quinta-feira, junho 21, 2007

Sou cobarde...

Imagem Google


Confesso: sou cobarde!

Quem me conhece ou conheceu o meu percurso pessoal e profissional, vai achar estranha esta minha afirmação. Mas é a pura verdade!

Porque desisti, do ideal político em que acreditava quando vi, que sozinha, nada conseguia e juntar-me aos que não professam das minhas convicções, era impensável.

Quem tem acompanhado este blogue ao longo dos seus dois anos de existência, já deve ter percebido que raramente me meto em assuntos políticos, não por achar que está tudo bem, exactamente o contrário, por achar estar tão mal, que não consigo calar a revolta que em mim sinto, mas acabo por calar-me, cobardemente!

Onde está a vergonha neste País?

Quando vejo acusados de corrupção e outras coisas mais, “passearem-se” em capas de revistas e telejornais, com o ar mais divertido e satisfeito do mundo, pergunto-me, onde anda a vergonha neste País?

Por educação que recebi dos meus progenitores, quando alguém era acusado de algo, deveria ser motivo de tristeza e a não ser que se provasse rapidamente a inocência, deveria pôr-se a recato até que essa inocência fosse provada, porque pior que o erro, é a vergonha de não termos vergonha alguma…

Sou cobarde sim, porque me calo quando vejo diariamente as injustiças que se praticam neste País, quando vejo cada vez mais, as pessoas serem despojadas daquilo porque trabalharam anos e anos, o seu direito ao trabalho e à vida digna porque lutaram ao longo dos anos.

Como poderei olhar nos olhos de todos os portugueses, que acabaram de receber uma carta a dizerem-lhes que eles não eram mais necessários no trabalho, que foi durante anos, a sua vida?

Como posso olhar nos olhos dos meus filhos e dizer-lhe que é muito feio e de mau carácter mentirem, não se responsabilizando pelas suas mentiras, se o Primeiro-Ministro de Portugal mentiu e não teve a hombridade de admitir essa mentira e dela pedir desculpas publicamente?

Pelos factos já provados e largamente difundidos, é do conhecimento geral, que a licenciatura do visado, não foi obtida do modo convencional e exigida a toda a gente. Não é isso que agora está em causa (essa é uma matéria, que daria pano para mangas…) mas sim, a forma como foi recusada e negada essa mesma obtenção.

Na passada terça-feira na TVI, ouvi Miguel Sousa Tavares dizer que tinha vergonha de (perante determinada situação) ser Português.

Não! Não deveria ser ele a ter vergonha. Vergonha deveriam ter aqueles que, conseguem provocar situações que permitam tais sentimentos.
Não tenho vergonha de ser Portuguesa. Tenho vergonha sim, de tudo o que se passa de vergonhoso neste País, tenho vergonha que um Primeiro-Ministro (a serem verdadeiras as notícias) leve a Tribunal quem queira saber a verdade e tenha denunciado as mentiras…


Tenho vergonha que possam acontecer no nosso País factos como este…

Carlos Rodrigues Lima no Expresso Online revelou que "José Sócrates apresentou uma queixa-crime contra o blogger António Balbino Caldeira devido ao conjunto de textos que este professor de Alcobaça escreveu sobre a sua licenciatura em Engenharia Civil na Universidade Independente (UnI), apurou o Expresso junto de fonte próxima do processo."
É tempo de dizer BASTA e exigir que os nossos Governantes sejam os primeiros a terem VERGONHA do que estão a fazer a este País.

sexta-feira, junho 08, 2007

Porque o descanso é preciso…



"as canetas secaram, os lápis ficaram esquecidos não sei onde. as borrachas já não apagam a melancolia das palavras, a escrita que inventámos evadiu-se do corpo." (Excerto Al Berto in "O Medo -atrium" pág.12)



Até breve...

quarta-feira, junho 06, 2007

Ai Qing

Imagem de Raymond Depardon



Árvore

Uma árvore, outra árvore...
Separadas umas das outras, de pé, solitárias e erectas;
O vento e o ar
Indicam-lhes a distância que medeia entre elas.
Mas debaixo do solo
As suas raízes penetram pelas entranhas da Terra dentro...
Na profundidade insondável
As suas raízes entrelaçam-se e unem-se entre si.



(Poema de Ai Qing – Primavera de 1940)

segunda-feira, junho 04, 2007

não sabia que a noite...

