quarta-feira, maio 30, 2007

Na Tua Vida

 Imagem de Lissa Hatcher





Eu quero ser na tua vida um gesto!
A ternura dum beijo dado a medo
Nem passeata, discurso ou manifesto
Canção de ninar ou de protesto
Um gesto, um simples gesto,
Ou um segredo!
Eu quero ser na tua vida, um ponto!
Ponto de combustão, ponto do prumo
Ponto cardeal ou contraponto,
O ponto final dum texto pronto
Um ponto
Partida ou chegada a qualquer rumo!
Eu quero ser na tua vida o nada!
Ausência total, coisa nenhuma
Vazio absoluto, nada, nada
Nada de porta aberta, escancarada
O nada
Todo brisa, todo bruma!
Eu quero ser na tua vida cheiro!
Forte, que perturba, que inebria,
Mas não de poder ou de dinheiro
Um cheiro de povo
Um simples cheiro
De giesta de serra e maresia!...

Maria Mamede  in Lume
(Pág. 20)
Capa do Livro

domingo, maio 27, 2007

Aos amores!

Fotografia de Jean Jacques Andre



Aos amores!

A vida que tudo arrasta os amores também
uns dão à costa, exaustos, outros vão mais além
navegadores só solitários dois a dois
heróis sem nome e até por isso heróis
Desde que o John partiu a Rosinha passa mal
vive na Loneley Street, Heartbreak Hotel, Portugal
ainda em si mora a doce mentira do amor
tomou-lhe o gosto ao provar-lhe o sabor
Os amores são facas de dois gumes
têem de um lado a paixão, do outro os ciúmes
são desencantos que vivem encantados
como velas que ardem por dois lados

Aos amores!

No convento as noviças cantam as madrugadas
e a bela monja escreve cartas arrebatadas
"é por virtude tua que tu és o meu vício
por ti eu lanço os ventos ao precipício"
O Rui da Casa Pia sabe que sabe amar
sopra na franja, maneira de se pentear
vai à posta-restante para ver quem lhe escreveu
foi uma bela monja que nunca conheceu

Aos amores!

(desordeiros irresistíveis deleitosos entranhantes
verdadeiros evitáveis buliçosos como dantes
bicolores transgressores impostores cantadores)
A Marta, quinze anos, vê na televisão
um beijo igual ao que ontem deu junto do vulcão
faz baby-sitting à espera de parecer mulher
quando é que o amor lhe explica o que dela quer?
Depois da dor, como conservar a inocência?
leia um bom livro, legue as lágrimas à ciência
e parta o vidro em caso de necessidade
deixe o seu coração ir em liberdade

Aos amores!


Sérgio Godinho,
 poeta e cantor português


Muitos vêem o erotismo na poesia de uma forma envergonhada e mesmo aqueles que gostam dela receiam por escusado pudor, afirmá-lo.

O erotismo na poesia, tal como na pintura ou na fotografia, é algo que pode ser belo e transparente de sentimentos e sensibilidades, desde que a sensibilidade de cada um, permita ver a beleza que num todo pode encerrar.

Para aqueles que gostam de sentir o valor do erotismo e das palavras, o Estúdio Raposa acabou de inaugurar um local, onde se prevê que o profissionalismo e a sensibilidade vão andar de mãos dadas, num espaço dedicado a
Poesia Erótica.

Os meu parabéns a Luís Gaspar por esta excelente iniciativa.


sábado, maio 26, 2007

DIÁLOGO DE ATHENAS

As palavras são para João Batista do Lago a fonte de todos os sentimentos, por isso não posso deixar de partilhar o poema que dele recebi…



(DIÁLOGO DE ATHENAS
(Réquiem a São Luis)
- Olá, poeta.
Há quanto tempo não nos víamos!

- Que olhares,
Que visões têm da ilha?

- Carrego ainda olhares de Athenas,
Visões de um tempo de querências.

- Ainda bem que podes tê-las,
Pois cá não mais a temos... Tudo é demência!

- Da arte que conhecestes pouca coisa restou.
Hoje há muita miséria, violência e dor,

os jardins da cidade não têm mais flores,
as rosas sumiram, os jasmins secaram.

Sobraram as dores dos desamores
e a cidade poeta virou bandida.

