quarta-feira, dezembro 30, 2009

sábado, dezembro 19, 2009

Feliz Natal.




Para muitos é Festa de alegria,
Gulodices na mesa da fartura;
É feira de presentes, euforia,
É calor, é convívio, é ternura.

Para alguns é pesar, melancolia,
Miséria, sofrimento, desventura,
Solidão, desamparo, e agonia,
Vividos no Presépio da amargura.

Tivesse eu tal condão, que por magia,
Descobria um Natal, em cada dia,
Para qualquer indigente ou desgraçado.

Não tenho esse poder, mas o que faço,
É deixar-te aqui hoje um forte abraço
Com votos de um Natal abençoado.



"Bom Natal" de João Manuel Oliveira

terça-feira, novembro 24, 2009

Partilhando sensibilidades...


A maioria de quem me conhece ou me foi conhecendo no decorrer destes anos, quer no mundo real ou virtual, já percebeu a importância que é para mim a Amizade, porque não a considero uma palavra vã, bem como na partilha dos afectos que se vão gerando por estes meios. Há muito que a divulgação de tudo aquilo que me enche a alma é uma das minhas grandes prioridades não obstante os variados obstáculos que tenho encontrado pelo caminho.

Partilhar os momentos de disponibilidade, carinho e afecto que no decorrer destes últimos dias me foram prestados é, sem dúvida alguma, muito especial para mim.

Teresa Cunha é, sem dúvida, Gente com um G enorme. Uma mulher extraordinária, que assume de uma forma sui generis todos os seus sentimentos e motivos de Viver.



A sua obra “Por Tentativa e Erro” (que espero que tenha continuação) é um exemplo vivo da sua especial vivência e da forma como a sua alma de artista cresceu no meio de um Mundo que, muitas vezes, nem sequer lhe foi favorável.

“Por Tentativa e Erro” é o símbolo de uma visão feminina, num mundo do poder que se pensa masculino, de uma Mulher que tem orgulho de o ser e, não nega, de forma alguma, essa forma de estar.

Foi pois, na intimidade da residência desta força da natureza, rodeada de pinturas extraordinárias da sua autoria, que eu passei estes três últimos dias; a Amizade, solidariedade e força de viver, foram uma constante: não tenho palavras para descrever tudo o que me vai na alma ao lembrar, minuto a minuto, todos os acontecimentos da alegria que foram estes últimos dias.

Teresa Cunha e Lígia Moreno
(minha parceira de viagem de ida e volta Norte/Sul) proporcionaram-me um fim-de-semana prolongado dos mais fantásticos dos últimos tempos! Obrigada!

A Amizade não se agradece, diz-se muitas vezes…mas eu sou uma pessoa de afectos, para quem uma simples palavra, um gesto de ternura, tem cada vez maior significado. Por conseguinte, agradeço do fundo do coração a generosidade de todos os que partilharam comigo estes dias maravilhosos…

Obrigada, Teresa Cunha, Lígia Moreno e todos os que fizeram destes dias, momentos tão encantadores, diria mesmo… únicos, nestes últimos tempos, em que por tantas provações passei!

Um xi-coração no maior Abraço que te possa dar, Teresa Cunha e desculpa, se vou aqui partilhar algumas fotos destes dias…



E o descanso depois de um dia de emoções...

terça-feira, novembro 17, 2009

"Por tentativa e erro" - Convite

Capa do Livro - pintura de Teresa Cunha


Onde meu coração naufragar
Estarás tu,
De novo,

E um princípio,
E um fim,
Ainda,

E luz,
E treva,
Concordarão de repente,

Vida minha,
Tu és minha hora tranquila,
Meu paraíso,
Minha pena,

Tu és a minha casa,
O meu país,
És tu.

(*)Teresa Cunha



(*) Após longos anos no exercício de uma carreira profissional no Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), Teresa Cunha relata as muitas atribulações de uma Trabalhadora Humanitária na luta diária para cumprir os seus objectivos no decurso de uma década. A narrativa é factual e contribui para a desmistificação de algumas concepções erróneas sobre este trabalho e as heróicas criaturas que o cumprem.
Sendo a autora cidadã luso-canadiana, as experiências combinam não só duas culturas de base muito diferentes, nomeadamente a Europeia e a Norte-Americana, mas também todas as culturas que visitou no decorrer de vários anos de serviço enquanto Funcionária-Pública Internacional, sobretudo em África e nos Balcãs durante as mais recentes guerras.
Trata-se dum relato leve, humorístico e por vezes comovedor das experiências de vida de muita gente diversa, de muitas nacionalidades diferentes, e essencialmente focado sobre o chão comum que partilhamos enquanto cidadãos deste planeta.





