse...

Não conheço a poetisa, mas o poema é muito bom.
Parabéns pela escolha.
Beijinhos.

Marco Magalhães disse...

Ler este poema, reacendeu uma certa nostalgia de África.
Música excelente.

Anónimo disse...

Bonito poema para recordar ÁFRICA !
Um bom fim de semana.
Bjs.

Alberto Oliveira disse...

Regressei.

A tempo de ler este poema a uma terra quente "pura e incerta" como a autora se lhe refere.

Um óptimo domingo para ti.

Brandybuck disse...

numa palavra... excelente.

Um beijo

Manuel Veiga disse...

uma bela surpresa, após meu regresso. sempre atenta ao que melhor se publica, marota!!!!

Amita disse...

Quem viveu ou andou por terras de África sente mais intensamente a beleza deste poema. Grata pela partilha e que te restabeleças rapidamente.
Bjo

Anónimo disse...

(...)Os vultos tornam-se cada vez mais evidentes, e a inexplicável vontade de amar(..)

Como um louco perdido na escuridão sinto as palavras, sinto os receios, busco o meu ser, escondo-me por trás do meu eu e acredite, por todos os momentos não esqueço aquele em que acredito.

Um dia é apenas um dia, uma vida não é apenas uma vida.

Persigo a perfeição, nos actos, aqueles que encontrei e defendo-me, porque estou a assumir aquilo que quero e não apenas aquilo que consigo.

Anónimo disse...

A nostalgia das minhas noites de África. Que feliz fiquei por ler aqui Alda Lara, num dos seus poemas mais expressivos.
Cpm do J. N.

Araj disse...

Desconhecia este poema... mas acheio lindíssimo

LUA DE LOBOS disse...

belissima escolha
xi
maria de são pedro

e restablecimento rápido