terça-feira, abril 17, 2018

O teu aniversário

Hoje é o dia do teu aniversário. 

Sempre será assim lembrado este dia, tal como nesta fotografia.

Tenho ainda presente a lista dos pedidos que me fizeste no ultimo que passámos juntos. 

Sabias que eu ia refilar com tudo o que pedias à excepção do cd do Carlos Paredes.

Foi a única coisa que, de boa vontade, te ofereci. 

Tudo o resto sabias que eu não concordava e que te fazia mal. 


Tal como fumares ou comeres o que pediste. 


Mas fiz-te a vontade.


Pudera. Depois de tanto me azucrinares o juízo acabei por condescender.


E ficaste feliz a fumar o cigarro proibido, de copo na mão, ouvindo a guitarra de Carlos Paredes.


Não sei se pressentias o fim. Não sei se a tua lista foi o derradeiro pedido antes do final.


Fui apanhada de surpresa. O choque foi brutal.


Durante estes anos tenho-me armado em forte mas ainda não consegui superar.  Às vezes dá-me a sensação de ouvir as rodas da cadeira e volto-me. E deixo-me ficar quieta alheia a tudo o resto.


Hoje é o dia do teu aniversário.


Como há quatro anos. Uma quinta-feira, lembras-te?

Três dias depois, deixaste-nos. Era Domingo. Domingo de Páscoa.

Não te digo até já. Nem até breve.

Sabes que amo a vida. Sempre soubeste. Tenho ainda por quem querer viver.  Os filhos. O neto. Vê-lo crescer é um bálsamo, uma força indescritível, onde me agarro quando o desanimo toma conta de mim.

Confesso que não foram fáceis os catorze anos que estiveste doente. Mas agarrei-me a tanta esperança. Lutei tanto por ti. Que agora a tua ausência é muito mais penosa do que foi a tua doença.

Por vezes nem acredito que já passaram quatro anos desde a tua partida.

Foi no Domingo de Páscoa.

Hoje era o teu aniversário. 

  
Quero assim recordar-nos.  Felizes.

Tenho memórias floridas 
do encanto dos teus olhos 
nos meus.

Tenho memórias floridas 
das tuas mãos no meu ventre
pela manhã.

Tenho memória das memórias
que o tempo faz permanecer
como rosa das areias no deserto

Tenho memórias de ti,
de mim, de nós.