segunda-feira, outubro 17, 2005

Do meu livro de Memórias...


Um impulso fez-me dar uma guinada no volante e virar para a rua estreita, enquanto me buzinam furiosamente (mas que coisa, eu dei o pisca...tento "desculpar-me" da minha asneira).

Vorazes são os meus sentimentos.

Parecia que tudo estava na mesma mas, olho atentamente: Pequenas vivendas em banda, substituíam as casitas baixas que quase ocupavam a rua...

O velho bar de madeira, tinha sido modernizado... amplas vidraças banhadas pelo sol, enquanto as ondas tão perto, diluem-se na areia fina.

Que impulso me tinha levado ali? Olho o mar enquanto caminho devagar, pela passadeira de madeira... Tanta recordação...

Quanto tempo estive assim? Não sei dizer.

Repentinamente, sinto uma presença atrás de mim. Mesmo sem olhar, pressenti... Será possível? Estarei a sonhar? Ao fim destes anos?

Aquele olhar matreiro... Não evitei um sorriso.

-Estás na mesma - diz numa voz rouca (seria da emoção?).

- Continuas com o mesmo sorriso lindo. Não mudaste nada. Estás linda.

Abano a cabeça, em ar de discordar:

-E tu, com o mesmo charme de sempre - respondo baixinho

-Sim... as mulheres sempre me acharam charmoso- responde com aquele sorriso matreiro de sempre.

- Convencido, estás mais velho... ( ele sabia, como me deixava furiosa, quando dizia aquilo)

O teu perfume é o mesmo, sinto o cheiro. Agrada-me - diz maliciosamente.

Olho aqueles cabelos, cujo branco das têmporas, se tinham espalhado, dando-lhe uma cor de prata que ainda lhe acentuava mais o charme.

Sinto o sangue ferver...

Meu Deus, como amo este homem - penso - seria possível? O meu amor por ele estava intacto ao fim de tantos anos.

Mantive-me serena, com aquela serenidade que o tempo de espera, a ausência prolongada, a falta de notícias, provoca em nós...

Ao longe ouço música, que cada vez mais se aproxima.

Estamos em frente um ao outro e sinto a sua mão no meu cabelo...a pressão do seu corpo.

Até que ouço claramente uma voz feminina dizer: - "a esta hora João? Mas são duas da manhã. E uma voz masculina a responder: Mas... para tomar café Nicola..."
De um salto, levanto a cabeça e espanto dos espantos: Os olhos verdes do meu gato, estão quase encostados a mim, enquanto no rádio o locutor da RFM diz que faltam não sei quantos minuto para as seis horas da manhã.

Sacudo-o repentinamente. A mania dele cheirar o meu cabelo, enquanto durmo... O locutor continuava a falar e cheia de fúria desligo o despertador.

Tão real tinha sido o meu sonho. Ainda revia o seu olhar. Ainda sentia o meu corpo a tremer.

Bem... o melhor é não pensar. Amanhã não deixo entrar o "raio" do gato no meu quarto.


O passado não volta. Só mesmo em sonhos...




(Memórias minhas e dedicadas ao meu gato Farrusco...)

Imagem Google

41 comentários:

a disse...

Muito forte! Arrepiei-me! Beijinhos

José Gomes da Silva disse...

Deixa entrar o gato outra vez amanhã...

Por mim deixava, na esperança de um novo sonho...

E, já agora, se o tiveres, partilha-o connosco de novo.

Pelo sim pelo não, hoje vou deixar o furão entrar no quarto (não tenho gatos)

Bjs

Manel do Montado disse...