Hoje as almas são dormentes ambulantes
De um bonde carregado de miseráveis,

de miseráveis criaturas sem espaço,
sem rosto, sem fé, vermes sem sacristia,

carentes e tolos viventes de vida sem vida,
sem qualquer guarida de telhados e azulejos,

sem histórias, sem eira nem beira,
sem mar e sem praias, sem sal e sem terra.

Ó, poeta,
as gentes dessa cidade já não têm sol

e nem mesmo a lua flutua em suas almas
para lhes sincronizar a sinfonia de Dionísio,

pois elas perderam o riso da harmonia
e se tornaram almas mortas de agonias.

A cidade, poeta, hoje é “apenas”
alma que pena suas dores e seus horrores,

dissimulada de Athenas sem cantores,
sem poetas, sem poesia,

ilhada no besteirol da vaidade comum
pensada, apenas, na vermelha lama do consumo.

É assim, hoje, a tua ilha: cercada de grilhões
que aprisionam Prometeus nas rochas da ignomínia,

que favorecem os tufões da incompetência
que se sentam à mesa dos poderosos

e diante de um lauto manjar
exigem dos poetas a continência,

exigem toda reverência
para lhes legitimar toda incompetência.

Poeta... Perdemos os telhados.
Todos os telhados perdemos.

Perdemos as sacadas.
Todas as sacadas perdemos.

Perdemos nossas ruas.
Todas as ruas perdemos.

Perdemos nossas fontes.
Todas as fontes perdemos.

Não temos telhados,
nem as sacadas temos.

Não temos ruas,
nem as fontes temos.

Estamos sós... Ilhados estamos.
Perdidos – todos – somos, poeta.





Imagem Google

quarta-feira, maio 23, 2007

"Meme"...

Mães da Nazaré, fotografia de Jean Dieuzaide


Olhei para a fotografia deslumbrada e um enorme carinho encheu o meu coração de lembranças.

Ao vaguear pelas
Viagens do Oeste os meus olhos ressaltaram de imediato para a beleza da imagem e fez-me recordar outras paragens, em que vi Mães trazerem assim os seus filhotes num equilíbrio perfeito e que sempre me assombrou.

Falo de África, claro… onde as mulheres, para além de os trazerem pendurados por panos à cintura, para terem os braços ocupados com coisas que carregavam, assim traziam os filhos, seguras de que não lhes fugiam.

Menina ainda, acompanhando os meus Pais, de visita a lugares que nem virão nos mapas decerto, pasmava com o equilíbrio que elas tinham, trazendo numa simples cesta, os filhos lá dentro.

Fico grata ao
Luís Eme pelo belo momento que descobri na sua página.

E porque a simpatia da
SeguradeMim me designou para um "meme", que segundo ela própria refere

“…é um "gen ou gene cultural" que envolve algum conhecimento que passas a outros contemporâneos ou a teus descendentes. Os memes podem ser ideias ou partes de ideias, línguas, sons, desenhos, capacidades, valores estéticos e morais, ou qualquer outra coisa que possa ser aprendida facilmente e transmitida enquanto unidade autónoma. Simplificando: é um comentário, uma frase, uma ideia que rapidamente é propagada pela Web, usualmente por meio de blogues. O neologismo "memes" foi criado dada a sua semelhança fonética com o termo "genes".

...mas como sou um ser que nunca consegue fazer na íntegra, aquilo que lhe pedem, e porque em palavras simples, poderei dizer que a Poesia é o alimento da minha alma e a Amizade a força do meu Viver, deixo aqui o meu "meme" em forma de um Poema...

Minha boca só irá abrir-se, se for para sorrir...
Chega de cavar buracos no caminho.
Chega!
Hoje, descobri que posso acalmar meu coração,
mesmo estando próxima de uma erupção.
Velhos hábitos já esquecidos.
Coisas tão pequenas
e tão importantes,
que tinham ficado para trás.
A minha música preferida,
aquele filme que tardava em ver,
sentar-me naquele banco do jardim
e, ficar a olhar o mar...
conversas agradáveis e coloridas,
o mimo dos amigos...um abraço apertado...Ah, como pude esquecer-me disso?
Como?