Será com muita alegria que me deslocarei a Lisboa no próximo fim-de-semana para estar presente a este lançamento cuja apresentação está a cargo do Poeta Casimiro de Brito .
O evento realizar-se-á pelas 17 horas do dia 22 (domingo), no Bar-livraria “Les Enfants Terribles” do Cinema King, situado na Avenida Frei Miguel Contreiras, 52 A (junto à Av. de Roma).


Contamos consigo.

quinta-feira, novembro 12, 2009

Gineceu...





"…É outra vez sexta à noite. De novo a campainha. O nosso filho abraça-te. Tu ergues o olhar e olhas-me um breve instante. Eu fecho as cortinas. Tu ergues o olhar e olhas-me um breve instante. Eu fecho as cortinas. Não suporto esse olhar sem culpa. O carro afasta-se e eu fico só. Insuportavelmente só. Eu só te queria pedir que o não levasses. Para que eu não me sinta mais uma vez suspensa nessa solidão a que me condenaste. A minha dor tem contornos de capricho aos teus olhos. Enfado-te. Saturo-te. Odeio-te. És execrável. Um sacana de merda, que se fica a rir das minhas lágrimas. Mas não regozijes, que ainda não é hoje que me mato ou desapareço. Eu vou ficar cá. Sou a tua memória. O cheiro fétido que te lembra o passado que queres esquecer. Eu vou ficar aqui, à espera que sofras. Eu sou a prova do teu logro, da tua vida miserável. Essa dor não passa, nem vai passar. Esse é o pequeno consolo deste meu presente árido e desolado. Ergo-te a taça do meu despeito. Que ela te faça chafurdar na solidão e desespero como o teu me fez. É o brinde que faço a mim mesma."
Termina assim a história de Laura, uma das quinze mulheres que o livro Gineceu retrata.
No final do prefácio assinado por Andreia F. S. Varela lê-se: “… Gineceu treme, grita, chora e comemora numa só língua; faz-nos pensar que somos, todos, fragmentos de uma mesma criatura que vale a pena a qualquer hora: de manhã, à tarde, de noite… Esteja a solidão aqui, ou a bater à porta, do lado de fora.


(in, “Gineceu” de Cristina Nobre Soares, pág. 13 a 15)

domingo, novembro 08, 2009

Palavras partilhadas...

Pintura de Dawood Henry McGuire


É na palavra partilhada
alegre, sol no coração
que o poeta sente a brisa 
correndo lés a lés, 
movendo-se
em ditongos de oração.

Entre palavras voa uma gaivota
seduzida pela aragem
nascida das ondas
(brisa marinha com aroma a jasmim)
face a face com a lua 
que envergonhada
se esconde numa nuvem
e a deixa passar.

É na palavra partilhada
ousada
inebriante de anseios
que os enamorados
lado a lado
caminham entre sulcos de desejos
na demora de um tempo audacioso, 
que transmita o tumulto dos seus corações
bravios, sedentos, 
ardentes de mil afectos
e se unem 

no desejo incontido
corpo, pele, suor,
e mitiguem a sede abrasadora
dos seus lábios.

É a palavra
partilha de sentimentos
que se cruzam na vida
e no coração.


(Desligar, por favor, a música de fundo para ouvir o vídeo)

sábado, outubro 31, 2009

Homenagem…

Ao amigo, poeta, escritor, historiador, encenador, político, professor, ao Homem que incorporou tudo numa só pessoa: Fernando Peixoto.

Porque se o corpo parte a lembrança e as memórias permanecem.


Hoje os Amigos vão marcar presença numa Homenagem que em sua honra vai decorrer no Auditório Municipal de Gaia organizado pela Associação das Colectividades de Gaia.





AMIZADE

Penso em ti: sinto em mim a nostalgia

desse abraço que fica tão distante
e, mesmo assim, nos liga dia-a-dia
e nos aproxima a todo o instante.