Deixei este post à Zica e nele me refiro a ti com o mesmo carinho e admiração.
"Bravo!...Bravo!
És tu e a Menina Marota. Não sou poeta mas leio, gosto e entendo um pouco de poesia.
Já li muita coisa bem ritmada, rimada e silábicamente bem consruída, mas com uma falta de sentimento e sensibilidade gritantes. Sem "graxas" de qualquer espécie, até porque pessalmente as não conheço, considero os vossos escritos de uma tradução de vida imensa e tocante. Nota-se na vossa poesia e prosa uma delicadeza de sentimentos genuína, própria de quem escreve o que sente e não de quem não sente o que escreve.
Bem hajam."
Quem esreve assim e inunda o papel virtual de sentimento e emoção, não poderá ficar só no mundo do blog. Urge o salto, sem medos e sem tremores. Quem, como tu, coloca no papel rasgos da própria vida interior, é ser mais alto como escreveu a Florbela.
Leitor sempre!

Anónimo disse...

:-) Bolas para o "bichano"! Interromper assim um sonho desses...Olha, é óptimo estares de volta. Deixaste-me um sorriso na cara com este teu post! Um abraço carinhoso.

pp disse...

Menina Marota,

o passado não volta...sim é verdade...mas de vez enquanto voltamos nós ao passado em busca de sensações...que nos fazem reviver emoções como a saudade....até para tentar perceber perceber o que somos e sentimos agora...

beijos

Anónimo disse...

porque será que o passado insiste em vir a tona mesmo que em sonho?
Senti muitas saudades daqui...muitas, fui de encontro ao meu passado durante essa ausência, mais estou de volta...sem o passado, mais com a esperança de um maravilhoso futuro...beijos carinhosos e saudosos..

Nilson Barcelli disse...

Gostei imenso da tua descrição do sonho. Bem escrito, transporta-nos com muito sentimento para recordações bem sublinhadas pela música que colocaste.
Beijinhos.

Nostalgia infinita... disse...

Adorei ler este teu texto.
Vou voltar para te ler melhor com mais tempo...bonito o teu blog...
Tambem gostei da musica.

joão vidal

Anónimo disse...

...onde é que eu já ouvi isto?!...tu escreves duma forma maravilhosa aquilo que tds nós passamos/já vivemos...Lindo!

...obrigada pelos emails de hoje!

Gosto muito de te ver de vuelta!
Um Abraço de amizade ;-)

PS-ai ai esta música....

Å®t Øf £övë disse...

Menina,
"O que foi não volta a ser mesmo que muito se queira e querer muito é poder"
Mas é uma pena quando nos interrompem sonhos assim. Será que não foi o teu subconsciênte que te fez acordar?
Boa semana.
Bjs.

Anónimo disse...

Vim visitar a menina marota que já algum tempo não aparece pelo meu Tejo. Desejo-te uma semana repleta coisas boas

Anónimo disse...

O Patxi Andión, o seu escrito... revolvem o mar de nostalgia que guardamos cá dentro. Quando «están llegando los fríos», a doçura de memórias difusas é aconchegante. Pelo Patxi Andión, pelo seu escrito: «Para tí flores, perfumes. Para mí... algunos libros [...] Cosas de viejos.»
Cumpts.

lique disse...

Sonhos desses não devem nunca ser interrompidos! :) Beijinhos, amiga!

Anónimo disse...

O prosseguir de um sonho. Bonito este texto. Beijinhos.

António disse...

Bonita prosa!
Poderias chamar-lhe:
"Reencontro...em sonho"
eh eh eh

Obrigado pela visita e pelo extenso comentário (só prova que o meu post te captou a atenção).
Curiosa a tua ideia de ver a história contada pela mulher.
Talvez um dia o faça!
Mas agora quero que a Inês seja uma chata...eh eh eh

Jinhos

Pamina disse...

Olá,
Tornei a apreciar a reviravolta final. No outro post, foi no poema que começava num tom muito triste, mas que acabava numa nota de optimismo e agora neste texto. Gostei da mudança de registos. Temperaste a nostalgia com uma pitada de humor. Gostei mesmo muito de ler esta história.
Uma boa semana para ti e um beijinho.

