terça-feira, setembro 13, 2011

Obviamente…


Imagem oferecida por uma Amiga


- És tão obvia! E sorriu com aqueles grandes olhos esverdeados, maliciosos, meios trocistas, que mantinham a vivacidade de outros tempos.
Dei uma sonora gargalhada como há muito não me saía do peito.
Ela riu também.
- Continuas na mesma! Essa tua alegria interior nasceu contigo.
Sorri.
Há anos que nos conhecíamos. E apesar de não ter sido fácil ganharmos a confiança uma da outra, talvez por sermos tão diferentes, a nossa Amizade perdurou no tempo e na distância.
A sua profissão levava-a por caminho duros, dissera-me um dia.
Médica por paixão, cansou-se dos hospitais, dos consultórios privados e partira com uma associação humanitária regressando duas a três vezes por ano para "recarregar baterias" e voltava a partir de novo.
O tempo, o sofrimento dos outros, estavam marcados no seu rosto mas mantendo a beleza que a caracterizava.
Não tinha filhos nem familiares próximos. O casamento há muito que acabara, por isso, quando partiu, levou no seu coração aquilo que mais prezava: os Amigos e a sua Vida.
Não gostava de compromissos; o único que tinha, como o afirmara muitas vezes, era com a Vida e com os Amigos: "manter-se viva e conservar a amizade dos amigos era o seu compromisso", dizia-me tantas vezes.
Olhei o seu rosto que, como o de qualquer um de nós, acusava o passar dos anos e, igualmente, tempos duros que a sua profissão a tinham feito passar em países desconhecidos mantendo contudo o seu sorriso infrangível.
Quis saber tudo o que no decorrer desta sua última ausência me tinha acontecido e que, nos emails que trocávamos, eu não dissera.
Sorriu quando me explicou porque motivo fechara o perfil do Facebook onde entrara a meu convite mas que “um dia destes me fazia uma visita” se calhar colocando até muitas das fotos que se encontravam nos cartões de memória da sua máquina fotográfica.
- Seria interessante ou achas que ninguém se interessaria? Pergunta-me num tom de voz em que a dúvida se notava.
-Claro que sim; a diversidade de pensamentos, comportamentos e opiniões dos utentes do FB é muita, tal como na vida real. Não te esqueça que o FB espelha muito da multiplicidade existente entre todos os géneros de pessoas que o compõem. Só temos que canalizar essa variedade - respondo-lhe sorrindo.
Falar dos acontecimentos de mais de dois anos de ausência na Pátria que a viu nascer e do que ocorrera, entretanto, a ambas, levou-nos por conversas mais íntimas onde o sorriso morreu muitas vezes no olhar.
A situação actual do País, vista lá fora com preocupação por muitos, segundo as suas palavras, entristece-a. Coabitara a luta dos Pais por um País de melhores condições e via, com tristeza, que muitos dos seus sonhos não se confirmavam.
Quando nos abraçámos os nossos olhos sorriam.
Não houve tristeza na despedida porque a Amizade que nos une é tão óbvia que perdurará para além do tempo e da distância.

Hoje quis falar dela.





(Texto de 17.11.2010 "Minhas Notas Facebook")


3 comentários:

Carlos Ferreira disse...

Transcrevo:
“Quando no abraçamos os nossos olhos sorriam.
Não houve tristeza na despedida porque a Amizade que nos une é tão óbvia que perdurará para além do tempo e da distância.”

De facto, Otília, a Amizade, a verdadeira Amizade, é assim. Como tão bem descreves com aquele toque de poesia que te é peculiar. Mesmo quando escreves prosa !

Carlos Ferreira

Agulheta disse...

A verdadeira amizade sempre perdura até na distancia quando é pura e livre,sem interesses.Hoje em dia a amizade vale o que vale Otília para alguns,já tive alguns dissabores,hoje em dia a idade me aconselha a ser mais cautelosa na escolha,assim faço.Como falou no FB,é verdade hoje são amigos amanhã vai tudo embora.Ainda bem que hoje falou para uma amiga de coração e verdadeira,é tão bom e bonito.
Beijinho

Anónimo disse...

Sei o que é esta amizade!Não tenho capacidade literária para a descrevsr como a Menina o faz!No Faceb. não.... não há amizade, apenas palavras de circunstância, porque esta de que fala resiste ao tempo, às vicissitudes e continua ali sempre viva num cantinho do nosso coração e aperece sempre que é solicitada. Um abraço de amizade e até muito breve.

Acrop