A minha frase de todos os dias. Ou seja, o meu verdadeiro "meme":

"Não faças aos outros aquilo que não queres que te façam a ti"

Passo o testemunho a: Della-Porther. Graça Pires . Helena Domingues. Lua de Lobos. Viagens do Oeste .

Em tempo: O meu agradecimento especial à Amla do Frag(mo)Mentos II e ao José António do Caracol Caracolas pela gentileza que tiveram para com este blogue e dedico os seus Thinking Blogger Award, a todos os que têm a gentileza de me comentar. 
Obrigada.

segunda-feira, maio 21, 2007

Apesar de tudo...

Imagem de autor desconhecido

Entre nós há um rio intransponível.
Há um muro que impede as nossas vozes,
sustenta a linguagem do silêncio,
e torna os teus lábios impossíveis
no ciciar de seda do vento nocturno

e, apesar de tudo,
os meus braços alongam-se para além de mim
e estão à tua espera

pois não é possível ficar onde se está
despojados de luz, despojados do ser,
impedir o poema quando ele está a nascer!...

Albino Santos in "diálogo de sombras" 
(Pág. 18)

Capa do livro

sexta-feira, maio 18, 2007

Harmonia

Imagem de Lissa Hatcher

A Lua dilui-se na tua pele que suavemente toco,
o Vento beija,
ciumento,
o teu cabelo como um louco...!
À volta,
mil espíritos arfantes sorvem a visão
dos truques mágicos
que aplica em teu corpo a minha mão...

Teu cerne arrepiado, rendido, provado
harmoniza-se com minh'alma,
vê-se transportado,
do que sentimos ao que nos une,
aquele sonho lindo
de sermos um em dois... chorando...

e sorrindo...!
Rui Diniz in Corte d'El-Rei (Pág.27)


Capa do Livro


Para quem vive no Porto ou arredores, o Rui informa que o livro se encontra à venda aqui

quarta-feira, maio 16, 2007

Momentos... que vos dedico...

"Cada um que passa na nossa vida,
passa sozinho, pois cada pessoa é única
e nenhuma substitui outra.
Cada um que passa na nossa vida,
passa sozinho, mas não vai só
nem nos deixa, sós.
Leva um pouco de nós mesmos,
deixa um pouco de si mesmo.
Há os que levam muito,
mas há os que não levam nada.
Essa é a maior responsabilidade de nossa vida,
e a prova de que duas almas
não se encontram ao acaso."

Os meus olhos vagueiam, entre o jornal à minha frente e o mar, enquanto penso demoradamente nas palavras de Antoine de Saint-Exupéry que acabara de ler numa das suas páginas, mas o meu pensamento vagueia ao som das ondas rebeldes e sorrio para mim própria ao reconhecer quão rebelde é também o meu coração tal como este mar que se abre em toda a sua força perante mim.
Tantas marés já passaram perante os meus olhos, umas calmas, outras rebeldes, mas de onde retirei a força, tal como a areia recebe a espuma das ondas, que o mar lhe lança.
Amo o mar. Um dia ele me recolherá, assim está escrito…
No turbilhão da Vida, tal como o mar se me oferece diário, recolho toda a essência que paira dentro de mim.A calma e a rebeldia andam de mãos dadas, fazendo parte de um conjunto que eu aceito, como parte integrante de mim mesma.
Uma onda de emoção percorre-me, quando recordo as pessoas que passaram pela minha vida. Todas levaram um pouco de mim, deixaram também um pouco de si e deixaram marcas profundas, algumas invisíveis, mas que mesmo assim, foram importantes para mim.
É nesse mar de emoção que são as relações humanas, que se produzem os mais diversos sentimentos, sendo a amizade e o respeito, a palavra-chave, no meu entender…
Num mundo real, mas que cada vez tem mais tendência a ser irreal, absorvemos um pouco daquilo que por nós passa.
A indiferença é um sentimento que não cabe na minha alma rebelde, que se comove vezes sem conta, que se dá de forma plena, sem nada esperar em troca.
Quando aqueles que nos olham, não conseguem ver a interiorização dos sentimentos que cada um alberga, porque uma neblina negra cobre a sua retina, nada se pode fazer, a não ser esperar que essa mesma neblina, desapareça de vez.
Julgar sentimentos, julgar formas de estar, só porque se pensa que se (re)conhece nos outros, aquilo que a sua mente quer ver, é algo que não colhe em mim.
Amizade é também estarmos ao lado de alguém, mesmo que em algumas situações não concordemos com essa pessoa. E independentemente da forma como encaramos a Vida, sentirmos em cada momento difícil, a força de lhe dedicarmos todo o nosso afecto.
E porque a minha alma é feita de sentimentos controversos, mas que se unem num fio inquebrável, deixo-vos aqui o meu sincero Abraço, neste mês de Maio…