Anónimo disse...

as vezess volta, qd mnos esperamos volta, surpeendo-nos ao virar da esquina :) ou tv n .. mas estará sempre guardado na formade recordacao :) beijo

Crepúsculo Maria da Graça Oliveira Gomes disse...

Que bom que é recordar as nosas memórias, elas levam-nos a reviver momentos que julgavamos esquecidos.
Adorei ler.
beijinhos amiga

trintapermanente disse...

oh era sonho :(

Anónimo disse...

Há gatos que possuem a particularidade de nos acordar. E ainda bem, porque há sonhos e...sonhos. Por aqui passei e adorei como sempre.

Leeloo disse...

Deixaste-me a sorrir para o monitor.. :D Há sonhos assim, q parecem reais a ponto d conseguirmos 'tocar' nas coisas..ou quase :)

Há algum tempo q não vinha, mas vejo q vim em boa altura matar saudades. Belo texto, como sempre :)

Jinho gande e boa semana p ti ;)

wind disse...

Que sonho mais belo e vivido:) beijos

Anónimo disse...

Gostei destas memórias.Bejinhos

LUIS MILHANO (Lumife) disse...

Só um coração apaixonado, só uma paixão latente, permite tal realidade num sonho que acordados desejariamos ter sido possível e real.

Beijos

Anónimo disse...

És uma escritora de talento, amiga Marota. Vou colocar um link no meu blog, porque realmente mereces!

Grato pela visita.

E continue firme ao espalhar idéias bonitas.

Abção!

Anónimo disse...

Menina_marota [...] ouvi dizer certa vez que o sonho comanda a vida.

Um enorme beijo e inté.

Luís Monteiro da Cunha disse...

Lindo!
Parece meu sonho também, com outras nuances é certo.
Quantos amores ainda por viver, não existem no nosso subconsciente?
Tramada a nossa imaginação, não?
Não nos perdoa.

Boa semana

Elise disse...

Bravo menina!

:)

Forte abraço, uma boa semana!

Elsa disse...

às vezes há sonhos que teimamos em repetir não é? mesmo que só o saibamos inconscientemente...
vou linkar-te ;-)
um beijo

Anónimo disse...

Não volta. Mas é omnipresente.
Beijos meigos

Conceição Paulino disse...

belas memórias e felizes as pessoa k as têm. bjocas e boa semana

Peter disse...

Restam-nos os sonhos,por vezes tão reais que parecem realidade e ainda bem que o não são quando o sonho recorda momentos belos e a realidade é triste.

Pink disse...

Interessantíssimo o extracto das tuas memórias. Tesxto de leitura agradável que nos agarra e ... final inesperado e tudo. Bem escrito!
O passado não volta, só mesmo em sonhos ... a vida é em frente!
Um beijo.

Anónimo disse...

É dos teus contos mais lindos que eu li... Mas desta vez não...(?!) Apenas ficará o teu sonho na minha memória.

Um beijo

Que Bem Cheira A Maresia disse...

Regressamos :)

Beijos

Maria Clarinda disse...

Excelente Amiga!!!!!
Adorei é assim o passado...presente!
A música como sempre super adequada...
Jocas

Anónimo disse...

Mesmo sem o gato não deixes de sonhar!O sonho é que nos dá o sal à vida.Lindo e intenso.Bjs

Anónimo disse...

Orgulha-me muito o seu pedido, até porque as fotografias estão longe de ser perfeitas. Claro que as pode usar. Cumpts.

Amita disse...

Olá MM. Para onde nos transportam os sonhos... e não há nada como um gato carinhoso para nos fazer regressar à realidade dura dos dias. :)Adorei este teu conto, minha querida amiga. Tem o teu cunho pessoal. Bjokas e um sorriso

Lia Noronha disse...

Menina:adorei o seu blog e as suas narrativas bem surpeendentes!
Abraços carinhosos e bom fim de semana.

Raquel Vasconcelos disse...

Gostas de recordações... como eu.