Penso em ti: sinto em mim essa tremura
que se espalha ao longo dos meus braços
e te envolve comigo na ternura
com que te aperto a mim, em mil abraços.

Penso em ti: e respiro bem melhor
por saber que te tenho ao meu lado
e que o ar que respiro é o calor
da aragem da amizade em duplicado.

Penso em ti: e pensar é já viver
contigo residindo no meu peito
aprendendo, afinal, a conviver
contigo, tal qual és, desse teu jeito.

E sinto que afinal valeu a pena
sentir como tu sentes a vontade
de viver assim, de forma plena,
este sabor intenso da Amizade.

("Penso em Ti", poema de Fernando Peixoto

domingo, outubro 25, 2009

Chuva Oblíqua...

Imagem de Marcin Nawrocki


I

Atravessa esta paisagem o meu sonho dum porto infinito
E a cor das flores é transparente de as velas de grandes navios
Que largam do cais arrastando nas águas por sombra
Os vultos ao sol daquelas árvores antigas...

O porto que sonho é sombrio e pálido
E esta paisagem é cheia de sol deste lado...
Mas no meu espírito o sol deste dia é porto sombrio
E os navios que saem do porto são árvores ao sol...

Liberto em duplo, abandonei-me da paisagem abaixo...
O vulto do cais é a estrada nítida e calma
Que se levanta e se ergue como um muro,
E os navios passam por dentro dos troncos das árvores
Com uma horizontalidade vertical,
E deixam cair amarras na água pelas folhas uma a uma dentro...

Não sei quem me sonho...
Súbito toda a água do mar do porto é transparente

E vejo no fundo, como uma estampa enorme que lá estivesse desdobrada,
Esta paisagem toda, renque de árvores, estrada a arder em aquele porto,
E a sombra duma nau mais antiga que o porto passa
Entre o meu sonho do porto e o meu ver essa paisagem
E chega ao pé de mim, e entra por mim dentro,
E passa para o outro lado da minha alma...
(...)


(Fernando Pessoa, in "Cancioneiro",
Obras Completas, I Vol. Pág.67)

segunda-feira, outubro 12, 2009

Dizem...

Imagem de Josephine Wall


"Dizem que as palavras não prendem, mas que envolvem, em cor e se misturam no sentir; Dizem que uma palavra é um beijo, um afecto que traça o destino;" (Almaro)
(Mote)

Dizem
o vento seca a flor colorida
o mar liberta o castelo qu’a criança
construiu.

as lágrimas secam
no rosto que
sorriu

a chuva
baila
entre a flor que
floriu

amizade,
esperança,
força que traz
bonança,
na beleza do olhar
que sinto dentro de ti

no beijo
que te deixo
há alento, o desejo
meu Amigo
neste olhar sentido, que
as flores te perfumem,
meus braços
te cinjam
nas palavras que se
pintam
em aguarelas de
cor!

Dizem
palavras
aladas
perpetuas
de amor.

quinta-feira, outubro 08, 2009

Afabilidades...

Confesso, que é com uma certa alegria no coração que recebo as comunicações do Jornalista Mhário Lincoln, do Portal de informação que possui. Já nem me recordo há quantos anos dura esta colaboração. 
É sempre um gáudio enorme para mim, muito embora, por vezes, nem o divulgue como deveria e mereceria, já que ainda não consigo vencer a minha timidez natural de divulgar os meus próprios trabalhos.

Mhário Lincoln tem sido um amigo atento que, altruistamente, tem levado alguma da minha obra e a de muitos outros poetas, incluindo um dizeur conhecido, igualmente muito divulgado nos meus blogues, que tem partilhado no seu Portal com muita regularidade e esse facto merece todo o meu respeito e amizade.

Mas o meu contentamento de hoje ultrapassou essa alegria crescente que em mim se instala sempre que recebo uma comunicação sua, porque a que recebi hoje tinha uma especial referência que me deixou extremamente sensibilizada, por não esperada.

Partilho convosco a alegria das palavras que recebi…





ESTA FOTO

Um sorriso, uma menina
Perfil santo, um santuário,
Estuário de sereias do arco-íris
As cores fortes que te vestem, Ísis.
São as cores do coração pulsante
Egoísta e único, Amante
Sem manchas passadas.

