sexta-feira, janeiro 25, 2008

Apócrifo a René Magritte


Pintura de René Magritte


Inesperadamente
o súbito
acontece num repente
sem ter em conta a gente.
Pendular
como o cismar
ritmos,

água insalubre,

inconstância feita de retalhos.
"Patch-work"
a encobrir aleatoriamente a alma.

José M. Barbosa in Rosamármore



BOM FIM DE SEMANA

segunda-feira, janeiro 21, 2008

Larguei-te no Mar

Imagem Google

Larguei-te no mar hoje...
soltei as tuas cinzas de dentro de mim
e expus-te ao vento cantante;
ele levou-te mas nunca te espalhou.
Manteve-te na íntegra
a mulher que hoje é passado
e que inteira me renunciou.

Foi melhor assim
e não sobreviverá em mim qualquer mágoa,
mas libertando-te nesta água,
procurando de ti hoje o fim,
compreendo
que se o sol fura o cinzento do céu
só para te ver...
é porque alguma coisa entre nós
ficou por viver...


(Poema de
Rui Diniz)

Larguei-te no Mar in A Voz da Corte
(Desligar p.f. a música de fundo para ouvir o poema)

sexta-feira, janeiro 18, 2008

José Carlos Ary dos Santos (7/12/37-18/01/84)

Lembrar o Homem, lembrando o Poeta…


Ary dos Santos


Fecham-se os dedos donde corre a esperança,
Toldam-se os olhos donde corre a vida.
Porquê esperar, porquê, se não se alcança
Mais do que a angústia que nos é devida?

Antes aproveitar a nossa herança
De intenções e palavras proibidas.
Antes rirmos do anjo, cuja lança
Nos expulsa da terra prometida.

Antes sofrer a raiva e o sarcasmo,
Antes o olhar que peca, a mão que rouba,
O gesto que estrangula, a voz que grita.

Antes viver do que morrer no pasmo
Do nada que nos surge e nos devora,
Do monstro que inventámos e nos fita.


José Carlos Ary dos Santos in Soneto

terça-feira, janeiro 15, 2008

Escritores da Liberdade...

Foi com uma certa emoção que a Menina Marota recebeu do Retalhos de Memórias a nomeação para este Prémio…

É com uma certa nostalgia, que no dia em que Martin Luther King festejaria o seu 79º. Aniversário, se fosse vivo, que recordo todos aqueles que morreram pelas suas convicções, pelo direito de quererem um mundo melhor e que tiveram a ousadia de lutarem contra os opressores, dando por isso a própria Vida...

"I Have a Dream” tornou-se um memorial, para quem acredita no sonho de tornar o Mundo um local de paz, liberdade e prosperidade para todos, e não só, para alguns.

Foi por este sonho, que o mais novo detentor do Nobel da Paz, foi assassinado, em 4 de Abril de 1968…

Um sonho, que tarda em tornar-se realidade, em todo o Mundo, onde cada vez mais, homens subjugam homens, retirando-lhes o direito de manifestarem as suas opiniões, a lutar pelos seus direitos e expressarem em liberdade, as suas convicções.

Até no mundo blogosférico, cada vez mais, impera o medo de manifestar opiniões e já há, quem tenha sido mandado “calar”, por essas mesmas opiniões.

Sociedade.Bloggers,Portugal., InApto e Portugal Profundo, dando estes, como exemplo, já sentiram essa “mão”, a tentar “estrangular” as suas convicções e o seu direito à liberdade de expressão.

E porque quero continuar a acreditar que o sonho comanda a Vida, gostaria que todos os que assim o entendessem, levassem para colocar nos seus blogues, o selo do Prémio Escritores da Liberdade e o dedicassem a quem lutou e deu a Vida por essa Liberdade.


A todos vós...

quinta-feira, janeiro 10, 2008

No Mundo das Palavras...


Imagem Google


Sós,
irremediavelmente sós,
como um astro perdido que arrefece.
Todos passam por nós
e ninguém nos conhece.

Os que passam e os que ficam.
Todos se desconhecem.
Os astros nada explicam:
Arrefecem

Nesta envolvente solidão compacta,
quer se grite ou não se grite,
nenhum dar-se de outro se refracta,
nenhum ser nós se transmite.

Quem sente o meu sentimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem sofre o meu sofrimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem estremece este meu estremecimento
sou eu só, e mais ninguém.

Dão-se os lábios, dão-se os braços
dão-se os olhos, dão-se os dedos,
bocetas de mil segredos
dão-se em pasmados compassos;
dão-se as noites, e dão-se os dias,
dão-se aflitivas esmolas,
abrem-se e dão-se as corolas
breves das carnes macias;
dão-se os nervos, dá-se a vida,
dá-se o sangue gota a gota,
como uma braçada rota
dá-se tudo e nada fica.