Fotografia de Clarinda Galante in 1000imagens

terça-feira, maio 15, 2007

O que nos perde

Voltando ao tema proposto no início deste ano, de divulgação dos autores que tiveram a amabilidade de me enviarem as suas publicações (ainda faltam alguns), continuo com um jovem que tem a poesia no coração…
Imagem de autor desconhecido
A intriga
O que diz que disse:
A inveja, a mesquinhez.

São estas as palavras
Que fazem pequeno o português.


Vitor Carvalhais in Luminária (Pág.37)




Capa do Livro

O autor não tem blogue, mas isso não o impede de navegar na blogosfera…

domingo, maio 13, 2007

A Defesa do Poeta

Pintura de Jean Mannheim

Senhores jurados sou um poeta
um multipétalo uivo um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto.

Sou um vestíbulo do impossível um lápis
de armazenado espanto e por fim
com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim.

Sou em código o azul de todos
(curtido coiro de cicatrizes)
uma avaria cantante
na maquineta dos felizes.

Senhores banqueiros sois a cidade
o vosso enfarte serei
não há cidade sem o parque
do sono que vos roubei.

Senhores professores que pusestes
a prémio minha rara edição
de raptar-me em crianças que salvo
do incêndio da vossa lição.

Senhores tiranos que do baralho
de em pó volverdes sois os reis
sou um poeta jogo-me aos dados
ganho as paisagens que não vereis.

Senhores heróis até aos dentes
puro exercício de ninguém
minha cobardia é esperar-vos
umas estrofes mais além.

Senhores três quatro cinco e sete
que medo vos pôs por ordem?
que pavor fechou o leque
da vossa diferença enquanto homem?

Senhores juízes que não molhais
a pena na tinta da natureza
não apedrejeis meu pássaro
sem que ele cante minha defesa.

Sou um instantâneo das coisas
apanhadas em delito de perdão
a raiz quadrada da flor
que espalmais em apertos de mão.

Sou uma impudência a mesa posta
de um verso onde o possa escrever
Ó subalimentados do sonho!
a poesia é para comer.



Poema de Natália Correia


Ouvir o poema na voz de Natália Correia
(Desligar p.f. a música de fundo para ouvir o poema)

quinta-feira, maio 10, 2007

A FEIRA

A versatilidade de Helena Domingues não pára de surpreender-me. Senhora de uma veia poética de excelência, alia a sensibilidade ao humor…por isso não resisti a “roubar-lhe” este poema …


Imagem recolhida da internet por Helena Domingues



Venha, menina, venha
Quem aqui vem
Não se acanha.
Venha que tudo é barato
Desde o chapéu, ao sapato.

Venha aqui à minha venda
Tenho pratas, candeeiros
Vestidos de fina seda
Brincos falsos, verdadeiros
Se não houver, encomenda.

Venha, que tudo lhe dou:
Chita ao metro, ao desbarato
Desde o moderno ao antigo
Cuidado aí com o prato!
Que é do século que passou

Olhe-me aqui estes livros!
De poetas, prosadores
Alguns não são conhecidos
Outros são grandes doutores
(ou tal se julgam) coitados.

Espere aí, não vá embora!
Pois mais tenho p’ra mostrar:
Este espelho biseauté
É rara oportunidade;
Mire-se nele você
Que lhe ofereço essa vaidade

Feira da Ladra (seu nome)
Ela é de todos nós
Que tal, dar-lhe um cognome?
Da vaidade?
Vacuidade?
Que importa?
Se no final
Tudo é inicial
Mais não seremos que pós.

