sexta-feira, novembro 23, 2012

Fernando Pessoa

"O valor das palavras na poesia é o de nos conduzirem ao ponto onde nos esquecemos delas. O ponto onde nos esquecemos delas é onde nunca mais se pode ter repouso." (Natália Correia)
 

Não é minha opção relembrar aniversários de morte. Gosto de festejar a vida mesmo que até nem haja muito para ser festejada.

Novembro foi o mês do desaparecimento físico de Fernando Pessoa que deixou vivos, e bem vivos, os personagens que a sua mente prodigiosa criou.

Algum dia o próprio imaginaria o impacto que a sua poesia tem na conjectura da vida e das pessoas?

Quando estou triste, busco Pessoa. Quando estou alegre, busco Pessoa. Quando estou preocupada, busco Pessoa... e encontro sempre uma palavra que me conforta.

Por vezes penso que o seu conforto era ele próprio e todos os heterónimos que inventou, até aqueles que nem são tão conhecidos...

Que escreveria ele, hoje, se fosse vivo? Que escreveria do País, das pessoas e das circunstâncias subjacentes a todos os acontecimentos nacionais e internacionais?

  

"O que há em mim é sobretudo cansaço"

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos, in "Obras Completas" Fernando Pessoa,
Vol. I, págs 417/418.

quarta-feira, novembro 07, 2012

Meu novo livro já está no iTunes!

Capa do livro

Para os seguidores das novas tecnologias e daqueles que consideram que um livro digital não retira o lugar aos livros de papel e que é muito mais fácil de “transportar”, tendo o dispositivo necessário para o efeito, quer em férias, quer em viagem ou num simples momento de descanso laboral, já está disponível a versão digital “Olhos de Vida”, o meu segundo livro de poemas e pequenas histórias, e primeiro digital.

Esta publicação com ilustrações de Catarina Lourenço constará de sessenta poemas e vinte narrativas e é uma viagem em redor do meu olhar perante o mundo interior e exterior.

Constarão ainda desta publicação, para além das delicadas ilustrações já referidas anteriormente, sete vocalizações pela voz de Luís Gaspar (cinco poemas e dois textos) e disponibilizadas pelo Estúdio Raposa; um vídeo dividido em duas partes filmado integralmente nas praias favoritas da autora entre Espinho e Vila Nova de Gaia e algumas fotografias completam esta edição sui generis.

Poderá não ser uma leitura rápida e fácil já que no meu olhar há metáforas de vida que não são visíveis a um simples olhar. A compreensão do leitor perante os olhares em redor descodificará essas metáforas.

Este livro só pode ser visualizado com iBooks 2.0, num iPad com a função do iOS 5.0 e poderá ser adquirido através do iTunes ou, ainda, do editor André Gaspar  um jovem que vê nas novas tecnologias uma forma de divulgar autores para as novas gerações. 

in, Olhos de Vida, pág. 6
(Clicar em cima da imagem para aumentar)

quinta-feira, novembro 01, 2012

"... da glória na flor,..."

Imagem Google


Apesar de a luminosidade
outrora tão brilhante
Estar agora para sempre afastada do meu olhar,
Ainda que nada possa devolver o momento
Do esplendor na relva,
da glória na flor,
Não nos lamentaremos, inspirados
no que fica para trás;
Na empatia primordial
que tendo sido sempre será;
Nos suaves pensamentos que nascem
do sofrimento humano;
Na fé que supera a morte,
Nos tempos que anunciam o espírito filosófico.

Poema de William Wordsworth, in “Recordações da Primeira Infância”,
"Ode: Intimations of Immortality from Recollections of Early Childhood"