Mas este íntimo secreto
que no silêncio concreto,
este oferecer-se de dentro
num esgotamento completo,
este ser-se sem disfarce,
virgem de mal e de bem,
este dar-se, este entregar-se,
descobrir-se, e desflorar-se,
é nosso de mais ninguém.

(Antonio Gedeão in "Poema do Homem Só")

segunda-feira, janeiro 07, 2008

Nós por cá...



Não tinha o propósito de actualizar hoje esta página.
Actualizava, contudo, a leitura de vários blogues, que considero de leitura obrigatória, independentemente de às vezes nem os comentar, dada a minha actual desmotivação para comentar actualidades políticas, especialmente as portuguesas…
Mas ao passar por
aqui após a leitura de textos de múltiplos interesses, uma frase chamou-me a atenção:
“…O ambiente em Portugal torna-se irrespirável para quem quer Verdade e Justiça, Trabalho e Dignidade:…”
De repente, como num flash, muitos dos acontecimentos que marcaram os últimos tempos, passaram por mim.

E recordei, alguns dos nomes, do nosso passado recente, que acreditavam ser possível um Portugal democrático, justo e íntegro, onde os Direitos de cada cidadão não fossem deturpados e esquecidos.

Um destes dias precisei de me deslocar à CGD e, enquanto esperava pela minha vez de ser atendida, chamou-me a atenção a conversa de um grupo, onde se encontrava uma anciã para, como ela própria dizia, "levantar a sua magra reforma".

A conversa gerava em torno do caso Zara/ Millenium BCP, mas depressa passou ao aumento de preços dos bens essenciais, que se iriam fazer sentir e, numa voz triste, a anciã diz, em como esses aumentos, eram muito superiores ao aumento que iria receber na sua reforma e de repente, numa voz firme diz: "Portugal está a saque. Isto está bom é para quem tem grandes tachos!"

Na fila que, entretanto, se tinha formado, falava-se como sussurrando, nas nomeações para o Millenium BCP… e, alguém muito a medo, dizia:
"Se eu lá tivesse dinheiro, tirava-o todo! Preferia tê-lo debaixo do colchão a andar a ser vigarizada desta maneira, já viram como eles vão à nossa conta e retiram de lá dinheiro, sem nossa ordem?"

Sorri. Acho que eu fazia o mesmo, se lá tivesse conta! Há muito que fechei as contas naquela instituição, por isso, nada lhes devo, nem eles a mim, mas recordei com uma certa nostalgia os tempos em que uma instituição bancária era, sem sombra de dúvida, um local prestigiado e de reputação credível.

Recordar a reportagem passada no
"Nós por cá" que a Sic transmitiu recentemente, aliada a todos os episódios do "folhetim" CGD/ Millenium BCP, é colocar em dúvida todo um caminho percorrido de credibilidade e probidade de instituições que, afinal, gerem também, o dinheiro do Povo…
O Homem, produto de si próprio: Cidadania e democracia directa (clicar)


Ou... a forma mais directa de, vozes anónimas, se fazerem ouvir…

terça-feira, janeiro 01, 2008

Iniciar o ano de forma romântica…

Sou uma romântica por natureza e gosto de começar o ano a falar de… Amor.
Por isso sorri, quando abri a minha caixa de correio e li o texto que me tinham enviado. Não tive dúvidas: ele seria o meu primeiro post do ano de 2008.


E aqui o estou a partilhar…

Imagem de Edmund C. Tarbell


"Estejas onde estiveres, nesse mundo fantasia, quero-te nas profundezas do amor e nas intimidades do acto consumado, para que saibas que a paixão é um mero caminho para a consolidação dos corpos extasiados pela magna noção da épica condição do Ser.

Quero-te… despida de preconceitos na magia do luar que abrilhanta a nossa condição de dois amantes da vertente lunática do mundo que gira em movimentos iguais, e nós, em gestos ritmados fugimos a esse mundo em viagens lunares como dois… elementos da terra prometida. Procuramos, em segredo, construir o nosso próprio…paraíso.

Quero-te… sedenta de palavras, as que embalo para oferecer-te como uma flor ou como um castelo para que possas viver nesse mundo principesco das maratonas da fantasia.
Ainda que o tempo, esse marasmo que se apodera das nossas horas perdidas nos afaste dos nossos desejos, nos invada com barreiras reais que a vida nos faz nascer, ainda que os atropelos possam protelar a nossa conquista feita de persistência, ainda assim, quero-te… enquanto souber que poderás existir escondida num corpo qualquer, enquanto sentir que também me queres, Musa vestida de amor, despida pela carícia cor do sol, serás o meu luar das minhas noites de solidão, enquanto o nosso caminho não se cruzar na utopia do segredo em sequências mágicas que adornam o nosso querer.
Quero-te … Musa vestida de poetisa nesse corpo de mulher!"

(Texto poético de Paulo Afonso)

Ouvir o texto no Lugar aos Outros 77