(Poema de
Helena Domingues)

terça-feira, maio 08, 2007

Lugar aos Outros 52



Há precisamente oito meses, dizia aqui expressamente, a propósito do Lugar aos Outros 20, o seguinte:

“São decorridos pouco mais de quatro meses que através do audioblog do Luís Gaspar se iniciou o primeiro programa do Lugar aos Outros, um espaço especialmente criado e nas palavras do seu autor “…onde se divulga a escrita de quem ainda não chegou ao estrelato”.
Hoje cumpre-se o vigésimo programa, onde na voz inconfundível do
Luís Gaspar se lerá mais uma vez, textos e poemas de, na sua maioria, autores de Blogues.
A disponibilidade e o carinho que se verifica em cada programa, de temas diversificados, traduzem o encantamento com que o autor do programa dialoga com as palavras.
É esse incentivo altruísta que quero hoje deixar aqui bem expresso, no agradecimento que faço ao Luís Gaspar, por todo o trabalho e empenho tido na divulgação dos trabalhos daqueles que a maioria das vezes e, como é o meu caso, “escreviam para a gaveta”.”
Decorrido que é o primeiro aniversário ou seja, perfaz cinquenta e duas semanas sobre a primeira edição, de um programa que, na sua essência, se dedicou a divulgar a poesia de autores da blogosfera, quero expressar aqui o meu agradecimento em nome da dedicação demonstrada a todos nós, desejando que nos continue a proporcionar as belas leituras com que nos tem brindado. Parabéns e


Obrigada


segunda-feira, maio 07, 2007



Em mês de aniversário deste blogue cuja inauguração aconteceu, precisamente neste dia... quero agradecer a todos os que por aqui passam deixando um pouco de si, com os seus comentários e afectos.

Alguém me chamava a atenção um dia deste, que o contador acusava a entrada de 120 000 visitantes, sem que tivesse sido referido o facto e porque não usava este blogue, o famoso "site meter" para saber quem eram os visitantes...

A verdade é que, é muito mais importante para mim, a partilha que comungo, os afectos que dedico e me dedicam, que os números do contador e até do tal "site meter", que nunca tive nem terei, neste ou noutros blogues, por uma questão muito simples: a minha ligação aos blogues, está mais na partilha que faço, do que na preocupação de saber, quem entra ou sai.

Mas hoje e para satisfazer o meu prezado amigo que se assina J.N (não quer que divulgue o seu nome e respeito isso) que quer saber, quantas postagens tenho ao longo deste blogue, direi que em 24 meses, 240 postagens é mais que suficiente para me deixar muito feliz pela partilha que aqui consegui, não obstante os interregnos que tenho feito pelo meio.

Já por diversas vezes tenho partilhado, aquilo que por vezes me vão deixando despretensiosamente nos comentários, mas que engloba num todo, todo o carinho que sinto, vindo daqueles que por cá passam.

Partilho hoje um poema que foi “construído”, tendo por base palavras minhas e que foi deixado, anonimamente, num comentário.

Ao seu autor, os meus agradecimentos.

O meu abraço e o meu grande afecto e a todos dedico, estes dois anos de vida do Menina Marota…


Pintura de Washington Maguetas

Oh, meu Amor, nas noites de insónia..É vão o teu desejo, quente, do meu beijo...e, igualmente vão o desejo,de eu ficar indiferente, ao chamamento,
ardente do coração!Calada, magoada...os sentimentos em turbilhão...
O nosso amor, jamais esquecido,o meu amor...o teu amor, nesta teia que nos une...Nos funde e confunde ...
Foi doçura, é plenitude.Amadureceu...Foi loucura. É loucura!O (re)encontro de um "EU"
Frenético, tantas vezes patético,alucinante!... delirante...Soube há aragem, algo selvagem,de pinheiros, agrestes, da selva...
À brisa do mar, à seiva das plantas...À velocidade da distância, ao lugar...que percorreste sem pensar...Sem saber... que existia, sequer!
Esquecer-te? Não ouso!Esqueceres-me? Jamais!...Jamais será possível!Quem ama não esquece!...
Reconhece...
O homem do espelho... à noite, ao luar!

