sábado, maio 26, 2007

DIÁLOGO DE ATHENAS

As palavras são para João Batista do Lago a fonte de todos os sentimentos, por isso não posso deixar de partilhar o poema que dele recebi…



(DIÁLOGO DE ATHENAS
(Réquiem a São Luis)
- Olá, poeta.
Há quanto tempo não nos víamos!

- Que olhares,
Que visões têm da ilha?

- Carrego ainda olhares de Athenas,
Visões de um tempo de querências.

- Ainda bem que podes tê-las,
Pois cá não mais a temos... Tudo é demência!

- Da arte que conhecestes pouca coisa restou.
Hoje há muita miséria, violência e dor,

os jardins da cidade não têm mais flores,
as rosas sumiram, os jasmins secaram.

Sobraram as dores dos desamores
e a cidade poeta virou bandida.

Hoje as almas são dormentes ambulantes
De um bonde carregado de miseráveis,

de miseráveis criaturas sem espaço,
sem rosto, sem fé, vermes sem sacristia,

carentes e tolos viventes de vida sem vida,
sem qualquer guarida de telhados e azulejos,

sem histórias, sem eira nem beira,
sem mar e sem praias, sem sal e sem terra.

Ó, poeta,
as gentes dessa cidade já não têm sol

e nem mesmo a lua flutua em suas almas
para lhes sincronizar a sinfonia de Dionísio,

pois elas perderam o riso da harmonia
e se tornaram almas mortas de agonias.

A cidade, poeta, hoje é “apenas”
alma que pena suas dores e seus horrores,

dissimulada de Athenas sem cantores,
sem poetas, sem poesia,

ilhada no besteirol da vaidade comum
pensada, apenas, na vermelha lama do consumo.

É assim, hoje, a tua ilha: cercada de grilhões
que aprisionam Prometeus nas rochas da ignomínia,

que favorecem os tufões da incompetência
que se sentam à mesa dos poderosos

e diante de um lauto manjar
exigem dos poetas a continência,

exigem toda reverência
para lhes legitimar toda incompetência.

Poeta... Perdemos os telhados.
Todos os telhados perdemos.

Perdemos as sacadas.
Todas as sacadas perdemos.

Perdemos nossas ruas.
Todas as ruas perdemos.

Perdemos nossas fontes.
Todas as fontes perdemos.

Não temos telhados,
nem as sacadas temos.

Não temos ruas,
nem as fontes temos.

Estamos sós... Ilhados estamos.
Perdidos – todos – somos, poeta.





Imagem Google

12 comentários:

Maria Carvalho disse...

Maravilhoso poema que fizeste muito bem em partilhar! Obrigada pelas palavras que me deixaste...beijos para ti.

a d´almeida nunes disse...

Olá poetas
Olá Atenas

2004, Agosto, uma das raras vezes que saí de Portugal, voo de 4 horas, rumo Este, Ilha de Creta. Escala em Atenas, não saímos do aeroporto! Do ar, em voo de aproximação à pista vêm-se as ruínas históricas de Atenas.
Quem pode ficar indiferente a toda a carga mítica envolvente a esta Metrópole?
Será possível que a cidade nos olhe desta maneira, hoje? na altura do poema?
Quero acreditar que as emoções do poema tenham sido somente fruto dum momento!...
Como é possível fazerem-nos a nós, homens de todos os quadrantes, o que o poeta nos transmite?!
Só vendo com os meus olhos!
...
Olá poeta, espero que possas, hoje, olhar Atenas com outros olhares!
Um beijinho, OT
António

João Batista disse...

e não deixe mesmo de compartilhar seus poemas!
nunca entrei aqui, mas ficaria triste se eu soubesse que você tem um poema desses e não nos compartilhou!

meus textos são um pouco diferente desse, mas se você quiser dar uma passadinha lá, sinta-se a vontade!
Beijo!

Unknown disse...

Ver-me publicado em tua "casa" causa-me um orgulho incomensurável, pois sei que tens uma audiência admirável.
Bem seja, Menina Marota!
E que os deuses possam dar-te muita vida para que possamos conviver cada vez mais contigo, e de ti angariar toda amizade e carinho.
Obrigado por tudo.
Beijo-te carinhosamente.

o alquimista disse...

Divinal partilha cara amiga, fiquei com a alma lavada...


Os teus pés são navegantes na espuma, o teu cabelo dança em descuidada ironia, suave viagem de ondulante onda em tua boca, duas sílabas sopradas em mágica melodia...


Bom fim de semana


Doce beijo

Anónimo disse...

A partilha é sempre nobre,neste belissimo poema...

Meu beijo e rastoooo________

Maria disse...

Poema lindíssimo, obrigada por o partilhares também comigo...

Bom domingo

Eärwen disse...

Recebemos por certo um presente quando partilhas conosco este belo poema.

Deixo-te uma pérola incandescente de agradecimento pela visita ao meu mundo.

Eärwen
27.05.07

Bia disse...

belo poema, obrigada por o partilhares "Estamos sós..ilhados estamos. Perdidos todos - somos, poeta."
Grande verdade!
beijo e bom domingo

A.S. disse...

Um lindo poema!
Sabes... quendo venho aqui, não sinto vontade de sair!...


Um abraço...e saudades!

H. Sousa disse...

Caríssima amiga, venho apenas dizer duas palavras sobre o grande poeta João Batista do Lago (JBL), que conto entre os meus amigos, amizade essa que tu proporcionaste. Bem-hajas, pois.
JBL é um caso muito sério da poesia interventiva, daqueles poetas que os regimes despóticos odeiam e tentam silenciar. Porque o poeta JBL é mais do que só poeta, é filósofo e muito culto. Mas ele conta com nosso apoio, teu e meu e de Mhário Lincoln, de Heloísa, Luís Gaspar e tantos outros que o vão conhecendo. Mais poesia do JBL está disponível nos seus espaços e também no meu "Ora, vejamos..." onde se pode fazer o download gratuito do livro "Eu, Pescador de Ilusões" de JBL.
A Menina Marota é, também, uma extraordinária poetisa e espero ter, um dia, o prazer de lê-la em papel. E uma alma muito generosa.
Abraço-vos

Anónimo disse...

Excelente. Já tive o prazer de estar presente numa conferência que ele deu, mas não a propósito de poesia claro.
Cpmtos
J.N.