quinta-feira, julho 16, 2009

Doçuras de Verão...

Pintura de Nela Vicente




No meu mundo secreto
entre búzio azuis
algas verdes marinhas
invento poemas
soltando meu sorriso
na imensidão do mar
cabelo ao vento
coração a bailar
pés descalços na areia
ao som do violoncelo
eu quero fantasiar

Como mel
- chantilly,
doçura na tua boca
no meu corpo
a cinzelar
teus olhos castanhos
no bico da minha alma
me querem beijar

Tu és fogo
eu sou chama
tu és brasa
que inflama
acordando
o trovão
que em nossos corpos

clama…

quarta-feira, julho 15, 2009

Palavras ridículas…

    Pintura de Estall
O Poeta escrevia:
“todas as cartas de amor são ridículas”...


E o riso morre no coração
Que não derrama amor
dimensão infinita do sonho
contendo toda a grandeza
de um céu invadido de estrelas
no espelho que os deuses esculpiram
na face da lua onde as noites são límpidas
e transparentes como o sonho dos amantes

Eis a palavra que perdeu a memória
e da viagem por todo o universo, ela sente
o afiar dos espinhos que os dedos cobiçam
porque é no sangue derramado
que a palavra se solta
escrevendo o poema num grito do coração. 

segunda-feira, julho 13, 2009

A um ausente...

 Imagem de Ragnes Sigmond


Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o acto sem continuação, o acto em si,
o acto que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
por que o fizeste, por que te foste.


A um ausente" Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, julho 09, 2009

Convite

 Em 3 de Abril fazia aqui referência à satisfação pessoal que a inclusão da poesia da Amita (Fátima Fernandes) na II Antologia de Poetas Lusófonos me merecia, porque no meu entender, há muito que ela merecia este destaque.

É com verdadeira alegria no coração que vos convido a estarem presentes amanhã, sexta-feira, dia 10 de Julho, pelas 21,30 no lançamento da sua obra, Transparência de Ser, no Salão Nobre da Junta de Freguesia de Aldoar.


Conto com a vossa presença




Mãe

Escuta a brisa que meu ventre abre
Na terra dos sonhos o canto das pequeninas coisas
De braços estendidos o enlevo do sorriso que as afaga
Aquele murmurejar de água soletrando o rio
Plácido

Mãe

Sente os dois mundos que em mim trago
Saboreando o néctar das coisas invisíveis e cândidas
Entre a música e a leveza da dança
No balanço certo das outonais cores
Em folhas irisadas e suaves

Seis meses, mãe, são caminhados
Na voz das pequeninas coisas
Sob o azul da luz e o verde dos laços

Poema "As pequeninas coisas" da Amita


quarta-feira, julho 08, 2009

Pedido de casamento...

Sinto uma paz interior quando ao primeiro raiar da manhã chamo o JP que dormia ainda profundamente, para a habitual e crónica rotina hospitalar.

Confesso que nos últimos anos (já lá vão mais de nove) estes momentos eram de grande tensão para ambos, se calhar, mais para mim que para ele.

A doença avançara depressa demais e as realidades da Vida, para ele, tinham deixado de existir.

Como um menino resmungão, que não se quer levantar, barafusta para que o deixe dormir; puxo-lhe o lençol para trás e rio-me: - anda lá dorminhoco, quem te manda andar às "gatas" de noite? (a ver Tv, claro!)

Puxando a persiana completamente para cima, deixo entrar o sol que inunda o aposento, enquanto o fiel Sting, brincalhão, enceta uma gímnica vertiginosa na sua maneira pueril de mostrar a satisfação de o ver acordar.

Não é fácil falar de nós. Não é fácil falar de uma doença que, a não existir, nos teria trazido outros caminhos… Não é fácil deixar de perceber que o caminho dele não tem futuro e o meu, bem… o meu… é estar a seu lado, esquecendo que, afinal, o meu próprio caminho deixou de existir.

Deixei de existir, para ele e para mim, há muitos anos…

Existo apenas para lhe minimizar o sofrimento, para lhe dar uma vida confortável, dentro do seu próprio desconforto e que saiba e perceba, que lhe perdoei, apesar de tudo, o saber que se não fora a doença, outra já ocupava o meu lugar.