Quer queiras ou não, a verdade aparece...Viverás na saudade de - de nós...
Um Amor feito de palavras,de nós, e amarras,de sons... de doces afagos, nos gestos vagos...parados, na ética imposta ...
E...
Do meu olhar, de negrume,no teu olhar...maresia.. perfume.De corpos suados, de tão desejados...de beijos molhados...calados... não dados.
Do teu corpo, em pensamentos,dentro do meu... colado!Fundido... Um só.
Sexto sentido..
(Re)encontrado de si...
De vidas passadas... de outros momentos.
Esquecer-te não será fácil. Não ouso tentar!Esqueceres-me também não! Não queres ...
E, sempre que a luz do poente,vermelha se acender, lá longe no final do dia,vais pensar que sou eu, (e sou)...Porque o teu coração, conhece...quer queiras ou não, aquele que ama ...
Lembrará sempre, o encantamento,desta paixão, e de cada momento,de um Amor que foi teu!...Que jamais se perdeu...
Porque habita para além do Céu....
Na Montanha mais alta da convicção.

(Sinfonia a Quatro Mãos)
Autores: MM e anónimo


Adaptação do poema… e por falar de Amor…(As cores correspondem a cada autoria…)

sábado, maio 05, 2007

Apetece...


Fotografia de Howard Schatz


apetece por vezes com os dias morrer por um pequeno
instante e deixar os fogos soltos na areia. acrescentar
água à face e perturbar os sentidos em busca da única
luz ou então sentir os movimentos e escrever a uma

amiga. dizer assim como quem fala: que espécie rara
de deus é o teu? a vida é ficar abraçado às dunas
apenas se há dois braços de areia por quem sonhar.

vir então aos poucos contando os mastros do verão
cumprindo o desejo das cartas de mar e assim mesmo
confundir todos os relógios da rota apenas para ter

mais tempo para ficar. o resto é saber o alfabeto de
cor até ao fim para que as palavras vão nascendo
devagar até ser sonho no sono dos dias ou ser sono
dentro de mim

(Poema de João Luís Barreto Guimarães)

terça-feira, maio 01, 2007

E no olhar jorra a alma do Poeta...

Apesar da chuva torrencial que se fez sentir durante toda a viagem, o sol brilhava quando cheguei ao meu destino, como que a dar-me as boas vinda, feliz com o meu encontro com a Helena Domingues .

O encontro com o Poeta, foi algo que não mais vou esquecer. O brilho do seu olhar, realçado pela brancura cor de neve dos cabelos, só era realmente ultrapassado, pelo sorriso e pela forma carinhosa como nos recebeu e falou da sua obra.

Fomos surpreendidas pela chegada de Eugénio Montejo, um dos principais poetas venezuelanos de finais do século XX, que animou ainda mais o Poeta.

Foi vê-lo a ler e explicar a sua poesia de olhos brilhantes, com uma mente assaz lúcida e uma memória incrível. De um humor fino, galanteador, foi uma estrela que brilhou durante a tarde, com a alegria expressa no rosto, enquanto lia poesia com voz suave ou nos mostrava os desenhos que fez questão de oferecer amavelmente, a cada um de nós.

António Ramos Rosa, com toda a simplicidade, falou-nos do que achava da política actual, dos seus poemas, dos escritores que o influenciaram, da ajuda que gostava de dar às jovens editoras, do relacionamento com o mundo exterior...

Uma tarde, em que a alegria e a boa disposição imperaram e na hora da despedida, fez-nos prometer que voltaríamos.

Até um dia destes, Poeta…








O teu canto vem da raiz das lágrimas
e embora plangente é uma coluna de ouro
que reúne o fogo e a água
e respira o azul do céu
propagando a alma do desejo e a sua luz submersa

Arde porque atinge a altura viva
e treme na sua nudez como uma estrela
adolescente
que descobre ascendendo a sua trémula fidelidade
e um misterioso centro onde as ondas são asas
e as sombras levantam as mãos para o puro espaço
da correspondência visível a um coração imerso
na invisível matéria sob uma chuva errante
que reúne as idades entre o meio-dia e a meia-noite
numa profunda rosa ou numa lua selvagem
que exala o odor dos antiquíssimos segredos de
um reino submerso



Poema de António Ramos Rosa


António Ramos Rosa e MM