sábado, outubro 15, 2005

Retrato

Imagem daqui


  Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
A minha face? 



Poema de Cecília Meireles in "Retrato"

22 comentários:

Anónimo disse...

Bem ilustrado este poema, que aqui hoje reli. Beijinhos.

Anónimo disse...

Menina marota era eu... que hoje me identifico plenamente com este poema.O tempo passa correndo e assim perdi minha face num espelho.Lindo este teu post.Aqui me perdi por momentos.Aqui voltarei. Editelvina.

Anónimo disse...

Esta música...ah!pois,tem uns pozinhos de perlimpimpim,hum...e,claro...náo li o que escreveste,vou ler,agora!ah!mas tiro a música..só um bocadinho,ok?
girassol

Wakewinha disse...

O teu rosto não se perdeu, antes se reinventou! Porque traz em si toda a tua experiência, tudo aquilo que tu és, de bom e de mau... O teu rosto és tu, em toda a tua plenitude! =)

Amei o poema...

E aqui te deixo um beijo demasiadamente terno para te arrancar um sorriso neste que espero ser um bom fim-de-semana para ti!

(Adorei a música aí do lado. Muito mesmo... De quem é?)

André L disse...

Transcrevo outras palavras dela que adoro vivamente "(...) Em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção ou o sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha personalidade.". Ela realmente tem uma personalidade cativante. Um retrato sem igual. Gostei.
Bjos e resto de bom fim de semana

Anónimo disse...

... no espelho d'um tempo que se perdeu numa esquina qualquer...
Um beijo, amiga.

Raquel Vasconcelos disse...

Ah Caramba!
É isso mesmo que por vezes sinto!Que grande escolha!

Um beijão...


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Em que ano ficou a minha face sem sulcos, cheia de sorrisos e tenacidade? Em que dia deixei entrar em mim o vento frio do Outono? Ou perdi a cor dourada da Primavera, o brilho no olhar que agora é apenas uma quimera?
Qual foi o pesadelo em que me afundei e me esqueci de acordar a tempo de não sentir as vergastadas do medo? Toca despertador... hoje não te lanço pela janela, hoje ao primeiro segundo abrirei os olhos... Quero esgotar cada pedaço de tempo. Acorda-me... Urgentemente!

José Gomes da Silva disse...

Como tu disseste uma vez no "Montado", por vezes, após ler os comentários, sentimos que foram ditas algumas coisas que gostaríamos de ter dito, mas chegámos tarde (não o disseste assim exactamente). Por isso subscrevo inteiramente a filosofia da "reinvenção" da Wakewinha, ao mesmo tempo que digo: De cada vez que nos olhamos ao espelho, encontramos sempre uma mudança, ainda que o espaço entre as observações seja de um minuto, de um segundo, apenas.

Mas aquele "rosto de hoje", aquele rosto daquele dia, surgir-nos-á sempre, hoje ou amanhã. Por isso resta esperar a todo o momento por ele, talvez com um sorriso, tentando enganar o espelho, se ele deixar...

Bjs

Anónimo disse...

As vezes é preciso que nos percamos de nós mesmos para podermos refletir a respeito do que somos e do que queremos. Perder-se não é o fim, é apenas um motivo para um novo recomeço.

Abraços

José Gomes disse...

Que bom encontrar-te por aqui!
Para entrar no teu blog vou ter que fazer um curso!!!
Quando é que nos encontramos?
Um abraço nosso e espero que o vírus já tenha ido passar férias para outro lado.
Um abraço nosso.
(Manda-me o ficheiro desta música, pf).

Tino disse...

Excelente escolha de imagens e palavras,não só neste post como em todos os que li.

lique disse...

Ai, que este poema da Cecília Meireles faz-me ficar tão nostálgica... De tudo o que já fui. Parece ontem. Mas, na verdade, a vida é todos os dias. E nós acumulamos vida ao longo dos anos. Visto assim, não parece tão meu! :))
Beijinhos e uma boa semana.

Anónimo disse...

Ficou perdida nas molduras das fotos de outrora... Como em todos nós, infelizmente. Mas há que ter saudades do que ainda se vai viver!

Anónimo disse...

Olá: Todos nós fazemos a mesma pergunta:))Gostei muito.
beijo imenso

LUIS MILHANO (Lumife) disse...

Retrato dum tempo, de momentos duma vida, do bom e do mau que passou e deixou indeléveis sinais.

Beijos

Dameuntango disse...

_Obrigado pela visita e pelas palavras...

Entretanto fiquei a saber da nossa ligação ao Direito...

Abraço

A. Bandeira Cardoso

almaro disse...

A imagem do espelho, já não é a nossa, a nossa é sempre a que ainda não se formou no espelho, é essa que nos faz ir e que nos abraça a vontade de existir. Não as cores do espelho! O novo é o que nos movimenta o desenho, o pincel, o Ver. Na última onda, no último respirar, está o Começar. Eu não tinha o rosto de hoje, porque hoje me descobri…
Um beijo

Amaral disse...

O rosto de hoje perde a doçura e o fresco de ontem, mas possui à sua volta a mesma grandeza da consciência daquilo que É. Podem os olhos ser mais vazios ou o lábio ser mais amargo. Ninguém dá pela mudança, quando a mudança acontece no silêncio de quem sente...

Anónimo disse...

:) a vida encarrega-se de nos fazer mudar :) beijos

maresia_mar disse...

Olá,
o poema é lindissimo... mas eu apesar de gostar do que fui também gosto do que sou, nada melhor do que a gente habituar-se aos vários rostos, nas várias étapas da nossa vida!! Uma boa semana

wind disse...

Um dos poemas mais reais de Cecília Meireles,. Chega a causar uma certa angústia. Bonita imagem:) beijos

Unknown disse...

Muito lindo!! Eu não conhecia sinceramente...Há muito de nós neste poema... Muitas vezes nos perdemos e não sentimos..
Onde fomos parar? Onde está aquela menina que um dia fui? Ou ainda sou?
Seu blog é 10!!!
Beijos!