A primeira das 11 cartas de Marta para Maria e um poema que aqui vos deixo de Graça Pires, retirados do seu novo livro "não sabia que a noite podia incendiar-se nos meus olhos"


Desenho de António Ramos Rosa


"Foram os olhos. Foram os olhos dele, quando pousaram, devagar, sobre os meus olhos, que me trouxeram esta sede até esse momento apenas pressentida. Foram os olhos dele, tão acesos nos meus, que encheram os meus olhos de estrelas e de sonhos e de lágrimas e de pássaros errantes. E juro que pensei: não me importava de ficar cega de tanto o olhar, porque a imprevisível cor de todas as madrugadas ficará, para sempre, intacta no meu peito. Desde então, os meus olhos atraem a nitidez da noite e as aves nocturnas deslizam no meu corpo, para lamber a lua escondida nos meus lábios. Cerro as pálpebras à inquietude da manhã […]"
(Excerto)
Foto da Sandra V. (minha filha)

Quando a véspera
do mais prolongado sossego
me fere a solidão da infância
quero um momento,
apenas um momento,
para que o excesso de luz a prumo
amotine as palavras nos meus lábios
e as confunda com a quietude
urgente da paisagem.
De pulsos iluminados
poiso a voz no fundo da tristeza,
para expor a voz de outrora:
no dia mais bonito
que vier irei, sem rumo algum, ao deus-dará,
procurar um lugar para morrer,
as vezes que eu quiser, até nascer sem dor.


Graça Pires
in "não sabia que a noite podia incendiar-se nos meus olhos"
(Págs 9 (prosa) e 38 (poema)

Capa do Livro

Para quem vive em Lisboa ou arredores, o livro poderá ser adquirido na Livraria A Buchholz ou pedido directamente à autora.
No Porto ou arredores, o livro poderá ser adquirido na Livraria Utopia

sábado, junho 02, 2007

O Peso do Silêncio

Voltando ao tema de divulgação de autores que começaram na blogosfera, continuo agora com a prosa do intro.vertido, deixando um pequeno excerto do seu livro...


Pintura de Wolf Kahn

“ […] Tornámo-nos amigos, ambos sofríamos de solidão. A solidão da grande cidade, onde estamos sozinhos no meio da multidão, onde a comunicação parece fácil mas é mais difícil, a identidade se reduz a um número, a vida se fecha no limite do apartamento. Onde o vizinho não é mais do que isso, nos fica à distância de um “bom dia” ou nem isso, não se sabe quem é, o que faz, o que pensa, o que precisa ou o que lhe sobra, qual a sua própria solidão.
As nossas saídas tornaram-se frequentes. As pessoas conhecidas que se cruzavam connosco sempre faziam um sorriso pensado em algo mais.
- Vês Alberto!... As pessoas têm dificuldade em compreender e aceitar uma boa amizade entre um homem e uma mulher, sem que haja interesse sexual. Faltam outros valores na nossa sociedade. As pessoas pensam demasiado em sexo. O sexo é bálsamo e anátema da solidão.
- Eu tenho pouca paciência para sair com algumas amigas que só sabem falar de compras e lingerie. Se saímos com um amigo, pensam logo que somos namorados ou amantes, o que é pior. E não nos livramos da piada insinuosa, da pergunta sonsa, do comentário, porque as pessoas fazem o que fazem e, da mesma forma, não admitem o direito de cada um ser o que quer. Pratica-se e condena-se a prática.
A cidade é um espaço demasiado pequeno para passarmos despercebidos, sem que tenhamos de nos submeter à crítica e às intenções dos outros e demasiado grande para se conhecerem verdadeiramente as pessoas que nos rodeiam e para comunicarmos com elas sem medo. O medo é um sentimento dominante na aparente liberdade que a cidade nos oferece. As pessoas têm medo das outras pessoas, como se os outros fossem animais de espécie diferente, como se não partilhássemos todos dos mesmos problemas. Têm medo de amar e ser amados. Medo de comunicar. Medo de olhar os outros nos olhos, com franqueza e com um sorriso. Os nossos gestos estão catalogados de carga negativa, de valor pejorativo. Um sorriso que devia ser entendido por cada um como um cumprimento, como um “bom dia” é entendido como uma oferta ou um convite malicioso ao sexo.
É a solidão no meio da multidão […]”
(Excerto)

João Norte in "O Peso do Silêncio" (Pág.116/117)


Imagem da Capa

Nota: Encontra-se aberto no Ora, vejamos...um Concurso de Contos. Basta aceder e… concorrer!

sexta-feira, junho 01, 2007

Ontem...HOJE...amanhã...

2 de Junho de 2006 dizia aqui precisamente o que vos repito HOJE
Imagem de autor desconhecido

Ontem comemorou-se o Dia Mundial da Criança. 
Ontem… as televisões Portuguesas fizeram reportagens mostrando crianças felizes, brincando em parques de várias Cidades… 
Ontem
Hoje

amanhã
no futuro próximo
não se ouvirá falar mais deste Dia, 
que deveria ser todos os dias…
Hoje, muitas crianças continuarão infelizes….
Hoje, muitas crianças não terão pão para comer…
Hoje, muitas crianças irão ser maltratadas e molestadas…
Hoje, muitas crianças continuarão o trabalho de todos os dias…
Hoje, morreram de fome, de doença, de violência, crianças em todo o Mundo.
Hoje… muitas crianças, não têm o direito de serem Crianças…

Porque hoje, amanhã e depois, continuará a ser dia de as crianças serem protegidas, 

deixo aqui a Declaração Universal dos Direitos da Criança


Porque TODAS têm direito a ser


Imagem de autor desconhecido