quinta-feira, agosto 11, 2005

Olhares...

Imagem de autor desconhecido


Passar-me-ia despercebido, o olhar do cavalheiro na montra de roupa interior de senhoras, se não tivesse reconhecido o seu rosto.
O estabelecimento é pequeno, por isso, todos os olhares exteriores, são bem visíveis. Sorri interiormente, enquanto o olhar masculino percorria, uma a uma, cada peça que se encontrava na montra. Deteve-se no grande cartaz que promovia uma marca nova. De soslaio, notei-lhe um leve sorriso, enquanto permanecia de olhos posto no modelo.

Fiz as minhas escolhas, liquidei a conta e sorridente abandonei o estabelecimento.
Ao passar pelo cavalheiro, impulsivamente cumprimentei-o:

- Então Sr. Padre, por aqui? Também veio aos saldos?

Senti o leve rubor que se lhe colocou na face.
- Não vale a pena corar, Sr. Padre… as montras são para serem admiradas…

Feitas as perguntas da praxe e os cumprimentos à família, deixei o meu estimado amigo, padre numa diocese a que eu já pertenci, prosseguir o seu caminho… um pouco envergonhado (notei isso) por ter sido “apanhado” em flagrante…
De repente, ocorreu-me um poema de Nietzsche dedicado a Goethe.
Aqui vos deixo…

Enquanto o meu corpo for belo
É pecado ser piedosa,
É sabido que Deus gosta das mulheres,
E das bonitas sobretudo.
Ele perdoará, tenho a certeza,
Facilmente ao pobre fradezinho
Que tanto procura a minha companhia
Como muitos outros fradezinhos.
Não é um velhorro padre da Igreja
Não, é jovem, muitas vezes vermelho,
Muitas vezes, apesar da mais cinzenta tristeza,
Pleno de desejo e de ciúme.
Não gosto dos velhos,
Ele não gosta das velhas:
Que admiráveis e sábios
São os caminhos do Senhor!
A Igreja sabe viver,
Sonda os corações e os rostos,
Insiste em perdoar-me…
Quem não perdoará, então?
Três palavras na ponta da língua,
Uma reverência e ide embora:
O pecado deste minuto
Apagará o antigo.
Bendito seja Deus na Terra,
Gosta de raparigas bonitas
E perdoa de bom grado
Os tormentos do amor.
Enquanto o meu corpo for belo
É pena ser piedosa;
Case o diabo comigo
Quando eu já não tiver dentes.



( F. Nietzsche in "A piedosa Beppa")

21 comentários:

Fallen_Angel disse...

olá...
espero q esteja tudo bem, com os amigos do Spike e cntg :O)

coitado do padre, alem de ser padre tb é Homem :O) lá por ser padre tb pode ver montras elas estao la para serem vistas :O)
adoro Nietzche.

bjinho

augustoM disse...

Deus nunca disse que os padres não deviam amar as mulheres, até pelo contrário "casai-vos e multiplicai-vos", disse ele.
A Igreja para não pactuar com os divórcios, não quer os padres casados, mas não os proibiu de admirar o belo sexo, e daí há que estar actualizado, o porquê da visita à montra da roupa interior de senhora.
Um beijo. Augusto

Elise disse...

Deve ser muito complicado reprimir as nossas pulsões...

Beijos amiga, o fds está quase aí!

wind disse...

lololol ai os padres:) bom post;) beijos

Anónimo disse...

Pois é. Quer-me cá parecer que o que é belo (bonito, bom, sei lá...)é mesmo para ser apreciado (quase me apetece dizer saboreado). E por todos. É que, já agora, todos somos filhos de Deus (ou dos deuses). O resto, complexos, traumas, mitos...
Mas, de facto, muito bom o poema de Nietzsche. Foi feliz a escolha.
Gostei de estar neste espaço, nesta "casa". Cá voltarei, de certeza.

Lino Gomes disse...

Ocorrem-me piadas terríveis que envolvem o sr. padre, os artigos da loja, e as estátuas que pairam nas igrejas, mas claro, deixo tudo à vossa imaginação?

JPD disse...

O que tu foste fazer: estava o padre posto em (des)sossego a »tirar a pipeta da sua estranguladora castidade e celibato, vogando, seguramente, em fantasias inauditas, e tu com cumprimrntos...Fosse ele o Padre Amaro e nada de rubores o apoquentariam.
O poema de Nietzsche vem muito a preceito.
Belíssimo post
Bjs

Conceição Paulino disse...

:) Bom f.s Bj grande

Bulbucus Íbis disse...

Parabéns a voçê, nesta data querida...
bjos

armando s. sousa disse...

O poema como é lógico é excepcional. Em relação ao senhor Padre, que mais dizer do que a afirmação cristã, de que a "carne é fraca".
Um abraço e bom-fim-de-semana.

Crepúsculo Maria da Graça Oliveira Gomes disse...

Olá querida amiga, pois ás tantas estragaste, uma noite de amor, ou ficou apenas adiada. Beijokas e bom fim de semana

Eu, nos dias de hoje disse...

Esta mais uma vez lindissimo
Visita que está actualizado
http://alvarovarela.blogspot.com/
Bom fim de semana.

Wakewinha disse...

A carne é fraca! =)
Beijinho de bom fds, minha linda!

lique disse...

Olha lá o que tu foste estragar ao senhor padre!! ;) Ora e não é de perdoar um pecado tão pouco grave? E gostoso ainda pot cima... Beijinhos

Anónimo disse...

Olá Cara Menina! Vim de week-end á "Terrinha" e aproveitei para visitar os Blogs favoritos! Espero que esteja bem e obrigado pelas suas palavras! Cumprimentos...Carlos. P.S.: Continua com um Blog espectacular:)!

Amita disse...

É assim, minha amiga,são os prazeres para os olhinhos... e muito bem descrito, por sinal. O poema é fabuloso e encaixa perfeitamente no teu texto. Ainda hoje ouvi que o Verão inspira...(lol. A mim só dentro de água, mas lá, como escrever??? Bjokas grandes

in_finito disse...

Ora, estava o senhor padre a imaginar alguém com aquela lingerie e vais estragar o inocente prazer do senhor! Tá mal...:)) Gostei do poema, adapta-se perfeitamente.

Anónimo disse...

Bom post ;-)

Estou de volta, por uns dias...

Abraço Grande!

Leonor C.. disse...

Xi........... és mesmo uma menina marota!!!

Anónimo disse...

heheeh ... que mazinha q foste :-p ... adorava ter visto a cara do pobre sr ... mas afinal ele é simplesmente humano ;-)) hhiiih jokas***

António disse...

Estupenda conbinação prosa/poema.
Jinhos