Pergunto-me, por vezes, se vale a pena anular a pessoa que sou, aquilo que sonhei, o que lutei a nível pessoal e profissional, anulando desejos e vontades, permanecendo na minha gaiola dourada.

Acho que sim. Sei que sim. Afinal, se voltasse atrás, a minha atitude teria sido exactamente a mesma.

Porque sou como sou. E não consigo ser de outra maneira.

Olho para lá da janela, onde o sol nasce, o verde da vegetação brilha ao longe, como que dando-me esperança e força.

Sinto-me em paz e a lembrança de tempos outrora felizes inunda-me e sorrio desses momentos…

O porquê destas lembranças?

No dia de hoje, há muitos anos atrás fui pedida em casamento…




 
 Imagem de Ernst Schütz


Nada direi de ti,
nem um só pensamento.

Num assomo, lentamente,
meu peito desgasta-se de palavras
que se repetem textualmente

pacientes, de toda a matéria que
se pressente para lá do que se não vê,
nem se imagina.

Entreaberto, como uma janela, meu coração
vislumbra o ocaso, em fragrâncias
de pétalas por entre caminhos
etéreos percorridos de mão em mão.

Sou quem sou.

Nesta forma de ser
não há espaço para intervalos
passeados entre os sentimentos
de olhos que nada vislumbram
nas profundezas da alma.

Rasgo meus sentidos e
abro a janela de sensações flóreas
para lá de todos os laivos de vida
que se sentem nas marés perdidas.

Hoje nada direi de ti.

Porque as palavras estão caladas
sossegadas, no fundo da alma,
e aí permanecerão.




sexta-feira, julho 03, 2009

Lágrimas...

O dia amanheceu cinzento e com um aperto no coração liguei o pc; não quis dar crédito ao meu pressentimento de que algo não estava bem com o meu tão sensível coração e tentei desviar as atenções para algo a que me tenho dedicado estes dias.

Confesso que já dera pela sua falta. Por vezes pensava em lhe enviar uma palavra para saber dela, mas ia deixando para o dia seguinte…

Comentadora praticamente assídua, mas sem dia marcado, de uma forma muito especial marcava presença neste e noutro
espaço onde sentia a sua presença de uma forma muito espiritual.

Cruzámos muitos email’s, nunca lhe vi o rosto, nem fui sabedora se teria alguma página pessoal.

Catarina Buckins das Neves não mais me sorrirá através dos seus comentários.

Seu filho Ricardo Neves, por email que me enviou ontem, mas que só hoje tive oportunidade de ler, comunicou-me o desenlace e o porquê de me escrever.

Afinidades partilhadas que levam a um profundo sentimento de perda, mesmo que não nos conhecêssemos pessoalmente.

O último
comentário que deixou foi num poema que lhe dedico… porque a vida é mesmo a...

Figuração de um sonho

Pintura de Renso Castaneda


No deslumbre do amor,
vida, corpo, voz,
algodão doce, no céu azul,
que se descobre pela manhã
incutido no mesmo espelho e
esculpidos no espírito
(cumplicidade da memória)
das almas que se tocam…
bravias, sedentas, arrojadas,
por entre o cheiro da terra molhada.

Dentro da imaginação
não existem rituais,
mas ondas invisíveis
movendo portas e janelas,
sopradas nos dias de calmia,
gravadas, palavra a palavra,
na areia da vida, voando,
sem asas, através dos ventos,
como barcos que velejam ao sabor
de cada corrente…

Beijar e dormir na tua pele nua
no abraço que me fez tua,
figuração fervente de um sonho
que permanecerá na minha mente.



Para ela o meu último Abraço.

Ao Ricardo, seu filho, o meu agradecimento pelas palavras que me endereçou. Jamais a esquecerei por toda a sensibilidade que partilhou comigo ao longo destes anos.


Obrigada.

quarta-feira, julho 01, 2009

Verão de Vida

Imagem de Boopsie Daisy



E surgiste assim de mansinho
como o primeiro raio de sol
que desponta ao amanhecer
nos olhos de uma criança

Por entre a suave claridade
sorrio
escondendo o olhar
no toque leve do teu cabelo.

Embalo-me nas ondas
coloridas da imaginação
e aguardo
marés cheias de sentidos.

Deixa que meus olhos
pousem nos teus
mar calmo de ilusão
onde permanecem,
no cheiro do jasmim,

beijos e desejos meus!