Óculos escuros me privam
De ver a tua verdade, me crivam,
Mesmo que dos óculos se enxergue
Tuas virtudes, tua fidelidade
Teu banzeiro quebrando na praia
Das melodias cancioneiras do tempo, a raia,
Dos sorrisos marotos, tua brisa.

O que te ornamenta o pescoço
Ornamenta teus sonhos e tua vida.
O ouro da virtude. A prata da bem-querença
O soluço de quem reinventa o amor
A todo instante; minha grande amiga.


(*)Mhário Lincoln


Uma homenagem a minha amiga portuguêsa
com respeito e admiração.


(*) Mhário Lincoln é jornalista e advogado. Tem livros de Direito e Jornalismo publicados. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Possui larga experiência em rádio, tv e jornalismo impresso

segunda-feira, outubro 05, 2009

A Lição de Poesia

Imagem de Anne Magill


Estamos sentados num banco todo branco
Sob o busto de Lenau

Abraçamo-nos
E entre dois beijos falamos
De poesia
Falamos de poesia
E entre dois versos abraçamo-nos

O poeta olha para longe através de nós
Através do banco branco
Através do saibro da alameda

Ele cala magnificamente
Os seus belos lábios de bronze

No jardim público de Verchatz
Aprendi pouco a pouco
O que é essencial num poema


(Poema de Vasko Popa in "Cem poemas de amor de outras línguas", pág. 45)

sexta-feira, outubro 02, 2009

Coisa simples...

Este Poema foi colocado em 18 de Julho e posteriormente retirado.
Mas há ocasiões da nossa vida que não se apagam com um simples gesto por isso resolvi recolocar este momento e deixá-lo ficar.
Há memórias que devem permanecer no seu estado puro tal como aconteceram.




Quero dizer-te uma coisa simples: a tua ausência dói-me.
Refiro-me a essa dor que não magoa, que se limita à alma;
mas que não deixa, por isso,
de deixar alguns sinais -
um peso nos olhos, no lugar da tua imagem, e um vazio nas mãos.
Como se as tuas mãos lhes tivessem roubado o tacto.
São estas as formas do amor,
podia dizer-te; e acrescentar que as coisas simples
também podem ser complicadas,
quando nos damos conta da diferença entre
o sonho e a realidade.
Porém, é o sonho que me traz a tua memória;
e a realidade aproxima-me de ti,
agora que os dias correm mais depressa,
e as palavras ficam presas numa refracção de instantes,
quando a tua voz me chama de dentro de mim -
e me faz responder-te uma coisa simples,
como dizer que a tua ausência me dói.


" Ausência", de Nuno Júdice



Imagem: Google


domingo, setembro 27, 2009

Arco-íris da Vida…

 Imagem de Haleh Bryan


Mal toquei no jantar. Uma pequena dor atormentava-me, mas nem queria pensar nela.

Desligara o telefone onde estivera a falar com um dos pintores da exposição do Poem’art e a visita guiada ao Second Life até tinha decorrido bem e animada.

Mas enquanto colocava o jantar na mesa e chamava a Família uma pequena dor tirou-me de imediato a vontade de comer, mas nada disse.

Ajudei a deitar o JP, ainda dorido da queda de há dias, e fui para cima.

Hesitei, mas acabei por desligar o computador e quando me deitei a dor no peito era mais intensa.

Bem, pensei, isto deve ser nervoso e a tensão dos últimos dias… nada que uma boa noite de sono não alivie.

Mas a dor permanecia cada vez mais intensa e quando me arrancou lágrimas tentei chamar alguém mas a voz não me saiu; a pêra da campainha de chamada não estava no sítio quando a procurei e acabei por me encolher toda, puxando o lençol para mim.

A Rita e o Sting aos pés da cama, não se mexiam, contrariamente ao habitual, o que me levou a pensar que eles estavam a sentir que algo não estava bem.

De repente dei comigo a pensar na minha Família e nas consequências do meu desaparecimento. O JP ficaria bem; os meus filhos tratariam para que nada lhe faltasse de cuidados no futuro; os meus filhos são fortes, iriam aguentar o choque; dei comigo a preocupar-me com os meus cães…eles são tão apegados a mim; quando não estou eles nem saem do meu quarto! Que pensariam? Que os abandonei?

