sábado, julho 30, 2005

Um carinho para vós...

Imagem da Annie Hall



O que é bonito neste mundo, e anima,
É ver que na vindima
De cada sonho
Fica a cepa a sonhar outra aventura...
E que a doçura
Que se não prova
Se transfigura
Numa doçura
Muito mais pura
E muito mais nova...


(Poema de Miguel Torga)

A todos com todo o meu carinho... um bom fim de semana...

quinta-feira, julho 21, 2005

Jeito de amar...

Imagem daqui




O meu amor por ti é feito de renúncia
pois teu olhar já não poisa em mim.
Todo o carinho tem na boca uma pronúncia
para que tu difiras meu afecto assim

Eras a minha esperança e fé,
tudo o que sempre quis,
mas olhas-me como és, em amnésia,
alheio a mim e ao meu sorriso feliz.

Teus lábios não tocam a minha carne
nem a dançar rocei por ti meu corpo veemente;
de ti, apenas um parco olhar vago,
de dedos mornos sobre a minha mão quente.

Meu coração entrega-se em delírio
a um amor que a terra pisa
porém esta paixão é um martírio
que friamente medes e analisas.

Eis o conflito que a razão sublima
com meu desejo dou também a minha alma
se aos poucos ficas com tudo o que tinha
o que fará com que meu coração se acalme?

Que se fine a vida que eu procuro em vão
num voo leve, azul da cor do mar,
se um dia eu perder este jeito de te amar.




(memórias de mim...)

sábado, julho 16, 2005

Cada movimento em mim...





O sol aquece meu peito,
o vento chega,
ocupa o seu lugar.

As folhas caem na
busca de um voo eloquente...
e as nuvens negras,
se unem para me abraçar

Um frio tímido diz "olá".
calo-me quieta
deixo-me observar,
em cada movimento,
de tudo o que existe em mim
e de tudo o que não existe



Imagem de Isabel Filipe daqui

quarta-feira, julho 13, 2005

Carta a uma amiga ausente



O Sol acordou brilhando no horizonte. Bateu nos vidros e qual invasor sem intenções, invade-me o aposento com os seus leves fios clareando o negro da escuridão. Os seus reflexos são intensos, dando uma cor difusa que se reflecte nas paredes.

Penso em ti, amiga. E penso na falta que me fazem as tuas palavras serenas, doces, que muitas vezes me soltaram lágrimas silenciosas. Nelas, esquecia-me de mim, absorvendo a tua dor e esquecendo alguma minha.

O vento atrai tempestades, esse vento da noite, que derruba estrelas, vento que gela por vezes o meu corpo, vento de ira, vento que transforma um pequeno grão de areia, em pedra dura... vento que sempre volta, para lembrar a saudade e avivar a dor...vento que enlouquece a tempestade que se adivinha, nas ondas gigantescas deste mar que é a Vida.

O dia surgiu e tornou o silêncio negro da noite mais claro. O silêncio está sempre presente, ele envolve-nos com a sua melodia, mas é preciso saber escutá-la, tal como os nosso olhos descobrem o arco-íris...

O princípio e o fim do arco-íris é a brisa quente que me devolve a saudade de te "ouvir" aqui... numa canção doce e suave...


Onde quer que estejas, recebe o meu sorriso e o meu abraço

quarta-feira, julho 06, 2005

Poesia Portuguesa

René Magritte - Imagem daqui



Chorosos versos meus desentoados,
Sem arte, sem beleza e sem brandura,
Urdidos pela mão da Desventura,
Pela baça Tristeza envenenados:

Vede a luz, não busqueis desesperados,
No mudo esquecimento a sepultura;
Se os ditosos vos lerem sem ternura,
Ler-vos-ão com ternura os desgraçados:

Não vos inspire, ó versos, cobardia
Da sátira mordaz o furor louco,
Da maldizente voz a tirania:

Desculpa tendes, se valeis tão pouco;
Que não pode cantar com melodia
Um peito, de gemer cansado e rouco.


Poema de Manuel Maria Barbosa du Bocage

segunda-feira, julho 04, 2005

A Rosa de Hiroxima

Não chores por mim,
chora por aqueles que não olharam os meus olhos,
porque não têm olhos para olhar…
Não chores por mim… que eu já parti.

 * Foto de Kevin Carter


Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexactas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioactiva
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atómica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada

(Poema de Vinícius de Moraes)



* Com esta impressionante fotografia, Kevin Carter, fotógrafo Sul-Africano, ganhou o prestigiado e almejado prémio Pulitzer em 1994.
Passados alguns meses, com um grande sentimento de culpa, por não ter ajudado a menina, Kevin Carter suicidou-se...

sexta-feira, julho 01, 2005

Poema solto...





Não nos bastava
o desejo do som,
do sussurrar,
do sentir
uma voz quente,
flutuante,
imaginar...
minhas mãos,
no teu corpo,
sonhar...
roçando minha
pele macia,
de encontro
à tua,
sentir teu suspiro,
levemente arquejante,
tuas palavras meigas
que me puxavam
ao desejo,
à entrega
daquele momento.
Mas,
O sonho se desfez.

Uma porta se abre,
uma luz acende.
A magia quebrou!
É clara a realidade.

Foi somente um sonho...


Arte de Olga Sinclair