sexta-feira, agosto 26, 2011

Prosaria

Premiado com o Primeiro Lugar no Passatempo Viver a Poesia, do Clube dos Poetas Vivos do Facebook que conta actualmente com 5 600 Membros registados, o texto que apresentamos de Heduardo Kiesse recebeu como prémio de participação o seguinte:- Vídeo elaborado e gravado por José-António Moreira do Sons da Escrita e publicado no Youtube;- Romance, "Não de brinca com as facas", de José António Barreiros;
- Livro de poemas "Coimbra ao som da água", de Xavier Zarco.


Com permissão do autor aqui fica o vídeo e respectivo texto.



(Desligar a música de fundo para ouvir a gravação, p.f.)

  Prosaria


Apago com luz estrelas que aguardam que o sol friolentamente se dilua no céu e faça luar o teu nome. Apago com palavras aquelas noites em que o sono não pega em ti e adormecemos de abraços dados cada um com o seu lugar marcado. À hora da poesia. Não faças distância perto de mim. Já não temos juízo nem idade para mastigar saudades.

À hora da poesia.

És tu o poema. Engole estes versos que te dou sob a forma de tranquilizante para curar a arritmia dos dias feitos de sonhar. Negra-me a pele. Endireita o caminho enquanto atraverso o poema de um lado ao outro e dá-me tempo para temperar a impaciência.

À hora da poesia.

Farei silêncio grelhado com pedaços de lua cheia. Farei carícias enlatadas e cachos de manga com sabor a fruta. Se restar fôlego. Farei crepúsculo cozido com fragmentos de nevoeiro. Não. Tudo menos crepúsculo. A última vez que fiz deixei queimar as horas dentro da panela. Quando destapei o tempo já não havia minutos que chegassem para namorar prazeres.

À hora da poesia.

É o teu alguém que acontece em mim como se não tivesse acontecido nada. É o idoso que vou sendo cada vez que a idade celebra mais um ano. É despertar com os teus sorrisos os sorrisos que ainda não ousas. São antídotos fora do alcance da fala. São botões de emergência preguiçosos. São braços entrelançados no peito.

À hora da poesia.

Escrever-te-ei em prosa para que possas tomar cada verso como um banho de cascata no coração. Respirar profundo o mar de hoje rente à linha do horizontem. Descascar a loucura ao ritmo de um grito definitivo e descalçar ilusões antes que seja tarde para recuperar a realidade.

À hora da poesia.

Quem te mandou a ti ensaboar o corpo com insultos de amor? Quem te rasgou poemas nos olhos apenas pelo simples facto de serem cascas de relâmpago colados à pele? À hora de bater asas na cara de outros voos. Quem te mandou assaltar trapézios com a altura de um céu? Quem me virá acudir se me acontecer um poema e tu não tiveres mais poesia para encher versos? Quem sacudiu lençóis de água à varanda da minha sede? Quem te vai emprestar os meus lábios quando os teus já não tiverem mais beijos para gastar?

Eu. Eu que te julgava um poema? Não! Tudo menos poemas.

Hoje sei que à vista desarmada a poesia é realidade que acontece quando não se tem outra ilusão. Mas. O que importa escrever assim ou assado se conservo em mim a dádiva de ser alado como um pássaro voando na direcção correcta?




terça-feira, agosto 16, 2011

"Músicas sobre água" (reposição)



Sob minha pele, eflúvios de mar, ondas de loucura, 
dança rítmica que crio no meu universo de fantasia. 
Meus olhos, como o teu sorriso, brilham de ternura. 
Palavras que não ouso, ciciam a paixão que te pertencia. 

Do silêncio ao silêncio música, em tons de maresia 
floresce a respiração e não diz a fusão do pensamento. 
Esquece proibições, condenações num toque de poesia, 
sente o calor na intensidade e beleza deste momento. 

Voando, danço em marés de azul transparente 
horas de amor, de dúvidas e de prazer, 
ao som do violoncelo que toca veemente. 

Dois mundos olham-se, únicos e profundos. 
Lentamente, morrem raios de sol no poente. 
A música meu corpo enlaça e o sonho continua!


Imagem: Pintura de Victor Ribeiro "Músicas sobre Água", na exposição inaugurada no Reservatório da Patriarcal (Praça do Príncipe Real), cuja pintura inspirou-me este poema.

sexta-feira, agosto 05, 2011

Momentos de vida

Imagem de Haleh Bryan



Na minha face há a serenidade
de dias calmos baloiçando ao vento
entre o mar e as gaivotas 
que pululam o firmamento.

Nos meus braços há a ternura de sentimentos 
partilhados dia a dia 
na lembrança de um amor
vinculado e relembrado que, 

na encruzilhada do tempo, 
entre sonhos e memórias, 
vive gravado na areia da nossa praia secreta, 
escultura sólida,
onde escrevo o alvorecer do amanhã
que comigo permanece 
na lhaneza da vida.