Todos nós sabemos que nem todos os sonhos se realizam; uns demoram uma infinidade de tempo a concretizarem-se, outros…irão vaguear eternamente em sonhos.
Pintura de George Frederic Watts
Mas num desses sonhos, de um momento para o outro, encontrei-me a sós com o próprio sonho…para quê negá-lo: há muito desejava este encontro.
O meu corpo vibrava ansiosamente enquanto nos cumprimentávamos num beijo cândido que não traduziu o fogo que o seu corpo, encostado ao meu, provocou em mim.
Conversámos, mergulhámos nos olhos um do outro, as mãos tocaram-se...
Absorvemos o perfume de cada um, sentimos que as nossas peles se entendiam.
De súbito, convida-me a sair dali, para podermos estar sozinhos; ia jurar que não lhe respondi que sim...nem que não.
Sei que me pegou na mão e, conversando com a maior naturalidade, voámos para local onde povoam os sonhos e pelas brechas do entendimento que o meu coração permitia, dado o estado de êxtase em que estava pela realização de algo que nunca imaginara possível, ainda percebi da horrível demora em chegarmos.
A ansiedade tomava conta de mim quando, com gentileza, convidou-me a segui-lo e daí a abraçar-me, foi o tempo que o tempo não mede.
Foi um longo, longo abraço. Não pronunciámos palavra, apenas nos apertámos, corpo contra corpo e voámos.
A imaginativa abertura de uma garrafa de champanhe foi o ponto alto que comemorou o nosso encontro e diante um do outro, olhos nos olhos, enlaçámos o braço que segurava o copo e bebemos ao mesmo tempo que selámos a nossa condição de... apaixonados.
Se até aí eu tinha dúvidas neste gesto ficou a certeza para a vida: eu seria dele, para sempre, no imaginário que povoa os meus sonhos…
O seu corpo aperta-se contra o meu e tomando o meu rosto nas suas mãos beija-me demoradamente os olhos, enterrando os dedos nos meus cabelos; leva a sentar-me num pequeno maple e coloca-se a meus pés, pousando a cabeça no meu colo serenamente, enquanto as suas mãos tacteavam o meu corpo.
As minhas, lentamente, afagavam o seu cabelo macio, enquanto ele, ousadamente, continuava em peregrinação tocando-me delicadamente a pele, detendo-se no seio visível por debaixo do fino tecido.
Os seus lábios, macios, tocam os meus num beijo que sorve o hálito um do outro. Sem resistir, deixo-me acariciar, enquanto penso que sonho me transportou para aquele momento…
Sentou-se a meu lado e, de súbito os meus sentimentos explodem numa vertigem inimaginável… estamos nos braços um do outro e, como um raio, esse gesto entrou-me na alma a dizer: ele tomou-te, serás dele…. Já não é ele, apenas, que te possui; agora és tu que o vais tomar para ti.
A excitação apodera-se de todo o meu corpo; a respiração, cada vez mais apressada, provoca-o, eu solto a minha paixão: a minha boca procura-o, primeiro suavemente, depois com o frenesim que já não consigo ocultar.
Os meus lábios sugam a sua pele e os seus beijos dominam-me. Deixo-me levar pela ardência do desejo e as minhas mãos procuram-no com ímpeto.
Ainda não sei porque parei nesse momento único. Estava ofegante, feliz, nas nuvens da paixão. O meu corpo era uma explosão de sentimentos há muito não percebidos.
Nada parecia crer que iria descer à terra. Mas desci. E o sonho terminou ali, naquele breve instante em que os nossos corpos mal se tocaram. O seu rosto povoa-me os sonhos. A fantasia inunda-me a alma...
Quando abri os olhos, ainda com a mente povoada de doces ilusões, nada restava… a não ser a realidade, a minha tão terna realidade… porque sonhos… serão eternamente sonhos.
Nos sonhos nada se consubstancia... são, apenas, uma mera ilusão… imaterial.
No eterno sonho dourado
dos teus olhos, longe de tudo,
a madrugada passou,
a água esculpe na montanha
rios límpidos e transparentes.
O crepúsculo partilha os teus momentos
e a espera da manhã,
colhe as flores do amor
que existe no coração
em suave brisa
que acaricia o
o sol e sente
a ternura do
vento.