A dor continuava insuportável e cada vez me fazia aninhar mais, mas continuei com os pensamentos: uma carta no cofre, escrita há muito tempo e dirigida à minha filha, dava-lhe conta das minhas últimas vontades, até os códigos dos blogues, para ela lá deixar um último poema meu. 
De repente ocorreu-me: “e se ela se esqueceu da combinação dos números para abrir o cofre?” Seria melhor ir abri-lo, mas apesar do esforço não consegui levantar-me.

Lembrei-me então das duas únicas pessoas que estavam zangadas comigo ou eu com elas, já nem sei. 
Como gostaria de lhes dizer que apesar das nossas diferenças continuava a gostar deles e que a zanga afinal nem tinha razão de existir. 
Agora é tarde, pensei. 
Nem uma palavra lhes vou conseguir escrever. Sei que ela saberá, apesar de já não nos falarmos há tanto tempo, sinto que nos preocupamos uma com a outra. Ele, obstinado e teimoso, vai pensar que fiz isto para o massacrar: não é verdade. Afinal sempre lutei pelo bem dele… só que ele nunca o percebeu.

As lágrimas caíam-me e de repente mergulhei numa escuridão total.

Uma claridade imensa desperta-me, sinto que algo me limpa o rosto das lágrimas, abro os olhos e vejo o Sting olhar para mim com aqueles olhitos esperto e aos pulos por cima de mim atrai a Rita que corre para a minha mão que a afaga logo. 

Num pulo salto da cama e corro para o terraço; o Sol envolve-me e a dor da véspera tinha desaparecido. 
Toco em mim e começo a rir-me enquanto agarro o Sting que saltarica à minha volta e começo a dançar com ele.

Resolvi de imediato que tinha outras cartas para escrever e outras directrizes para deixar à minha filha. Afinal ela será a cabeça de casal da minha Família que, apesar de tudo, continua de pé.

São 10 horas da manhã. Apetece-me beber um café. A terrível dor no peito tinha desaparecido por completo e afinal estou viva, muito VIVA mesmo!



(Estes momentos foram reais. Aconteceram na noite de 25 para 26.

Acho que nasci de novo…)

sábado, setembro 19, 2009

Reciclagem

Pintura: Starry Night de Van Gogh


Entre o mar e o rio
não há lugar para promessas
dispersas entre grãos de areia
na invariável limpidez 
do inexplicável silêncio

O tempo entre cada margem é longo
e na passagem por elas
os barcos antecipam
 a voragem dos sentidos

Entre a noção e a razão
existe dor e silêncio
intenso 
como a dimensão do mar
terrível 
como a certeza do abandono

Como sal purificador
fluindo na seiva de nós
afastados que somos 
por sonhos diáfanos 
que se espelham
na incerteza da razão
- reciclagem de tempo-
perdido entre risos de veneno
mordidos língua a língua
consagrando 
o húmus da utopia

Reciclagem de sentimentos
tornada leve
como nuvens brancas de algodão.



quinta-feira, julho 16, 2009

Doçuras de Verão...

Pintura de Nela Vicente




No meu mundo secreto
entre búzio azuis
algas verdes marinhas
invento poemas
soltando meu sorriso
na imensidão do mar
cabelo ao vento
coração a bailar
pés descalços na areia
ao som do violoncelo
eu quero fantasiar

Como mel
- chantilly,
doçura na tua boca
no meu corpo
a cinzelar
teus olhos castanhos
no bico da minha alma
me querem beijar

Tu és fogo
eu sou chama
tu és brasa
que inflama
acordando
o trovão
que em nossos corpos

clama…

quarta-feira, julho 15, 2009

Palavras ridículas…

    Pintura de Estall
O Poeta escrevia:
“todas as cartas de amor são ridículas”...


E o riso morre no coração
Que não derrama amor
dimensão infinita do sonho
contendo toda a grandeza
de um céu invadido de estrelas
no espelho que os deuses esculpiram
na face da lua onde as noites são límpidas
e transparentes como o sonho dos amantes

Eis a palavra que perdeu a memória
e da viagem por todo o universo, ela sente
o afiar dos espinhos que os dedos cobiçam
porque é no sangue derramado
que a palavra se solta
escrevendo o poema num grito do coração. 

segunda-feira, julho 13, 2009

A um ausente...

 Imagem de Ragnes Sigmond


Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o acto sem continuação, o acto em si,
o acto que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
por que o fizeste, por que te foste.


A um ausente" Carlos Drummond de Andrade