sexta-feira, dezembro 09, 2005

Os cinco sentidos...


São belas – bem o sei, essas estrelas,
Mil cores – divinais têm essas flores;
Mas eu não tenho, amor, olhos para elas,
Em toda a natureza
Não vejo outra beleza
Senão a ti – a ti!

Divina – ai! sim, será a voz que afina
Saudosa – na ramagem densa, umbrosa.
Será; mas eu do rouxinol que trina
Não oiço a melodia,
Nem sinto outra harmonia
Senão a ti – a ti!

Respira – n' aura que entre as flores gira,
Celeste – incenso de perfume agreste.
Sei... não sinto, minha alma não aspira,
Não percebe, não toma
Senão o doce aroma
Que vem de ti – de ti!

Formosos – são os pomos saborosos,
É um mimo – de néctar o racimo:
E eu tenho fome e sede... sequiosos,
Famintos meus desejos
Estão... mas é de beijos,
É só de ti – de ti!

Macia – deve a relva luzidia
Do leito – ser por certo em que me deito.
Mas quem, ao pé de d, quem poderia
Sentir outras carícias,
Tocar noutras delícias
Senão em ti – em ti!

A ti! ai, a ti só os meus sentidos,
Todos num confundidos,
Sentem, ouvem, respiram;
Em ti, por ti deliram.
Em ti a minha sorte,
A minha vida em ti;
E quando venha a morte,
Será morrer por ti.


(Poema de Almeida Garrett)

28 comentários:

Anónimo disse...

Sexto sentido à procura da perfeição. Boas escolhas... tanto do quadro como do poema. Bom gosto!

Isabel Filipe disse...

Foi bom reler, este sempre belo poema.

Tem um bom fim de semana.

beijinhos

Freddy disse...

Só falta a música do Sérgio Godinho...

Beijitos da Zona Franca

deep disse...

como o mundo carece de alma ao nosso olhar...mesmo de sentido apurados...um abraço

Manel do Montado disse...

(...) Mas quem, ao pé de d, quem poderia
Sentir outras carícias,
Tocar noutras delícias
Senão em ti – em ti! (...)

Verdadeira paixão e amor dedicado, apesar de A. Garrett não ser dos meus preferidos até pela definição que dava de povo e plebe, aliás, parte da sua aspiração a ser nobre.

(…) Garrett definirá o povo como «aqueles que por seu talento ou valor, ou importância adquirida, ou herdada, por todos quantos pelo merecimento, por cabedais, mérito pessoal, se elevaram em consideração da massa geral a todas e qualquer proeminência social», continuando a figura das letras portuguesas que «o resto era plebe» (..) O Povo a que AG se refere é a burguesia ascendente.

Um beijo pela escolha quanto ao sentido poético, não tanto quanto ao autor.
Outro beijo pelos momentos sublimes que proporcionas.
Bom fim-de-semana.

Anónimo disse...

:) cont. aki a ver dos mais belos poemas dos nossos melhores autores

VdeAlmeida disse...

Eu cá não morria por ninguém :)
Brincadeira! Morria pois
Beijinho grande

Su disse...

belo poema

"A ti! ai, a ti só os meus sentidos, / Todos num confundidos,/Sentem, ouvem, respiram;/Em ti, por ti deliram."

jocas maradas

JL disse...

Garret tem poemas lindíssimos. E o seu estilo é inconfundível.
Beijos e bom fim de semana

lique disse...

É tão raro encontrar Garrett, aqui na blogoesfera! Foi uma surpresa muito agradável!
Beijinhos e bom fim de semana

Anónimo disse...

Passei para te desejar um bom fim de semana, e gostei do poema. Os sentidos falam de tudo!

Anónimo disse...

Grande POETA !!!!
Bom Fim de Semana.
Bjs.

LUIS MILHANO (Lumife) disse...

É sempre com prazer que aqui temos passado.Iremos fazer uma paragem no "Beja" mas voltaremos.
Grato pelas tuas visitas e comentários.

Votos de Boas Festas.

JL disse...

Vou ficar por aqui uns minutos só para ouvir a música. É linda!

Anónimo disse...

A conjunção imagem, poema de Garrett e música, três motivos de encantamento para os entidos! Bom fim de semana!

Anónimo disse...

Já não passava por aqui há algum tempo. é uma delicia ler, ficar em silencio e sentir as palavras do poeta. Bom fim de semana e...passa pelo meu cantinho e vota nas cartas ao Pai Natal :)

wind disse...

Bonito e algo triste este poema de Almeida Garret. beijos

Anónimo disse...

Muito boa esta lembrança do Garrett. Cumpts.

Anónimo disse...

Já há algum tempo que não leio Almeida Garrett e foi agradavel hoje e aqui fazê-lo. Beijinhos, Menina Marota.

Amaral disse...

Dá gosto ler e reler.
"Em ti a minha sorte,
A minha vida em ti;
E quando venha a morte,
Será morrer por ti."

Peter disse...

Apreciei a imagem escolhida.
Bom Domingo.

Anónimo disse...

uma agradavel surpresa encontrar aqui Almeida Garrett!!!

adorei a imagem e a musica!
um beijinho

Anónimo disse...

Olá! Muito bom ter descoberto este teu cantinho.
Adoro poesias e escritos que falam de nobres sentimentos... Aprecio obras de arte.
Bjinhos
Ceiça
http://violetwitch.weblogger.com.br

Luis Vidal disse...

Um excelente poema de Almeida garrett no enquadramento de uma lindíssima foto.
Boa semana!

António disse...

Garrett apaixonado!
Garrett o primeiro (talvez o maior romântico da literatura portuguesa, dizem).
Confesso que não sei nada de Letras nem de literatura mas, para mim, só houve um escritor verdadeiramente romântico - Victor Hugo!

Obrigado pela visita à padaria da minha bisavó Joana.
E constato que não só não te mostraste impressionada com a matança do reco (ao contrário da maioria das senhoras que aqui comentaram) como ainda tiveste o pensamento maquiavélico de imaginar o meu bisavô sem cabeça.
Ah!...mulher de coragem!

Beijinhos

Anónimo disse...

se não cantarmos o amor, a paixão, o que nos resta?...Um beijo, "gemea" marota!!!

Luís Monteiro da Cunha disse...

Xiiii!!!! Agora reparo como tenho andado arredado de ti, cara amiga!
Desculpa-me... sim?. Tanto para ler e neste momento não posso. Voltarei com mais calma. Prometo.
Passei apenas para te agradecer o facto de teres sido a minha cicerone no sábado na festa... Foste sublime. Ficas no meu coração, (já estavas, mas agora cimentaste ainda mais), pela tua delicadeza e amizade. Um enorme beijo de gratidão deste simples Bufagato.

almadepoeta disse...

Bom encontrar um poema de Almeida Gerrett, ultimamente é raro encontrar um poema dele divulgado neste mundo de poesia virtual.
Beijinho